por Cynara Menezes, no Socialista Morena
A mesma jornalista que classificava de “mimimi” as queixas de mulheres da esquerda sobre machismo e que contribuiu para o processo de destruição das instituições agora cobra “reação delas”. Precisou Bolsonaro atacar uma profissional da “grande” imprensa e atingi-las no que lhes é de mais caro para que enxergassem o óbvio
O mundo dá voltas, e não é porque agora existe gente que acredita ser a Terra plana que ele irá parar de girar.
Há um aspecto convenientemente pouco comentado no golpe jurídico-midiático que derrubou Dilma Rousseff em 2016: a misoginia. Dilma se tornara, em 2010, a primeira mulher presidenta do Brasil, após uma campanha suja em que chegou a ser chamada de “assassina de criancinhas” pela mulher do rival, José Serra. Digo presidenta? Pois: o primeiro ato de machismo contra Dilma na imprensa comercial foi se recusarem a reconhecer o termo, perfeitamente dicionarizado tanto em língua portuguesa quanto em língua espanhola.
Ainda na lua-de-mel dos primeiros anos, mesmo para elogiá-la a mídia recorria a uma imagem machista: a “faxineira” da corrupção. Um governante homem que se notabilizasse por tal limpeza, certamente seria chamado de “gestor”. A partir do momento que percebe que não consegue indispor Dilma com Lula, principal aposta dos meios de comunicação no início do mandato, o machismo midiático se intensifica. Dilma ora é pintada como burra, ora é pintada como desequilibrada –muitas vezes por jornalistas mulheres.
O auge da misoginia com a presidenta da República viria em 2014, na abertura da Copa, onde um coro de “Dilma, vai tomar no cu” explodiu no estádio, diante do mundo inteiro, para nossa vergonha. Na época, a repórter Laura Capriglione noticiou que o xingamento foi puxado pelos que estavam no camarote, na chamada “ala VIP”. Entre “as mais entusiasmadas” era a colunista social do jornal O Estado de S.Paulo, “que deve ter achado muito fina, elegante e sincera a modalidade de protesto”.
Na posse de Dilma para o segundo mandato, Miriam Leitão e Cora Rónai, do jornal O Globo, se divertiram zombando do vestido e até do “andar” da presidenta.
Eu fico impressionada com a deselegância — do vestir, do andar, do jeito de ser.
Dilma era xingada com termos machistas nos protestos e nas redes sociais: “quenga”, “puta”, “vaca”. Jamais a voz de uma mulher jornalista em posição de destaque na imprensa comercial se ergueu para apontar a misoginia em torno do impeachment. Nem mesmo quando começaram a aparecer adesivos para colocar no tanque do carro com a imagem da presidenta, uma senhora com mais de 60 anos, de pernas abertas. Silêncio.
Quando, naquele domingo vexaminoso na Câmara, Jair Bolsonaro se pronunciou em favor do impeachment, dedicando o voto ao coronel Brilhante Ustra, “o terror de Dilma Rousseff”, o silêncio se repetiu. Não houve, por parte das mulheres da grande mídia, nem um pingo de sororidade com a mulher que ocupava o Planalto e cujo algoz nos porões da ditadura estava sendo homenageado.
Parece incrível, mas são as mesmas jornalistas que agora mostram indignação e surpresa com esta triste figura ocupando o lugar que já foi de Dilma. “Onde está a reação das instituições?”, bradava a colunista Vera Magalhães, do Estadão, sobre as insinuações de Bolsonaro em relação à repórter Patricia Campos Mello, da Folha, atacada pelo mitômano Hans River na CPMI das Fake News.
A que ponto de degradação se pode chegar? Onde está a reação das instituições? ==>>> Bolsonaro insulta repórter da Folha com insinuação sexual https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/02/bolsonaro-insulta-reporter-da-folha-com-insinuacao-sexual.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw …
Bolsonaro insulta repórter da Folha com insinuação sexual – 18/02/2020 – Poder – Folha
Declaração foi referência a depoimento de testemunha com mentiras a CPMI das Fake News; partidos e entidades reagem
folha.uol.com.br
Nem parecia a mesma Vera que chamava de “mimimi” as queixas de mulheres da esquerda sobre machismo e que participou ativamente do golpe que fragilizou as instituições democráticas do país –e agora cobra “reação delas”. Que instituições, querida?
Thais Herédia, da CNN Brasil, se espantava: “Como chegamos até aqui?” É sério que jornalistas com anos de profissão nas costas foram tão ingênuas para não prever como seria um governo Bolsonaro, que já dava mil pistas de quem era durante os 28 anos em que foi parlamentar? Até a Madonna sabia e vocês não?
E a risada da claque? Como chegamos até aqui? Além dos absurdos (e abusos) do Presidente da República, vemos escancarada a vulgaridade, a desavergonhada imoralidade (amoralidade?) de tanta gente. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/02/bolsonaro-insulta-reporter-da-folha-com-insinuacao-sexual.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw …
Bolsonaro insulta repórter da Folha com insinuação sexual – 18/02/2020 – Poder – Folha
Declaração foi referência a depoimento de testemunha com mentiras a CPMI das Fake News; partidos e entidades reagem
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