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sábado, 20 abril, 2024

BRASIL, AERONAVE SEM RUMO. EU ACUSO!

Charge de Frank Maia

Pedro Augusto Pinho*

Os tragicômicos acontecimentos da madrugada, após as celebrações do dia da independência mostraram, para quem ainda tinha resquício de dúvida, que o Brasil é uma aeronave com 213 milhões de passageiros cortando o espaço sem direção nem tripulação.

Isto não ocorre por acaso, nem por sermos mais qualquer coisa, de boa ou de ruim, do que qualquer país, qualquer sociedade humana. Mas temos a pior elite do mundo. Isto sim, formou-se aqui a mais ignóbil, corrupta e discriminadora classe dirigente.

O antropólogo Darcy Ribeiro já registrara este fato, pois até pela formação, não fosse seu brilho intelectual invulgar, ele identificou a grande mazela nacional em sua elite, não no seu povo.

Partindo então do geral para o particular, a vergonha que desceu sobre a nação brasileira – um presidente e um humorista disputando quem dava ordem para os caminhoneiros – quando se poderia estar preparando para o bicentenário da independência, tem uma origem: a elite dirigente e a classe média que busca, sem medir esforços, ser igual a ela, A imitar o que tem de pior nosso País e que o sociólogo Jessé Souza classifica: racismo brasileiro.

Eu acuso todos aqueles que sempre se humilharam diante do estrangeiro e foram carrascos dos brasileiros.

Descendo na generalidade, eu acuso as denominadas vivandeiras dos quarteis, hoje prostitutas dos banqueiros, dos financistas internacionais, pedindo a ditadura da banca. E já sabemos que a banca não é mais composta apenas dos capitais tradicionais, mas hoje é direcionada, fortemente, pelos capitais das drogas, dos contrabandos de pessoas, órgãos humanos e das armas e outros objetos causadores de danos individuais e coletivos.

Denomino esta banca do século XXI como ela mesma se apresenta: gestores de ativos.

E as vivandeiras deste século, filhas do udenismo, são os tucanos. Já não pedem governos militares, exigem governos das finanças internacionais. Inacreditável, difícil até de entender, uma elite que clama pela ditadura dos estrangeiros. Mas este fato nos dá a dimensão da imensa farsa que está em seus discursos, em suas mídias, em seus “intelectuais”. Eu acuso os tucanos e aliados de serem o mal do Brasil.

E acuso o golpista Aécio Neves, aliado ao corrupto deputado Eduardo Cunha, prepararem o caminho para o tosco tenente Jair Bolsonaro, com 28 anos de deputado sem ter aprendido um mínimo sobre questões públicas. Excesso de incapacidade, deste capitão de pijama.

Mas eu acuso também o Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente seus dirigentes, que aceitaram servir esta elite maléfica no papel de anti-Vargas.

Tão evidente que precisavam chamar os paulistas, derrotados por Getúlio Vargas, o grande e único verdadeiro estadista brasileiro, para criar um partido farisaico, que disfarçava, na teologia da libertação, ser contra as conquistas trabalhistas da Era Vargas.

E qual o trunfo que os governos petistas apresentam: a pedagogia da Escola Nova, de Anísio Teixeira? Não, o financiamento estudantil, mais um nicho para os gestores de ativos. Avanços nos direitos trabalhistas, com redução de horas, ambientes tecnológicos enriquecedores, melhores condições previdenciárias? Não. Remunerações advindas sem consciência crítica, verdadeiras esmolas de beatas da classe média na porta das igrejas e templos.

E, como o que vem fácil também sai fácil, foi sem esforço algum que as finanças retiraram direitos trabalhistas, herdados da Era Vargas, previdência social dos generais “ditadores”, formados na Era Vargas, e também alienaram as empresas que estes generais “varguistas” criaram ou fortaleceram, no período em que governaram o Brasil, de 1967 a 1980.

Mas eu também acuso os comunistas brasileiros, que ao invés de se aprofundarem no estudo do Brasil, passaram o tempo brigando entre si e com outras correntes chamadas de esquerda, tentando aplicar uma ideologia da Europa oitocentista, numa realidade totalmente diferente.

Esta inadequação dos comunistas e outros ideólogos do pensamento universal, único, que não sabem que cada sociedade se desenvolve na construção do seu relacionamento com o meio ambiente, com as farturas e carências que encontram, e, quanto mais formada pela miscigenação de povos, etnias, mais se habilita a ser forte diante da natureza. Aí está Euclides da Cunha, antes um repórter que um cientista social, que cunhou a mais célebre frase sobre o brasileiro do nosso interior: “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

Pois é fruto de três raças que juntas e misturadas povoaram o Brasil, com um verdadeiro fenômeno de se entenderem, nos oito milhões e meio de quilômetros quadrados, no mesmo idioma.

O que viria aqui fazer o liberalismo inglês, o socialismo alemão ou qualquer ideologia estrangeira? Colonizar o Brasil.

A vergonha que passamos com esta comemoração da independência, com os desdobramentos bolsonaristas e dos seus antagonistas, nos mostra que faltam ao Brasil um partido nacionalista, uma liderança nacionalista, uma ideologia brasileira, que já tivemos nas ideias de José Bonifácio de Andrada e Silva e nas ideias e práticas de Getúlio Vargas, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, para reconstrução nacional.

A continuar a inútil disputa entre as duas faces da mesma moeda, denominando-as de esquerda e direita, petistas e bolsonaristas ou que redutores apodos se lhes deem, nada evoluiremos nem cresceremos.

Estes mais de 200 milhões de passageiros precisam estar em nave segura, com tripulação confiável e competente, que sabe para onde vai, e que não mistura sua bandeira com as de Israel, Estados Unidos da América, China Popular ou qualquer outra.

Eu acuso as mídias comerciais e hegemônicas, as classes no poder, as instituições neoliberais que nos governam nos três “poderes”, de agirem contra o Brasil. E esta elite de sempre, que hoje usa a fantasia de centrão, para abrigar os seus corruptos e corruptores de sempre, já tem o repúdio de todos, mas que não se traduz no afastamento dos governos. É a turma da boquinha, ampla, geral e escorregadia, lambuzada com todas as ideologias e legendas.

Que surjam com a noção contemporânea, outro José Bonifácio, outro Getúlio Vargas, outro Ernesto Geisel, outro Leonel Brizola e o Partido Nacionalista Brasileiro.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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