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domingo, 13 outubro, 2024

Brasil na Jornada Mundial pelo fim bloqueio a Cuba

TheIntCom na Jornada Mundial por Cuba em frente ao Capitólio, Washington D. C. – Foto: Bill Hackwell
Ao contrário do que vem sendo divulgado pela mídia, o bloqueio dos EUA contra Cuba não acabou com a reaproximação diplomática entre os dois países. Atividade realizada no Brasil pelo TheIntCom, contou com a presença da ex-guerrilheira Marília Guimarães.

Representantes do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos estão visitando o Congresso Nacional em Brasília, desde o início da semana, em busca de apoio. O objetivo é angariar adesões dos parlamentares brasileiros ao pedido de levantamento do bloqueio, que será encaminhado à Washington.

TheIntCom (na sigla em inglês) realiza anualmente a Jornada Contra o Bloqueio à Cuba. A atividade consiste em percorrer gabinetes de parlamentares estadunidenses, no Capitólio, levando a reivindicação de se levantar o bloqueio imposto pelo governo dos EUA contra Cuba há mais de 50 anos, considerando que a atribuição para suspender a injusta medida pertence atualmente ao legislativo daquele país.

Comitê Internacional – Paz, Justiça e Dignidade aos Povos

Em outras Jornadas, integrantes do Comitê de vários países se incorporavam aos demais em Washington D. C., para reuniões em conjunto. Este ano, o evento ocorre entre os dias 11 a 16 de setembro e foi decidido que, além dos EUA, cada país realizaria a jornada em seus respectivos parlamentos.

Carmem Diniz, à frente do grupo no Brasil, explica que “nessas conversas, o Comitê entrega um material informativo atualizado sobre o bloqueio à Cuba, cópias da carta que será entregue nos EUA, incluindo a lista com os pouco mais de 100 parlamentares brasileiros que já aderiram em 2015 à causa, além de um material audiovisual que foi elaborado pelo Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.

Este ano, o foco principal da jornada contra o bloqueio é a saúde pública. Carmem lembra que, “a saúde é um direito humano básico e o prejuízo imposto pelo bloqueio inclui outros países, além de Cuba, uma vez que a ilha conta com medicamentos eficazes, mas que encontram muitas dificuldades de comercialização fora de seu território”.

Dentre os parlamentares que aderiram à carta este ano, está o Deputado Paulão (PT-AL), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, que afirmou que pretende tomar algumas iniciativas no sentido de questionar a prorrogação do bloqueio dos EUA a Cuba, assinado por Trump. Paulão vai enviar aos membros do Congresso dos Estados Unidos um ofício solicitando que ouçam as vozes dos povos da América Latina e votem pela eliminação do bloqueio tão logo seja possível, além de solicitar informações ao presidente da Anvisa, agência brasileira que regula a autorização para medicamentos no país, sobre o impedimento da liberação de patentes de remédios produzidos em Cuba que trazem notáveis progressos a doenças que atingem os brasileiros, como o Heberprot-P, contra o pé diabético. Por fim, o deputado alagoano também adiantou que vai articular com a presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, Regina Sousa (PT-PI), para que assinem juntos o documento organizado pelo Comitê Internacional Paz Justiça e Dignidade aos Povos.

Professora Dora (Nescuba-UnB), Rolando Gomez (Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba) e a ativista e ex-guerrilheira Marília Guimarães.

Em dezembro de 2014 o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, fez o surpreendente discurso em que reconheceu que o investimento em mais de meio século de agressões contra Cuba havia falhado. A histórica abertura das embaixadas em ambas as capitais, Washington e Havana, em julho de 2015, foi um passo gigantesco para o fim de uma política genocida que já durava 5 décadas. Mas ao contrário do que vem sendo dito pela mídia, o bloqueio não foi derrubado depois da reaproximação diplomática entre os dois países. Ainda que a melhoria nas relações tenha possibilitado a abertura de uma série de acordos comerciais, acadêmicos e outros, não resultou no fim do bloqueio. E a Jornada capitaneada este ano no Brasil, vem mostrando que o bloqueio também afetou o povo norteamericano (e de outros países).

Matéria publicada pelo Resumem Latinoamericano de 2015, informa que quase 30 milhões de estadunidenses diabéticos (e milhares de outros países) são vítimas do bloqueio à medicamentos cubanos. Em torno de 70.000 a 80.000 diabéticos, por ano, sofrem com amputações devido a uma das complicações mais nefastas da doença: a chamada úlcera do pé diabético. O texto especulava, então, a possibilidade de sobrevida dos diabéticos estadunidenses a partir da reabertura das relações:

“O produto (não licenciado nos EUA, Brasil e outros países), teve autorização de comercialização negada para ensaios e vendas em 2010 pelo Departamento de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão encarregado de fazer cumprir o bloqueio dos EUA contra Cuba. (…) a indústria da biotecnologia cubana está em seu auge, já que na década de 1980 a ilha se converteu em uma das “três grandes” do sul global (com Brasil e Índia). Seu último grande avanço em Investigação mais Desenvolvimento (I + D) é um medicamento denominado Heberprot-P, que já vem tratando 165.000 pacientes diabéticos em 26 países, reduzindo o risco de amputação em cerca de 75% dos casos. O tratamento passou por ensaios clínicos em 5 países inclusive na Europa, onde é conhecido como Epiprot. Os resultados em matéria de segurança e eficácia têm sido divulgados em International Wound JournalDiabetes Care MEDICC Review, entre outras publicações científicas, com documentação de dez  anos de experiência clínica.”

Cine Debate – Bloqueio, A Guerra Contra Cuba

Nesta terça-feira (12), o Comitê realizou ainda um cine-debate na Universidade de Brasília (UnB) com apoio do NESCUBA – Núcleo de Estudos Cubanos, coordenado pela professora Maria Auxiliadora, a participação de estudantes, professores e de representantes da Embaixada de Cuba no Brasil.

Dora, como é conhecida, viveu anos em Cuba, onde fez seu doutorado em políticas sociais na Universidade de Havana, e é idealizadora e coordenadora do NESCUBA, que desde 2007 oferece aos alunos de graduação da UnB o curso de extensão sobre Cuba. Com vários módulos, o curso abrange temas como “Política Social” (ministrado pela própria prof. Dora); “História de Cuba” (professor Tirso Saenz, cubano radicado no Brasil, foi vice-ministro de Che Guevara); “Sistema Político-Eleitoral” (jornalista e escritor Hélio Doyle); “Imprensa em Cuba” (Beto Almeida, jornalista e membro da TeleSur) e “Saúde Pública em Cuba” (Wesley Caçador, médico formado em Cuba).

Na abertura do evento, Dora disse como se sentia sobre seu trabalho frente ao NESCUBA, “é a tal batalha das ideias, da qual falava Fidel Castro, já que em média cerca de 25 alunos concluem a disciplina (optativa) anualmente e essa é uma oportunidade de ouvir o outro lado, muito diferente do que a mídia informa sobre Cuba. O bloqueio é algo que nós discutimos durante todo o curso, porque é transversal a todos os temas que se referem a Cuba”.

Convidado a fazer uma saudação aos presentes, o Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba no Brasil, Rolando Gomez, acabou oferecendo um importante relato da situação do país, atingido nos últimos dias pelo Furacão Irma:  “acabamos de sentir o impacto desse que já é considerado o mais terrível furacão da história recente do Oceano Atlântico e que atingiu nosso país com categoria 5 (a maior na escala de furacões) por 72 horas. Nos golpeou desde a ponta extrema oriental, até a capital, Havana, sendo 14 províncias atingidas. Foram arrasados os principais polos turísticos do país e infelizmente tivemos 10 pessoas falecidas, apesar de todo o esforço mundialmente reconhecido de nosso sistema de Defesa Civil. O mar penetrou como jamais havia ocorrido, chegando ao primeiro andar de edifícios distantes da orla em todo o território. E quando ainda estávamos sentindo o impacto deste furacão, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou esta medida que determina a prorrogação das leis que regem o bloqueio. É importante lembrar que documentos oficiais dos EUA de 1961, recém-desclassificados, deixam claro que o objetivo do bloqueio, assinado primeiramente por John F. Kennedy, era fazer o povo cubano ‘se render, a partir da fome e causando o maior sofrimento possível’. A boa notícia é que mais uma vez a vontade inabalável de nosso povo, depois dessa última tragédia, é de dar o seu melhor para recuperar os serviços básicos de nosso país. E essa solidariedade que existe entre nós, também temos recebido de nossos amigos, de vários países, como o Brasil”.

Carmem Diniz fala aos estudantes, na atividade realizada na UnB

Carmem Diniz – que na Jornada brasileira esteve acompanhada da ativista Viviane Mendes, do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba – explicou, pouco antes da exibição do documentário que a principal atividade do Comitê (TheIntCom) – que reúne 300 núcleos em todo o mundo e começou com a luta pela libertação dos 5 cubanos (presos por mais de 15 anos nos EUA e que voltaram à Cuba com a reaproximação entre os dois países) – é o levantamento do bloqueio. “Mas temos outras reivindicações, como a devolução do território onde se encontra a base ilegal dos EUA em Guantánamo, o fim das atividades subversivas que os EUA ainda mantêm contra Cuba (cessar o financiamento de grupos como as Damas de Branco, encerrar atividades de mídias como a Rádio/TV Martí). Já são 11 presidentes norteamericanos tentando, sem sucesso, derrubar a Revolução Cubana e até Obama precisou vir a público reconhecer que não funcionou. Se a solidariedade é o que você precisa, não o que eu quero fazer, então nosso objetivo é sempre tentar identificar quais são as prioridades de Cuba e, nesse momento, é o fim do bloqueio”, conclui.

“A guerra contra Cuba”, exibido no debate, tem em sua trilha sonora a composição Por quem merece amor (Te molesta mi amor), uma parceria do músico brasileiro Miltinho com o cubano Silvio Rodriguez, e que foi gravada pelo grupo MPB-4, que cedeu os direitos autorais ao TheIntCom.

No encerramento do debate, a ativista política e ex-guerrilheira Marília Guimarães – que em 1969 sequestrou um avião comercial no Brasil, acompanhada de seus dois filhos pequenos e conseguiu pousar em Cuba, onde exilou-se por 10 anos – emocionou os presentes ao dizer o que aprendeu em sua experiência na ilha “devemos implantar em nosso coração a esperança, a esperança de que sim, lutando, dando o melhor de si, estudando, sendo solidários uns com os outros, é que Cuba resistiu todos esses anos à esse bloqueio cruel, diário, em que coisas mínimas [se possuírem qualquer componente dos EUA], são proibidas para Cuba. Mas o povo cubano soube buscar o conhecimento e criou esse gigante. Se a Coca-Cola é famosa, Cuba é muito mais” e concluiu, sob aplausos “nós temos muito do povo cubano, o que falta é a gente se sacudir por dentro, para ficarmos mais parecidos com eles. Temos que semear amor, como diz Silvio Rodriguez, e não acreditar no imperialismo nem um tantinho, como disse Che Guevara. E temos que seguir o exemplo do nosso eterno comandante em chefe, Fidel Castro, que passou toda sua vida ensinando ao mundo inteiro que sim, é possível um mundo melhor”.

O livro de Marilia Guimarães será lançado nesta quarta-feira, 13, no Sindicato dos Bancários em Brasília.

Lançamento do livro de Marília Guimarães

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