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segunda-feira, 18 agosto, 2025

Brasil é ‘player essencial’, notam analistas sobre novo telefonema de Putin para Lula

© Sputnik / Aleksei Nikolsky

Melissa Rocha

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que o presidente russo busca incluir o BRICS nas conversas sobre a resolução do conflito ucraniano para demonstrar que o grupo merece participar da formação de uma nova ordem “menos centrada no Ocidente”.

O presidente russo, Vladimir Putin, telefonou na manhã desta segunda-feira (18) para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A conversa foi confirmada pelo Kremlin e pelo Palácio do Planalto.
Segundo divulgado por ambos, Putin relatou a Lula como foi sua reunião com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, realizada na sexta-feira (15) no Alasca. O encontro russo-americano tocou em temas de importância global, como a retomada da relação bilateral entre os dois países e a resolução do conflito ucraniano.

“Após abordar os diversos temas discutidos com o presidente Trump, Putin reconheceu o envolvimento do Brasil com o Grupo de Amigos da Paz, iniciativa conjunta com a China”, diz nota da presidência.

Segundo o documento, Lula agradeceu o contato e reafirmou “o apoio do Brasil a todos os esforços que conduzam a uma solução pacífica para o conflito”.

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Além de Lula, Putin ligou recentemente para os presidentes da China, Xi Jinping, da Índia, Narendra Modi, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa — todos eles líderes de países originários do BRICS.
“A ligação evidencia que o Kremlin percebe o Brasil e Lula como um interlocutor com uma capacidade considerável de trânsito entre o Ocidente e o Sul geopolítico”, afirma em entrevista à Sputnik Brasil o pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) Guilherme Conceição.
“Reforça a imagem do Brasil como uma potência média, de autonomia estratégica e que tenta táticas de equilíbrio brando, via normas e fóruns, sem se alinhar a um bloco militar específico.”

“Apesar de a ligação por si só não significar que o Brasil seja, de fato, um parceiro importante no sentido estratégico e duro da palavra, em termos de defesa, mostra a relevância instrumental do país como ponte e voz desse Sul Global.”

Conceição acrescenta que a sequência de telefonemas de Putin, acionando lideranças do BRICS, ajuda a contrapor a narrativa ocidental de que a Rússia é um ator isolado no cenário global e reforça propostas de paz alternativas às do eixo euro-atlântico.
Dessa forma, Moscou ainda condiciona expectativas e testa a receptividade de fórmulas de cessar-fogo que surjam do encontro desta segunda-feira (18) entre Trump, Vladimir Zelensky e líderes europeus na Casa Branca.

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Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor de economia e relações internacionais na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), afirma que, com a ligação para Lula, Putin prestigia os membros do BRICS.

“Não é apenas aqui uma expressão do prestígio do Lula em si, mas de o Brasil ser visto pela Rússia como um player essencial no atual cenário global”, afirma.

Além disso, Vieira afirma que a ligação reforça o papel do BRICS na formação de uma nova ordem mundial “menos centrada no Ocidente”. Nesse ponto, a participação do grupo em torno da resolução do conflito ucraniano confere aos países do grupo um peso que eles jamais tiveram individualmente no contexto imperialista “na história dos últimos 200 anos”.

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