Por Osvaldo Cardosa *
Em abril, o questionado juiz Sérgio Moro, quem em janeiro será ministro da Justiça do novo governo de Jair Bolsonaro, condenou Lula a 12 anos e um mês de prisão por suposta corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo os investigadores, o ex-governante foi culpado de admitir subornos no valor de 1,1 milhão de dólares da construtora OAS, uma das empresas envolvidas no mega-caso da Petrobras.
Para o magistrado, Lula, como responsável por designar os diretores superiores da Petrobras, tinha um notável papel no esquema criminoso da chamada operação Lava Jato.
Essa rede de corrupção propiciava que grandes empresas nacionais pactuassem compartilhar os multimilionários contratos da Petrobras, ao subornar políticos e empregados da companhia estatal.
Tendo em conta a decisão de Moro, Lula cometeu uma complicada violação ‘que implicou a prática de diversos atos em momentos diferentes’.
Com o aparente pagamento, apontaram os investigadores, o ex-dirigente operário modificou e mobiliou um apartamento de três andares de luxo (triplex) na área litoral de Guarujá, estado de São Paulo.
Sob esse cenário a ordem de prisão, expedida por Moro, foi cumprida 26 horas após o prazo determinado pelo magistrado.
Então Lula anunciou que se apresentaria à Polícia Federal durante um ato no entorno do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Mas antes de dar esse passo, enfatizou que era inocente de todas as acusações e estimulado a exilar-se em outro país ou em alguma embaixada.
Reiterou sua crítica aos juízes do Supremo Tribunal Federal e em outro momento afirmou que o país não pode permanecer subordinado à ditadura de um pequeno grupo do Poder Judiciário.
Alertou que pretendiam excluí-lo da disputa presidencial de outubro, como ocorreu.
Considerou também que seria incorreto ‘paralisar o país por conta de uma investigação’, a de Moro e como parte da qual foram divulgados fragmentos das delações premiadas do ex-empresário Marcelo Odebrecht, nas quais citou o ex-chefe de Estado.
Em relação a estas acusações, comentou que são inverídicas e questionou as condições em que estas foram obtidas.
Os advogados da defesa do ex-presidente também sublinharam que nas imputações contra Lula se percebem muitas suposições, mas nenhuma prova concreta de sua suposta participação nos fatos que lhe atribuem.
Qualificaram também de sensacionalistas as delações de ex-executivos da empresa Odebrecht, as quais apenas reforçam o objetivo falsificado de manchar a imagem de Lula e comprometer sua reputação. Desde o dia 4 de março de 2016, Lula é vítima direta de acusações para destruir sua trajetória, construída em mais de 40 anos de vida pública, denunciaram.
Como era de se esperar, da noite para o dia Lula se converteu em alvo do bombardeio midiático e emergiram denúncias superficiais que, apesar da virulência dos acusadores, não apontam para nenhuma conduta ilegal ou amparada em provas.
No meio desse panorama, em 1 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral invalidou a candidatura de Lula ao governo, que liderava as pesquisas para as eleições do dia 7 de outubro.
Cinco dias mais tarde, o político de extrema-direita Jair Bolsonaro, que liderava as pesquisas do primeiro turno na ausência do fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), foi ferido por uma facada em um comício em Minas Gerais.
Em 11 de setembro o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, substituiu Lula como candidato petista.
Após o primeiro turno das presidenciais (Bolsonaro com 46 por cento e Haddad com 29), ambos disputaram o segundo turno em 28 de outubro. Finalmente, diante das urnas ganhou o ex-capitão do Exército, com mais de 55 por cento dos votos.
No início de novembro, Moro descartou ter migrado para a política, no entanto, assegurou ser um político que não mente, apesar de ter aceitado o cargo de ministro.
Lula, de 73 anos, definiu-o então como um quadro político, mas a rapidez com que se concretizou, no entanto, foi uma surpresa.
Revelou sua estupefação não com a celeridade da justiça, mas com a metamorfose de um juiz em político.
Moro traiu suas declarações proferidas há dois anos, quando disse estar bem distante da política e deu agora sim ao convite de Bolsonaro.
Após o ex-juiz tirar a máscara, os advogados de defesa consideraram que ‘Lula é vítima de uma verdadeira caçada judicial por parte de um agente togado (Moro) que utilizou indevidamente expedientes jurídicos para perseguir politicamente um cidadão, procurando anular, uma por uma, suas liberdades e direitos’.
Espera-se que no início de 2019 a Corte Suprema coloque na agenda novamente a análise de um recurso de habeas corpus (suspenso no fim de novembro) apresentado por sua defesa para pôr em liberdade o ex-presidente.
Recentemente, o ex-líder operário afirmou em uma carta que ‘não quer favores, simplesmente justiça’, e que ‘não troca sua dignidade por sua liberdade’. Enfatizou que ‘tem a consciência mais tranquila que aqueles que lhe condenaram’.
*Correspondente e chefe da Prensa Latina no Brasil.