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quinta-feira, 28 março, 2024

Brasileiros lamentam precária atenção após saída de médicos cubanos

Brasília,  (Prensa Latina) Três meses após o fim da participação de Cuba no programa Mais Médicos, algumas cidades brasileiras aguardam até hoje pela reposição de profissionais, como no município Mauá, no estado de São Paulo.

Uma recente reportagem do programa Seu Jornal, da Rede TVT, informa que nessa área havia 33 facultativos cubanos, mas desde sua partida a busca de médicos para ocupar as vagas é muito difícil.

Embora somente nove médicos a menos tenham se registrado, o conselheiro de saúde José Hora reconhece certo temor, pois, segundo ele, muitos não querem trabalhar na periferia.

‘Veio um médico aqui e depois desistiu de trabalhar na unidade. Por isso a gente denuncia essa falta de profissionais’, assinalou.

O aposentado Dercídio José de Freitas, prostrado em uma cadeira há mais de 10 anos, queixa-se que desde a ausência dos cubanos não tem recebido mais atenção domiciliar do programa Médico da Família.

‘É muito difícil, agora as enfermeiras vieram porque o vizinho foi até ali e se queixou’, lamenta.

Em outro trabalho jornalístico, o médico Luiz Otávio, especialista em Saúde da Família e Comunidade, e supervisor acadêmico do Mais Médicos em João Pessoa (Paraíba), reconhece que o acesso aos distritos indígenas é complicado.

As dificuldades fizeram com que essas comunidades ficassem por décadas totalmente desassistidas da Atenção Básica à Saúde, até a criação do Mais Médicos em 2013.

‘Anteriormente, 14 médicos cubanos atendiam o distrito dividido em 37 polos base, que variam de acordo com a população das aldeias’, explica.

Desde o fim da participação cubana no Mais Médicos, precisa, somente oito profissionais brasileiros atendem os distritos indígenas ianomâmis.

A situação é ainda mais grave no estado do Amazonas, como conta Januário Neto, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde da região e titular da pasta no município de Manaquiri.

‘Com a saída dos cubanos do estado do Amazonas, imediatamente perderam-se 322 médicos que trabalhavam quase exclusivamente no interior da região’, adverte.

Aponta que por tal situação cerca de um milhão de pessoas ficaram à margem do sistema sanitário, pois 322 médicos da ilha trabalhavam em 60 municípios do estado.

Sobre a saúde indígena, dos 92 postos restabeleceram-se somente quatro, isto é, há 88 localidades que atenderão em torno de três mil pessoas cada uma, com aproximadamente 270 mil nativos sem atenção médica.

O diário Causa Operária denuncia que ‘os médicos brasileiros formados, segundo um modelo mercantilista de saúde, continuam se negando a atender as populações carentes de regiões pobres e distantes dos grandes centros urbanos’.

Afirma que ‘com a saída dos cubanos, o programa brasileiro de assistência médica básica ficou desfalcado de seu principal contingente. Desde então, a imprensa golpista, em um cinismo estéril, vem tentando alimentar a ideia de que as vagas dos médicos cubanos seriam plenamente preenchidas pelos profissionais brasileiros’.

A publicação assegura que ao longo de dezembro e janeiro ‘cada jornal burguês estampou pelo menos uma vez em suas manchetes a mentira de que todas as vagas deixadas pelos cubanos no Mais Médicos foram preenchidas. Nada mais distante da realidade’.

Um estudo encarregado pela Organização Pan-Americana de Saúde sobre o impacto do Mais Médicos revelou que o Brasil poderá ter 37 mil mortes de crianças menores de cinco anos até 2030 devido à decisão do presidente Jair Bolsonaro de encerrar definitivamente este programa.

Cuba decidiu em novembro não participar nessa iniciativa ante questionamentos e declarações ofensivas de Bolsonaro contra os profissionais da ilha.

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