Havana, 6 fev (Prensa Latina) A trajetória de Camilo Cienfuegos se destaca como das mais importantes para a Revolução cubana, sua coragem na luta e lealdade a Fidel Castro é recordada hoje ao se cumprir 85 anos de seu nascimento.
Segundo os historiadores, a Guerra Civil Espanhola marcou a consciência do jovem Camilo Cienfuegos, mas o assalto ao Quartel Moncada por Fidel Castro e um grupo de jovens, o Movimento 26 de julho de 1953, fixou nele – que então estava nos Estados Unidos – a vontade expressa de se unir a eles na luta pela independência definitiva de sua pátria.
Não foi fácil para o célebre patriota, nascido no atual município central 10 de outubro, chegar ao líder guerrilheiro cubano, que aceita inclui-lo entre os 82 expedicionários do Iate Granma, graças à insistência, entre outros, de seu irmão Raúl Castro.
Desde o início da luta, ‘Camilo’ se destaca por seu valor, ousadia e coragem, já no ataque ao Quartel de La Plata, no combate de Ribeirão do inferno ou no ataque ao Quartel de Uvero.
Nas palavras de um de seus companheiros de luta já falecido, Orestes Guerra, Camilo era um homem afável, extrovertido, mas com uma coragem indescritível que manifestou em inumeráveis ocasiões.
‘Camilo foi um homem em todos os sentidos. Era sociável, brincalhão como todos os cubanos, mas muito valente, sempre quis as ações mais difíceis e arriscadas, é por isso que ganhou a confiança de Fidel e o respeito de toda a tropa’, ressaltou Guerra no documentário ‘Simplesmente Camilo’, de Mundo Latino.
Na sua opinião, a humilde origem social de Camilo, alfaiate de ofício, seu temperamento jovial e sorriso franco, o erigiram como um dos mais carismáticos e confiáveis dirigentes do Exército Rebelde.
Exemplo disso foi expresso no artigo ‘Camilo Cienfuegos: O homem dos mil episódios’, do falecido jornalista cubano Guillermo Cabrera.
No mesmo, o ex-diretor do Instituto Internacional de Jornalismo José Martí conta vários episódios da ação do lendário combatente na Serra Maestra, em Yagüajay, ou na própria capital do país.
Cabrera recorda como um dia, em plena montanha do oriente cubano, chega até aos rebeldes Rafael Verdecía, camponês do local, ao encontro de Camilo, que ao vê-lo com seu chapéu, de brincadeira, o tirou e provou para se ver em um espelhinho e lhe disse dando uma piscadela antes aos seus companheiros:
‘Ouça garoto, em você esse chapéu não fica tão bem como em mim, ponha este boné’, o camponês surpreso lhe respondeu: ‘está bem, o levarei para casa’ e assim chegou a Camilo esse traje que lhe distinguiu sempre.
Além disso, o também guerrilheiro e jornalista William Gálvez narra que uma vez o legendário Comandante visitou o posto médico do Exército Rebelde na localidade de Hombrito e comentou sua preocupação de extrair um dente com o também legendário herói e médico argentino-cubano Ernesto Che Guevara.
‘Como é possível – lhe disse William – se Che é médico e seguramente não vai doer?, ao que Camilo respondeu: ‘Não, não é porque me doa, mas porque esse ‘mata-sãos’ certamente pode me tirar um bom e não o ruim’.
Assim era Camilo, atrevido, valente, o único capaz de caçoar com o Che, reconhecido por sua seriedade e rude caráter, ainda que com ele abrisse uma exceção, talvez, como posteriormente confessou, porque um belo dia no meio da guerra perdeu sua mochila com sua comida e foi Camilo quem compartilhou com ele a única lata de leite que tinha.
E se a amizade com o Che foi entranhável, também o foi com Fidel, que reconheceu suas habilidades de militar e chegou a tê-lo como seu homem de confiança nos momentos mais difíceis da guerra.
Primeiro foi promovido de soldado a tenente, e chefe de vanguarda da coluna do próprio Fidel em março de 1957, sete meses depois é promovido a capitão da vanguarda da coluna de quem foi seu principal mestre guerrilheiro, o Che.
Foi tanta a confiança do líder dos ‘barbudos’ nele, que Camilo se converteu no primeiro chefe guerrilheiro que combateu com positivos resultados o exército da tirania fora do cenárioNATURAL da Serra Maestra.
Pouco depois, em 16 de abril de 1958, foi promovido a Comandante e a chefe da Coluna Dois Antonio Maceo. Em agradecimento, oito dias mais tarde escreveria a Fidel:
‘Ao receber tão alta honra e responsabilidade, juro cumprir plenamente tal cargo e trabalhar até o limite de minhas forças para acelerar o triunfo da Revolução’…
Seguidamente acrescentou: ‘Obrigado por dar-me aOPORTUNIDADE DE SERVIR a mais esta digníssima causa pela qual estarei disposto a dar a vida e de ser mais útil à nossa sofrida Pátria. Será mais fácil deixar de respirar que deixar de ser fiel a sua confiança’.
E assim foi, porque graças a essa confiança saiu vitorioso nos combates em Vega de Jibacoa e Las Mercedes, ou na tomada de Yagüajay, Sancti Spíritus.
Ali Camilo e seus homens dominaram mais de 350 soldados bem armados que defendiam o quartel da tirania, o que lhe permitiu ganhar a alcunha de ‘O Herói de Yagüajay’.
Junto a Che e a coluna Ciro Redondo reeditou a proeza dos mambises na Guerra de Independência com a invasão ao ocidente em 1895, a qual também influiu na fuga de Fulgencio Batista e seus comparsas em 1 de janeiro de 1959.
Um dia depois, após receber a ordem de Fidel, Camilo tomou a principal fortaleza inimiga na capital do país, o Acampamento Militar Columbia, declarado seis dias mais tarde como Cidade Escolar Liberdade, atual Universidade das Ciências Pedagógicas Enrique José Varona.
Na então instituição militar, Camilo recebeuA CHAMADA CARAVANA da Liberdade comandada por Fidel, que no ato de boas-vindas corroborou sua confiança nele ao perguntar no meio do discurso que fazia ao povo: Vou bem Camilo? Ao que este respondeu: Vai bem Fidel!
Embora esse capítulo seja digno de rememorar, o é muito mais aquele episódio ocorrido no então estádio do Cerro, hoje Latino-americano, quando ao se planejar uma partida de beisebol entre aEQUIPE da Polícia Nacional Revolucionária e os Barbudos, se especulava que pelos primeiros lançaria Camilo e pelos segundos Fidel.
No entanto, quando o também conhecido como ‘Senhor da Vanguarda’ entrou em campo o fez com o uniforme dos Barbudos e um mascote de receptor.
Ao dirigir-se aos jornalistas alfinetou…’Eu não estou contra Fidel nem em um jogo de pelota’, o qual ficou como uma das expressões de lealdade mais célebres na história da Revolução.
Esse e outros tantos episódios fizeram com que Camilo ganhasse o respeito, a admiração e o carinho do povo, que chorou e recorda de maneira especial seu desaparecimento físico em 28 de outubro de 1959, depois de cair no mar o avião que o transportava de Camagüey a Havana.
Após vários dias de infrutífera busca, o então primeiro-ministro do Governo Revolucionário, Fidel Castro, confirmou a triste notícia.
Em suas palavras, o Comandante em Chefe da Revolução manifestou os valores heroicos de seu companheiro de luta:
‘Homens como Camilo Cienfuegos surgiram do povo e viveram para o povo. Nossa única compensação ante a perda de um companheiro tão próximo a nós é saber que o povo de Cuba produz homens como ele. Camilo vive e viverá no povo’.
Enquanto Che o qualificou como ‘o companheiro de cem batalhas, o homem de confiança de Fidel nos momentos difíceis da guerra e o lutador abnegado que fez sempre do sacrifício um instrumento para fortalecer seu caráter e forjar o da tropa’.
‘Camilo era Camilo, senhor da vanguarda, guerrilheiro completo que se impunha por essa guerra com o colorido que sabia fazer’, precisou naquele dia o legendário GuerrilheiroHEROICO DE QUEM foi seu amigo pessoal.
Desde então, a figura de Camilo se imortalizou para o povo cubano que a cada 28 de outubro, como demonstração de carinho e respeito, lhe presta homenagem jogando flores ao mar.
arc/rws/mm
*Jornalista da Redação Nacional da Prensa Latina