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quinta-feira, 28 março, 2024

Balanço do Festival de Cinema de Berlim

Rui Martins
O Festival confirmou sua natureza política. O Urso de Ouro concedido ao filme iraniano Não há Nenhum Mal, de Mohammad Rasoulof, confirmou essa preocupação. O filme brasileiro Todos os Mortos poderia ser um opção, se não houvesse o filme iraniano, porém não obteve a penetração esperada junto à crítica e nem junto ao júri, que lhe teria dado algum prêmio.
Teremos de nos habituar à nova realidade: com as atuais dificuldades criadas aos produtores de filmes haverá, a partir de agora, uma diminuição de títulos brasileiros nos festivais. Mas é verdade que, a exemplo do que aconteceu durante a ditadura militar, os filmes brasileiros terão apoio no exterior seja dos festivais, como de distribuidores e da imprensa.
O balanço final desta Berlinale é magro para o Brasil: dos 18 filmes levados às diversas mostras, só um foi premiado, Meu Nome é Bagdá, da cineasta Caru Alves de Souza, na mostra Geração 14Mais. Porém, o público lotou geralmente as salas com filmes brasileiros.
Foi o caso do filme de adolescentes, também na mostra Geração 14Mais, Alice Júnior, onde houve standing ovation, no cine Urania, por mais de cinco minutos. Dirigido por Gil Baroni e já com  sucesso no Brasil, tem no papel principal Anne Celestino Motta, a vida e alma do filme, no papel da trans Alice, na verdade Jean Genet no registro civil.
Os filmes focando histórias LGTBG terão ainda maiores dificuldades para realização no Brasil, dada a homofobia e transfobia declaradas do presidente Bolsonaro e dos pastores evangélicos.

O amor na classe operária

Um filme francês não premiado, me chamou bastante a atenção: foi o Sal das Lágrimas, do realizador Philippe Garrel. Histórias de amor em preto e branco de um jovem do interior da França, Luc, vivido por Logann Antuofermo, um novo ator que surge.
A importância desse filme é a de  mostar um quadro operário. Luc é filho de um carpinteiro que deseja se aperfeiçoar na marcenaria e vai a Paris, para um curso de aperfeiçoamento. Mostra a vida do pessoal que trabalha sem as lantejoulas dos filmes americanos, nos quais amor vem geralmente misturado com personagens de classe média para cima.

Um filme romântico à maneira dos anos 50/60, no estilo de filmes de Godard e Truffaut, incluindo mesmo o triangulo amoroso consentido. A época não está para o romantismo e muito menos para amores entre operários. Passou despercebido.
Sem coronavirus na Berlinale
Havia a expectativa de uma grande diminuição de participantes, nas projeções para a crítica e para o grande público, em consequência dos riscos do coronavirus. Porém, apenas uma centena de chineses anularam suas vindas.
O Festival transcorreu tranquilo sem controles, sem máscaras e mesmo sem grandes preocupações com riscos de atentados. Foi um Festival normal, sem os excessos de proteção contra o virus tomados nestes dias pela Suíça e pela França.
A RELAÇÃO DOS PRINCIPAIS PRÊMIOS

BERLIM 2020

URSO DE OURO

“There Is No Evil”

De Mohammad Rasoulof (Irão/Alemanha/República Checa)

GRANDE PRÉMIO DO JÚRI

“Never Rarely Sometimes Always”

De Eliza Hittman (EUA)

PRÉMIO DA 70ª BERLINALE

“Effacer l’historique”, de Benoît Delépine e Gustave Kervern (França/Bélgica)

MELHOR REALIZAÇÃO

Hong Sang-Soo por “The Woman Who Ran” (Coreia do Sul)

MELHOR ATRIZ

Paula Beer por “Undine”, de Christian Petzold (Alemanha/França)

MELHOR ATOR

Elio Germano por “Volevo Nascondermi”, de Giorgio Diritti (Itália)

MELHOR ARGUMENTO

Fabio e Damiano D’Innocenzo por “Favolacce”, de Fabio e Damiano D’Innocenzo (Itália/Suiça)

MELHOR CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA

Jürgen Jürges

Pela direção de fotografia de “DAU. Natasha”, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel (Alemanha/Ucrânia/Reino Unido/Rússia)

MELHOR PRIMEIRA OBRA

“Los Conductos”, de Camilo Restrepo (França/Colômbia/Brasil)

MELHOR DOCUMENTÁRIO

“Irradiés”, de Rithy Panh (França/Cambodja)

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