O evento é realizado em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O encontro desta segunda contou com a presença de nomes como Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e ex-presidente do Brasil, Michelle Bachelet, ex-alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos e ex-presidente do Chile, além do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e Esther Dweck, ministra da Gestão.
Em sua fala de abertura, Mercadante destacou a encruzilhada em que o Brasil e o restante da América Latina se encontram.
Políticas de protecionismo comercial e subsídios voltaram a ser o centro das ações dos Estados Unido, da Europa e da China, que concentraram 73% das políticas industriais ao redor do mundo.
“Estamos assistindo um desacoplamento, […] uma fragmentação” entre as economias orientais e ocidentais, afirmou Mercadante. “É o maior deslocamento das cadeias globais de valor.”
“E os países do Sul enfrentam um gigantesco dilema […], que é como se posicionar e como participar desse reordenamento econômico global.”
Nesse sentido, o BRICS tem um “papel decisivo” na geopolítica mundial, “sendo mais importante, do ponto de vista econômico, do que o próprio G7”.
“Além disso, os avanços tecnológicos de alguns dos países do BRICS […] China, Índia e Rússia, desafiam a dominância do G7 em inovação”, avaliou Dilma Rousseff.
Um campo no qual essas nações desafiam a hegemonia ocidental, exemplifica a presidente do NBD, é no desenvolvimento de soluções
contra o uso do dólar enquanto arma, como se tornou o SWIFT.
“É o caso da plataforma mBridge, que articula países da Ásia, do Oriente Médio e da nossa América Latina; da UPI [Unified Payments Interface; Interface de Pagamentos Unificada, em tradução livre], que é uma plataforma baseada na Índia; e o próprio SPFS [Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras] da Rússia.”
‘Não pode ser o Estado mínimo’
Nesse contexto, “o papel do Estado voltou a ser um tema de debates mundo afora”, declara Rousseff.
“O denominado pensamento único que construiu a falsa oposição entre Estado e mercado e impôs ao Sul Global o preconceito contra a atuação do Estado vem sendo questionado pela própria atuação das economias desenvolvidas.”
“O Consenso de Washington […] não é mais consenso nem em Washington e, pelo que me consta, nem em Chicago [cidade que nomeia a escola de economia neoliberal mais proeminente dos EUA]”, resume Mercadante.
As medidas de protecionismo e subsídios industriais não são o único aspecto desse retorno ao Estado enquanto ator econômico. Nos últimos anos, as economias desenvolvidas têm se baseado em uma “brutal elevação da dívida” como forma de manter o crescimento econômico.
A dívida pública dos EUA atingiu os US$ 34 trilhões (R$ 188,9 trilhões), lembra Dilma.
O caso norte-americano ainda enfraquece o desenvolvimento dos demais países, uma vez que “sequestra liquidez internacional e atrai uma parte significativa dos recursos internacionais”, que estariam disponíveis para as economias emergentes.
“A mão que deveria ser invisível se transforma na mão mais visível do Estado, praticando uma política industrial ativa e uma clara intervenção, seja na economia doméstica, seja na internacional”.
“Na realidade, não é que estão chutando a escada. Tem gente querendo derrubar o prédio”, crava Mercadante. “O Estado, para construir um novo futuro, não pode ser o Estado mínimo.”