Marcello Casal Jr/Agência Brasil
César Fonseca
Aumento da massa salarial é uma coisa, aumento de salário é outro.
No primeiro caso, o conjunto da renda nacional cresce, mas, no segundo caso, pode não ser verdade que cresce o poder de compra da população com o aumento do salário.
O presidente Lula diz que o empresário sabe que a massa salarial aumentou, por isso, aumenta os preços, sabendo que nem todos, mas uma parte dos assalariados comprará o produto nas prateleiras.
Não é a massa salarial que vai ao supermercado, mas o assalariado.
Enquanto a massa cresceu com crescimento da oferta, o assalariado sofreu os rigores do arrocho salarial, decorrente da contra reforma trabalhista neoliberal, imposta pelos governos Temer e Bolsonaro, a partir do golpe de 2016, dado pelo neoliberalismo.
A contra reforma trabalhista roubou direitos dos trabalhadores, para aumentar o lucro(taxa de mais valia) dos empresários, graças redução do custo de contratação de mão de obra, com supressão dos direitos,, que levou o mercado de trabalho à uberização econômica, rebaixando poder de compra dos salários.
O salário médio caiu enquanto a massa aumentou, sem garantir correspondência entre um e outro, pelo contrário: as diferenças, em prejuízo dos trabalhadores, foram pioradas.
O resultado das pesquisas de opinião deixa o presidente Lula angustiado, porque há o evidente paradoxo da contradição entre aparência e essência.
APARÊNCIA E ESSÊNCIA
O crescimento da massa salarial é aparência, o arrocho salarial neoliberal, a essência.
A diferença entre uma e outra aumenta os lucros dos empresários, mas diminui a qualidade de vida dos assalariados.
Os juros altos, provenientes das restrições fiscais e monetárias, impostas pelo neoliberalismo financeiro, sob argumento de combate à inflação, acentuam o abismo entre essência, trabalho precarizado, e aparência, lucro crescente dos empresários, com o aprofundamento da mais valia.
A força de trabalho e o mercado de trabalho têm suas diferenças quantitativas e qualitativas.
A força de trabalho é o valor trabalho em ação produzindo riqueza que não a leva, necessariamente, ao mercado em condições satisfatórias para transformá-la em pleno consumidor.
Uns consomem, outros, não.
Na média, a exclusão social da força de trabalho se impõe, piorando a qualidade de vida do trabalhador, embora o mercado disponha de oferta de emprego, porém, com baixa remuneração, incapaz de satisfazer as necessidades básicas dos assalariados.
Nesse contexto, a oferta tende a ser maior que a demanda, levando os empresários ao ardil conhecido que praticam: reduzem a produção e aumentam os preços, para manter constante a taxa de lucro.
O excedente desvalorizado pelo processo de financeirização, que impede competitividade das exportações, graças aos juros altos, que favorecem importações baratas, para combater a inflação, erroneamente denominada de demanda, é esterilizado em forma de aumento de preços.
JUROS BOMBEIA INFLAÇÃO
A verdade é o oposto: não há inflação de demanda, forçada pelo consumo, como argumentam os neoliberais, mas choque de oferta, imposto pelos preços controlados pelo governo, afetados pelo câmbio valorizado, favorecido pelos juros altos, como é o caso dos derivados de petróleo.
Tudo o mais sofre os efeitos desse processo espoliador, ele, sim, responsável por extorquir o consumidor.
A dolarização decorrente da política cambial, forçada pela privatização da Petrobrás, junto com o rebaixamento relativo dos salários, proveniente da reforma trabalhista neoliberal, são, essencialmente, as causas centrais da inflação.
Os juros altos são consequências da inflação, mas a causa, como interpreta o prêmio Nobel, Stiglitz, são os juros, bombeados pelo câmbio flutuante, porque no cerne do processo inflacionário está a dolarização dos preços, imposta pelo neoliberalismo financeiro.
A financeirização econômica, acelerada pela política econômica neoliberal, é, portanto, o motor do processo inflacionário.
Não se trata de controlar preços dos alimentos, mas dos juros altos que bombeiam o seu reajuste constante nas prateiras, deixando os consumidores desesperados, propensos a criticar o governo