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sexta-feira, 22 novembro, 2024

BRICS é queda da bastilha para o dólar

César Fonseca 

O fim da hegemonia do dólar diante da emergência da previsível moeda comum dos BRICS tende a precipitar situação incontrolável para os Estados Unidos.
A dívida pública americana de 31,4 trilhões de dólares (2022), superior ao PIB dos Estados Unidos de 23,32 trilhões (2021), correspondentes a 24,1% do PIB mundial de 96,51 trilhões (2022), transformou-se no maior fator de instabilidade global, segundo Bloomberg.
Mas, Washington não quer nem saber: emite moeda sem lastro e exige que bancos centrais do ocidente, tributários do FED, se virem para extrair renda da periferia capitalistas.
É o que faz o BC brasileiro, comandado pelo bolsonarista Campos Neto, barrando crescimento econômico sustentável mediante agiotagem financeira.
No entanto, esse círculo vicioso da financeirização especulativa global comandada por Wall Street balança diante da emergência de novo sistema monetário internacional, que daria fim à unipolaridade imperialista.
A moeda BRICS (Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul), em discussão em Joanesburgo, é o ponto de inflexão desse momento histórico capital, que a China comanda, como nova líder internacional, a ameaçar a potência imperialista.
Como destacam os presidentes Lula e Wladimir Putin, o PIB dos BRICS(40% da população mundial) já representa 34% do PIB mundial em paridade do poder de compra, superando os países do G7, que estão em torno de 31%.
BRICS multipolar deixa G7 unipolar para trás.
Projetando para os próximos dez anos, a diferença entre ambos avança para 10%, o que leva o mercado financeiro a fazer novas apostas decisivas quanto ao poder emergente dos BRICS frente ao G7, para avançar em trocas comerciais com moedas locais.
Essa comparação, decorrente da crescente desdolarização, prevista pelos mercados, sinaliza novo sistema monetário internacional.
A corrida dos países para participarem dos BRICS, cada vez mais dispostos a tomar distância dos Estados Unidos e sua recorrente prática de sanções econômicas sobre quem contraria o império, é o novo fato político global.
Trata-se de fuga dos países pobres da influência cadente da moeda americana, o que aprofunda crença do mercado em novas apostas monetárias.
Quanto mais avançarem o que os novos líderes do Sul Global pregam, ou seja, trocas comerciais em moedas locais, maior será a potência dos BRICS na cena internacional, minando poder hegemônico do dólar, com reflexo decisivo no mercado financeiro especulativo globalizado.
UNIÃO CONTRA IMPERIALISMO
Forma-se, assim, multidão de países diante do imperialismo monetário americano sob desconfiança dos investidores em escala global.
O presidente Biden já acusa os ataques.
Assim que os BRICS iniciaram sua reunião na África do Sul, o líder americano adiantou que fará reforma no FMI e no Banco Mundial, diante das novas circunstâncias adversas que ameaçam o poder imperial de Washington.
É de se destacar, inclusive, que o foco político global, pelo menos, nessa semana, mudou da Guerra na Ucrânia, onde Rússia enfrenta forças da OTAN-EUA,
levando nítida vantagem, para os BRICS, que planta sua semente na África.
Os discursos coordenados dos presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, líderes do BRICS, devido sua posição privilegiada de maior poder de paridade de compra, comparado ao G7, impactarão os fundos de investimentos internacionais.
Empenhados em captar e direcionar seus capitais para onde as expectativas de lucros são mais atrativas e alvissareiras, tais fundos, certamente, focarão nos BRICS sua ação estratégica.
Nestes, as oportunidades, puxadas pela força dominante da economia chinesa, criarão corrida aos projetos anunciados pelos cinco países em Joanesburgo.
Essa possibilidade aumenta mais, se a força relativa do dólar se fragilizar frente à nova moeda internacional a nascer do movimento monetário, cujo mote será trocas comerciais entre moedas locais.
A senhoriagem absoluta e dominante da moeda americana está virando coisa do passado.
BASTILHA E REVOLUÇÃO
A previsível debacle da hegemonia do dólar, dominante desde Acordo de Bretton Woods, em 1944, no pós-segunda guerra, da qual Estados Unidos saem do conflito como poder econômico e monetário a impor regras ao resto do mundo, seria simbolicamente Queda da Bastilha, na França, em 1789, início da revolução francesa, com emergência da burguesia como poder político.
O poder centralizado, de forma excessiva, pela aristocracia monárquica medieval, tinha o domínio político sobre os chamados Três Estados: o Primeiro Estado, Igreja e o clero; o Segundo, Nobreza; terceiro, Povo.
A revolta popular, em meio a uma crise financeira inflacionária incontrolável, acelerada por concentração de renda e desigualdade social, levou à queda do Rei e emergência da burguesia como poder político.
Nascia a era moderna.
A Queda da Bastilha foi a invasão e derrubada do poder absoluto onde se localizam as armas do Primeiro e Segundo Estado.
Explodiu a revolução e a moeda monárquica foi aos ares, dando lugar à nova conjuntura nacional e internacional, agitando toda a Europa, centro do mundo.
WASHINGTON X PARIS
Mutatis mutantis, Washington, em 2023, seria a Paris de 1789, que impunha ao Terceiro Estado (capitalismo periférico empobrecido e colonizado) moeda hegemônica, juros altíssimos e política tributária espoliadora e colonizadora.
Era a arma do Rei para bancar a aventura francesa na participação da guerra de independência dos Estados Unidos, na segunda metade do século 18.
As dívidas francesas, diante de crises financeiras e climáticas, geradoras de secas, às vésperas da Revolução, que derrubaram colheitas e garrotearam dívidas públicas, levantaram o Terceiro Estado miserável.
Ele se uniria a uma parte do Segundo Estado, a fim de derrubar e, na sequência, decapitar Rei Luís XVI.
O imperialismo americano, hoje, que tem mais de 200 bases militares nos cinco continentes, que exerce o privilégio absurdo de emitir moeda sem lastro, conforme declarou ex-presidente Dilma Roussef, presidente do Banco dos Brics, é o protótipo da Bastilha que o BRICS ameaça derrubar.
Como disse Lenin, citado por Keynes, no livro “Inflação e Deflação”, a coisa mais fácil para derrubar um país, seja de que tamanho for, especialmente, se for poderoso, é destruir sua moeda por um processo continuado de descrédito, em face de elevado endividamento, a semear alta descontrolada de preços.
A instabilidade do sistema financeiro americano, afetado pelo excessivo endividamento público, tem levado a economia americana, a recorrentes bancarrotas bancárias, a partir do crash de 2008.
Só este ano, o Banco Central dos Estados Unidos (FED), emissor de moeda, foi obrigado a salvar três grandes bancos ligados às áreas de tecnologia, que impulsionam a produtividade americana.
Diversos outros estão dependurados, como tem denunciado o Global Times, site chinês.
Ao lado desse fato, as taxas de juros, no mercado interno americano, têm se situado em patamar elevado, especialmente, na rede de bancos médios e pequenos, pois os banqueiros, estão temerosos de risco de inadimplência.
A vantagem comparativa da China frente aos Estados Unidos, no mercado de dinheiro, é evidente.
Afinal, a economia chinesa é dominada pelos bancos públicos, os quais trabalham com taxas de juros baixas, capazes de assegurar competitividade no comércio internacional.
O governo chinês, por sua vez, adota sistema monetário baseado no fato de que não há restrição ao endividamento público do país se é realizado por moeda nacional, na linha do princípio das finanças funcionais.
Esse é o capital dominante que a China apresenta em Joanesburgo, para ser a lâmpada de Aladim capaz de iluminar os novos caminhos da economia mundial, especialmente, com expansão da Rota da Seda, na fronteira asiática, aliada da Rússia e Índia.

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