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sexta-feira, 11 outubro, 2024

BIDEN FAZ DISCURSO DO MEDO. CAPITALISMO, AGORA, TEME A GUERRA

Cesar Fonseca

Antes, o capital americano ia à guerra; agora, ele teme a guerra; esse é o fato absolutamente novo que mantém a OTAN, armada pelos Estados Unidos, na retaguarda, às portas da Ucrânia, com medo de entrar; é uma posição diametralmente oposta à que Tio Sam adotou para detonar a guerra do Iraque, em 2003; antes, ele convocava, imperialmente, a ONU para apoiar sua iniciativa bélica; se ela não topasse, ele ia sozinho e, mais, retaliava os renitentes, impondo-lhes castigos; agora, isso não mais acontece; ele corre à ONU para se proteger da guerra, não para protagonizá-la; o império americano deixou de ser protagonista por que tem o que não tinha, ou seja, um antagonista à altura: a Rússia; movimenta a ONU com seu falso apoio, negado quando tinha certeza de que seria invencível nos conflitos que inventava; inventou a mentira de que Saddam Hussein tinha armazenadas armas nucleares; não concordou com investigação prévia, como pregavam os espíritos cautelosos; criou uma tese e a deu por verdadeira, quando era mentira pura, como a história demostrou; o imperialismo americano continua produzindo, essencialmente, mentiras, mas elas não mais o motiva à ação decisiva, imperativa; ficou cauteloso, melhor, medroso, broxa; não tem mais coragem de seguir a lei de segurança neonazista que inventou para si – hoje, copiada por Bolsonaro para atacar os mais pobres – de construir, previamente, a excludência de ilicitude, ou seja, direito de matar; primeiro atirar, matar, depois, justificar a morte matada, em nome da falsa segurança dos povos; foi o que se fez contra Saddan e com dezenas de outros governantes eleitos como inimigos sem provas dos americanos; essa tática Tio Sam utilizou para colocar a OTAN na destruição de Kadafi, da Líbia; de Basar Al Assad, da Síria, além de Saddan; tentou, mas, ainda, não conseguiu fazer o mesmo com os aiatolás iranianos, ao mesmo tempo em que destruiu o governo de Dilma Rousseff, com ajuda da elite tupiniquim, liderada pelo PSDB, que levou Bolsonaro ao poder, depois do intermediário Temer, agente da CIA.

HISTORICO IMPERIALISTA DO PÓS

GUERRA NO RECADO DE KEYNES

Esse histórico precede à palavra, dessa vez, vazia de ordem imperialista para derrubar o regime russo de Putin, em escaramuças iniciadas depois da guerra fria; o objetivo inequívoco, desde então, tem sido expansão territorial rumo ao leste, depois da queda da União Soviética, seguida da derrubada do Muro de Berlim; isolar a Rússia, tomando, então, as repúblicas socialistas soviéticas , uma a uma, nesse processo de avanço territorial inexorável, eis a estratégia imperialista, para instaurar, a partir desse momento, o fim da história e a verdade única neoliberal, capaz de render toda a humanidade à verdade do capital expansionista, incontrastável. A radicalização se intensificou em 2014, e faz 8 anos que a OTAN/Tio Sam, tenta impor sua ordem na Ucrânia; agora, a farra acabou. A arma pretensamente indestrutível de Tio Sam é conhecida desde que foi recomendada pela primeira vez em 1936 por Keynes, em recado a Roosevelt, para vencer as sequelas da crise de 1929; o negócio, para o autor de “Teoria do Emprego, do Juro e da  Moeda”, era jogar ao mar a economia de mercado, vigente no século 19, que entrou em crash em 29: “Penso – disse Keynes – ser incompatível com a democracia capitalista que o governo eleve seus gastos na escala necessária capaz de fazer valer a minha tese – a do pleno emprego -, salvo em condições de guerra; se os Estados Unidos se INSENSIBILIZAREM para preparação das armas, aprenderão a conhecer sua força”; a força, naturalmente, seria a dívida pública, o déficit público americano, bancado pela moeda estatal inconversível, hoje rediscutida como teoria das finanças funcionais, que enterra o neoliberalismo; com a solução keynesiana, o déficit americano, em 1944, iria a 144% do PIB, graças à credibilidade alcançada pelo dólar, que se transformaria, depois da guerra, na moeda hegemônica das relações de trocas internacionais; essencialmente, a característica fundamental da economia americana seria realização de déficit orçamentário(balança comercial deficitária), de um lado, e superavit financeiro(emissão monetária), de outro; com isso, acumulou senhoriagem poderosa para bancar o Plano Marshall, que tirou a Europa do buraco; a balança comercial deficitária era compensada com o balanço financeiro superavitário. Até quando?

INÍCIO DO FIM DA FESTA

A festa que ergueu o way of life seria brecada por Nixon, em 1971, quando os aliados tentaram resgatar o ouro que depositaram nos Estados Unidos para dar lastro à moeda americana; Nixon suspendeu o padrão ouro e deixou a moeda flutuar, tendo como lastro não mais o ouro, mas a bomba atômica; iniciava, então, no final dos anos 1980, com o Consenso de Washington, a financeirização econômico global; a derrota da União Soviética decorreria da incapacidade do comunismo de acompanhar os Estados Unidos na emissão monetária, ou seja, na acumulação de déficit para tentar se armar, tal como Tio Sam; os comunistas não tiveram fôlego para acumular déficits para sustentar a economia de guerra; esta se mostrou funcional para o capitalismo, mas disfuncional para o comunismo; o âmago da macroeconomia americana, diz Lauro Campos, em “A crise da ideologia keynesiana”(1980, Campus; 2016, Boitempo), é a guerra; sem lastro e sem moeda hegemônica nas relações de trocas, o comunismo entraria em colapso; era o que Tio Sam buscava para mudar o regime erguido com Revolução de 1917, inimiga do capitalismo; mutatis mutantis, depois da queda do Muro de Berlim, em diante, quem não pode mais, paulatinamente, acumular déficits sem limites, foram os Estados Unidos, quadro que se revela, hoje, agudo, rachando o Império, atualmente, em profundas contradições.

KEYNES NÃO SE REVELOU ETERNO

Os Estados Unidos se INSENSBILIZARAM tanto, como pregou, Keynes, que a capacidade de Tio Sam de suportar dívidas diminuíram quando mais se foram fortalecendo os concorrentes; a China, que não obedeceu o Consenso de Washington, virou fantasma; por isso, cresceu o medo de Washington de acumular déficits, temeroso de que tal prática resulte em corrida contra o dólar; nesse sentido, os chineses, que acumulam reservas superiores a 5 trilhões de dólares, viraram o perigo mortal para o imperialismo expansionista, que segue a lei de Colbert, ministro das Finanças de Luís 14, segundo o qual “a dívida é o nervo vital da guerra”; no momento, a tarefa fundamental do BC americano é enxugar a liquidez mundial, que persiste depois do crash de 2008, para evitar novo crash; quem tem medo do déficit, agora, são os Estados Unidos; por isso, não têm, na presente guerra no Leste, capacidade infinita de ir à guerra, como foi antes, porque o elevado endividamento público americano, diante da concorrência chinesa, no mercado internacional, virou veneno, quando, antes, era remédio salvador; Tio Sam, sobretudo, tem medo de o mercado financeiro, no contexto da financeirização, reduzir, crescentemente, apetite pelos papeis americanos; sem estes, como o império continuaria, ad infinitum, se autofinanciando sem ter lastro real? O lastro forte, depois do ouro, passou a ser a bomba, mas essa os concorrentes poderosos também a possuem; e agora?

DISCURSO DO MEDO IMPÉRIO IMPOTENTE

TEMEROSO DO COLAPSO CAPITALISTA

Tio Sam não pode ousar ir à guerra como antes, por temer, com a ascensão de poderosas economias concorrentes, especialmente, China, em apoio à Rússia, o perigo de corrida contra o dólar, cercado de cuidados reiterados pelo FED, temeroso de estouros monetários, como o que aconteceu em 2008; se, presentemente, os efeitos negativos do crash de 2008 ainda estão perigosamente presentes, imagina, agora, em meio à guerra!!!

O urso russo tão poderoso ou mais em armas que Tio Sam chama-o à briga, dando breque na expansão da OTAN no Leste; diante desse ultimato, o Império não se vê mais com aquele impulso e aquela força de antigamente; precisa de doses maciças de viagra para manter a potência em declínio; eis porque o capital que, antes, ia, sem medo, à guerra e à revelia da ONU, como ocorreu na guerra do Iraque, agora, teme a guerra; e o que fazem seus aliados? Sabendo das limitações do Império, os sub-aliados, capachos(Inglaterra, França, Itália, Japão, Holanda etc), temem seguir o chefe de olho fechado no boicote a Putin; as sanções econômicas, certamente, voltarão contra eles em forma de recessão e crash mundiais; caminha-se, portanto, para nova divisão internacional do trabalho, como ocorreu no pós segunda guerra, em Bretton Woods, 1944; Nada será como antes diante do urso poderosamente armado; a Ucrânia será deixada de lado pelos seus falsos aliados que a querem, apenas, à distância; a OTAN está no brejo, incapaz de um enfrentamento nuclear , enquanto Tio Sam não quer saber disso; a paz, agora, é discurso dissuasório do capital que não tem mais força de ir ao enfrentamento bélico, temeroso de uma corrida à moeda imperialista e o colapso do capitalismo. Foi isso que ficou claro no discurso da União, essa semana; ficou explícito o discurso do medo.

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