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quarta-feira, 12 março, 2025

Assim funciona o imperialismo: USAID, uma organização criminosa

O grande corruptor da mídia internacional chega ao seu fim (Foto: Manifestações de condolências na porta da USAID

Daniel Vaz de Carvalho [*]

1 – Uma organização criminosa

Desta forma o líder oligarca, Elon Musk qualificou a USAID, dizendo que “era hora de ela morrer”. Compreende-se a irritação:   gastam dinheiro sem resultados palpáveis em termos de lucros obtidos e a corrupção está instalada. Para o secretário de Estado Marco Rubio, administrador interino da USAID, “agora está bastante claro que parcelas significativas do financiamento da USAID não estão alinhadas com os principais interesses nacionais dos Estados Unidos”. Numa entrevista à Fox News, Rubio disse que a USAID deveria desaparecer: “a atitude básica deles é que não trabalham para ninguém, trabalham para eles próprios. Nenhuma agência do governo pode dizer isto”.

A USAID aparece como um dos sacos sem fundo do orçamento. Disfarçada de financiadora da “sociedade civil” e da “promoção da democracia”, serviu para alimentar a agitação em favor de mudanças de regime em países que se distanciavam dos EUA. A USAID promoveu-se como lutando por “valores democráticos no exterior” e “um mundo livre, pacífico e próspero”, mas era utilizada através do “poder económico” para “persuadir adversários e aliados a modificarem o seu comportamento”. Um instrumento de guerras não convencionais dos EUA, basicamente com dinheiro e propaganda.

Robert Kennedy Jr. disse ao jornalista Tucker Carlson: “A USAID não faz democracia de verdade, a CIA não faz democracia, a CIA derrubou, acho, 83 governos entre 1947 e 1997. Isso é um terço dos governos na Terra, e a maioria eram democracias”.

Os funcionários da USAID são em grande parte agentes da CIA desempenhando um papel crucial na incitação à violência, tumultos e mudanças de regime por todo o mundo, mas ignorando os problemas das nações mais pobres, designadamente africanas, atingidas pela fome.

A USAID era um mecanismo central do poder unipolar. Uma poderosa máquina financeira associada a corrupção e poder. Os seus processos tinham em vista em primeiro lugar garantir a fidelidade aos ditames globalistas, afixando desde logo como totalitarismo, antidemocrático e ameaça aos interesses do “mundo livre” o que expressasse veleidades de independência e soberania. A tese de que era necessário corrigir as nações cujo povo “votava mal” era um princípio fundamental.

A administração Trump pretende eliminar cerca de 90% dos contratos estrangeiros da USAID. Após uma revisão ordenada por Trump, cerca de 5800 subsídios emitidos pela USAID, avaliados em aproximadamente 54 mil milhões serão cancelados, de acordo com um memorando do Departamento de Estado citado pelo Washington Free Beacon.

2 – Financiamento de grupos terroristas

Desde que servissem os interesses que supostamente seriam os dos EUA, grupos mesmo agindo com práticas terroristas foram financiados. Um dos beneficiários dos fundos da USAID foi a Fundação Falah-e-Insaniat, uma organização dita de caridade ligada ao banido Jamat-ud-Dawa (JuD), uma fachada para o Lashkar-e-Taiba (LeT), o maior grupo terrorista do sul da Ásia. O LeT foi responsável pelos ataques de 26 de novembro de 2008 em Mumbai (Índia), que mataram 166 pessoas e deixaram mais de 300 feridos.

Tanto o LeT quanto o JuD são consideradas organizações terroristas pela Índia dado o seu envolvimento em vários ataques, incluindo em Jammu e Caxemira, alimentando a violência e a instabilidade. Apesar dos factos óbvios e investigações sobre aquelas ligações, a USAID continuou o financiamento, apesar de banidas como grupos terroristas pelos EUA.

Scott Perry, general retirado e congressista, afirmou que 697 milhões de dólares foram entregues anualmente como financiamento “mais as remessas de fundos em dinheiro” para apoiar grupos terroristas como Madrasas, ISIS, Al-Qaeda, Boko Haram, ISIS-Khorasan e campos de treino de grupos qualificados como terroristas pelos EUA.

Pelo menos 9 milhões de dólares em “ajuda humanitária” destinada a sírios deslocados acabaram nas mãos de grupos ligados à Al-Qaeda. Mahmoud Al Hafyan, comandava uma ONG síria que recebeu 122 milhões da USAID entre 2015 e 2018; 63 milhões foram para grupos afiliados à Al-Qaeda em Idlib ao longo de dois anos. De acordo com a influenciadora no X, Syrian Girl, mais de 12 mil milhões entre 2011 e 2020 foram dados a fações jihadistas na Síria.

3 – Outros instrumentos imperialistas

A USAID está longe de ser o único instrumento de intromissão de Washington. A National Endowment for Democracy (NED), apelidada por Musk de “o golpe”, autodenomina-se uma ONG independente, privada e sem fins lucrativos, dedicada a “fortalecer instituições e valores democráticos” em todo o mundo. Na realidade, é um braço da CIA, financiada com 315 milhões de dólares por ano.

A USAID, a NED e a UE conspiraram para derrubar Viktor Orban em 2022. Orban venceu a reeleição apesar da ONG Action for Democracy, com ligações a George Soros ter canalizado cerca de 7,6 milhões de dólares para a oposição. Após a eleição a USAID, relançou programas na Hungria, alegando apoiar “instituições democráticas” e os media “independentes”.

No início de 2023, Samantha Power, então líder da USAID, anunciou ter sido enviada à Hungria para “proteger os direitos humanos” e enfrentar os “desafios da democracia”. Em dezembro de 2023, a Hungria criou o Gabinete de Defesa da Soberania após descobrir que partidos de oposição e meios de comunicação social tinham recebido fundos estrangeiros para influenciar eleições.

Na Eslováquia a oposição desencadeou protestos depois do primeiro-ministro Fico ter visitado Moscovo. Segundo o vice-líder do partido do governo, a oposição tem laços com os mercenários da Legião Georgiana da Ucrânia, culpados de crimes de guerra e financiados com dinheiro da USAID e de SOROS.

A USAID reconheceu abertamente o seu papel em operações de mudança de regime por meio de programas de “democracia” – “revoluções coloridas” – na Geórgia, Ucrânia, Quirguistão. Na Geórgia o valor da “ajuda” e “programas de democracia” dos EUA estão reportados como sendo 103 milhões (2002),141 milhões (2003) entre outras entregas, via IRI e NDI para ONG, ativistas e media. Em 2004, os EUA admitiram que “ajudaram” a preparar as eleições de 2003 na Geórgia, com ONGs financiadas pelos EUA a desempenharem um papel fundamental na mudança de regime. Para influenciar as eleições de 2024, segundo o presidente do Parlamento, a USAID aplicou cerca de 41,7 milhões de dólares.

No Afeganistão, a USAID esteve ligada ao comércio de ópio, através de financiamento de projetos de desenvolvimento fracassados, de acordo com um relatório de 2016 do Inspetor-Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR), tendo investido pelo menos 330 milhões de dólares entre 2005 e 2008, nesses programas. Fundos que serviram para impulsionar o cultivo de papoila de ópio, revelou John Sopko do SIGAR. As áreas para ópio atingiram 328 000 hectares e a produção de ópio e seu derivado a heroína, alcançou um valor de 6,6 mil milhões de dólares em 2017, aproveitado em parte para financiamento dos talibãs.

A NED, canalizou fundos, alimentou protestos e manipulou narrativas para promover os interesses imperialistas em mais de 100 países. Atuou em atividades de “promoção da democracia”, desde a sua fundação em 1983, comprometendo milhões de dólares em projetos no Afeganistão, Cuba, Europa Oriental e União Soviética.

No Quirguistão a “revolução das tulipas” em 2005, foi fortemente financiada através de ONG locais. “Programas de democracia”, ativistas e media, receberam antes das eleições de fevereiro de 2005, 56,6 milhões (2003) e 50,8 milhões (2004). O Instituto Open Society de George Soros contribuiu com 5 milhões (2003) para a Universidade Americana da Ásia Central no Quirguistão.

No Líbano a “revolução do Cedro” em março de 2005, com 1 milhão de libaneses em protestos exigindo a retirada militar da Síria, abriu caminho para o líder pró-EUA Saad Hariri. O relatório da USAID de 2006 afirmou que anos de trabalho lançaram as bases para a revolta, triplicando a “ajuda” dos EUA de 15 milhões para 45 milhões.

A NED investiu 100 milhões de dólares para impulsionar a “democracia” no Paquistão, Nepal, Sri Lanka, Tailândia e Filipinas, treinando jornalistas e estabelecendo colaboração com determinados sectores da sociedade. Na Indonésia prepararam o terreno para uma “revolução colorida”, financiando ativistas da oposição. No Paquistão (2022) Imran Khan alega que os EUA (com o envolvimento de Nuland) orquestraram a sua remoção por meio de um voto de desconfiança.

No Bangladesh, em 2024, a primeira-ministra Sheikh Hasina acusou Nuland de apoiar esforços para removê-la depois que ela recusou acesso militar dos EUA. O país foi então objeto das habituais ações de mudança de regime, protestos, conflitos religiosos, acabando por ser designado um governo pró-EUA. A principal razão, de acordo com o documento vazado, era minar a influência da Índia na região.

Na Índia, a NED financiou ONGs e media tentando minar o governo do Partido do Povo Indiano de Narenda Modi. Em 2016, a Índia colocou a NED numa lista de observação por violar a Lei de Regulamentação de Contribuições Estrangeiras sobre doações estrangeiras para entidades locais. De 2002 a 2022, a USAID terá destinado entre 16,23 milhões a 400 milhões a grupos como a Tides Foundation e o IREX, financiando interferência e desinformação anti-Índia, como revelado pelo DisinfoLAb. Desde 2020, a Índia está na lista negra da Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), vinculada a indivíduos apoiados pelas ONG de Soros. A Freedom House financiada pela USAID apoiou o movimento separatista da Índia, o sihk Khalistani, encobrindo as ações terroristas deste grupo e fez campanhas acusando a Índia de “repressão”.

4 – A USAID e a Internews expostas pela WikiLeaks

A USAID é ou foi um instrumento fundamental para a influência global do imperialismo tendo financiado com 472,6 milhões de dólares a Internews Network. Fundada em 1982, a Internews diz ajudar veículos de comunicação a alcançar sustentabilidade financeira e promover “informações confiáveis”. A Internews, também recebeu financiamento da AOL-Time Warner Foundation, da Bill & Melinda Gates Foundation e de outros doadores privados. Apresenta-se como uma ONG destinada a apoiar, em cerca de 100 países, os media que considera independentes – não do seu financiamento, claro! – como estações de rádio e televisão, agências de notícias, cineastas, treino de jornalistas.

Em 2023, colaborou com 4291 órgãos mediáticos, produziu 4799 horas de transmissões, atingindo 778 milhões de pessoas, treinou mais de 9000 jornalistas, apoiou iniciativas de censura nas redes sociais. Tem escritórios importantes nos EUA, Londres, Paris e sedes regionais em Kiev, Bangkok e Nairóbi.

Associated Press recebeu em 2024, cerca de 1,2 milhão, em 2023, mais de 4 milhões, em 2022 mais de 3 milhões. O New York Times em 2024, 4,1 milhões em 2023, cerca de 2 milhões, tal como em 2022. Político em 2022, cerca de 700 mil dólares; em 2023, quase 600 mil; em 2024, cerca de 8,1 milhões. A “independente” BBC em 2024, mais de 3 milhões, tal como em 2023 e 2022. A Reuters recebeu 9 milhões, disponibilizados pelo Departamento de Defesa, para um programa de “engenharia social em larga escala” entre 2018 e 2022 sob o item de “defesa cibernética”.

Por exemplo, para promover “jornalismo responsável de alta qualidade” foram dados 10,7 milhões da USAID à Libéria; 11 milhões para “media que viabilizam a democracia” na Moldávia; 19,5 milhões para a Internews “posicionar a sociedade jordana para defender os interesses dos cidadãos”. O Departamento de Estado dos EUA contribuiu com 1,48 milhões para estabelecer “serviços de informação seguros, acessíveis e que salvam vidas” no Sudão do Sul.

O jornalista Udo Ulfkotte, ex-editor do Frankfurter Allgemeine Zeitung e conselheiro do governo Kohl no final dos anos 90, disse em 2014, ao promover o seu livro “Jornalistas de aluguer: Como a CIA compra as notícias”:   “Fui instruído para mentir, trair e não contar a verdade ao público”. De acordo com Ulfkotte, a CIA e a inteligência alemã (BND), subornam jornalistas para escrever artigos de propaganda pró-OTAN, e “é bem sabido que alguém pode perder o emprego nos media se não cumprir a agenda pró-ocidental”, tal como descreve no seu livro sobre o padrão de corrupção existente nos media. Admitiu ter espalhado propaganda anti-russa e manipulado notícias sob influência ocidental. Revelou que muitos jornalistas eram, na verdade, “cobertura não oficial” de agências de serviços secretos (inteligência). Acusou os media alemães e americanos de empurrarem a Europa para a guerra com a Rússia.

Com as revelações sobre como a USAID e outras ONG canalizaram milhões para bolsas de jornalismo, será possível acreditar que isso alguma vez foi sobre “jornalismo independente”? A questão é que todo este dinheiro vindo de uma forma ou outra (isenção de impostos) do OE dos EUA, traz magros resultados, caos, instabilidade, o que não agrada à oligarquia. Musk compara o custo do investimento com o lucro obtido e, com Trump, pretende pôr fim ou pelo menos, veremos, remodelar está farsa, incluindo os Radio Free Europe, Radio Liberty e Voice of America: “são apenas pessoas falando sozinhas enquanto queimam mil milhões de dólares por ano”. Musk já anteriormente tinha acusado o governo de Biden, de ter usado fundos orçamentais para financiar grandes media ocidentais na promoção dos interesses do Partido Democrata.

5 – USAID e Samantha Power

Samantha Power tem no seu currículo histórias muito comprometedoras. Em 2022, revelou como a sua agência interferia em assuntos internos de outros Estados, mas com as melhores intenções em mente. Ela explicou como a USAID visa de facto influenciar “eleições estrategicamente importantes” no exterior por meio do chamado “Fundo de Defesa das Eleições Democráticas” e como procura proteger jornalistas alinhados com os EUA de processos judiciais por meio do “fundo de seguros” da Reporters Mutual.

Pressionou pela intervenção da NATO na Líbia, levando a anos de guerra civil, ascensão do ISIS e grupos extremistas, tráfico de pessoas em massa e escravidão. Samantha Power é considerada uma amiga de Israel cúmplice na crise humanitária de Gaza, embora tenha ganho um Prémio Pulitzer por um estudo sobre genocídio. Apoia a ajuda militar dos EUA a Israel, apesar das mortes de civis e do sofrimento humano. Teve interferência em governos estrangeiros como no Zimbabué (2024). Proporcionou ajudas de forma seletiva favorecendo setores politicamente alinhados, ignorando graves crises humanitárias.

A traficância de favores e corrupção não estão ausentes desta organização acarinhada pela UE/NATO. Por exemplo: pouco mais de 2% dos mais de 4,4 mil milhões destinados pela USAID para o Haiti chegaram ao país, 56% dos fundos foram depositados em empresas sediadas em Maryland, Virgínia, e em Washington DC, enquanto 41% foram para “outras organizações”.

Musk, diz ter sido informado que existem atualmente mais de 100 mil milhões por ano em pagamentos a indivíduos que nem sequer têm um número de identificação temporário. Parece claro que estará aqui incluída muita gente cujo nome não deve ser divulgado por razões óbvias quanto à sua “independência” e “integridade”. São muitas vezes os mais assanhados contra a corrupção…

Musk do alto dos seus 440 mil milhões de dólares, aponta casos de “modestos servidores públicos” como Liz Warren senadora que acumulou 12 milhões, Samantha Power 30 milhões e mais de 150 milhões para Nancy Pelosi ex-presidente da Câmara dos Representantes.

Com a cobertura dos grandes media controlados, grupos escolhidos e treinados para o extremismo e populismo, desencadeiam a agitação a partir de falsas notícias e o empolamento de problemas existentes, mesmo normais em qualquer país, transformando-os em graves crises com discursos de ódio, racismo, luta contra a corrupção, promoção da democracia em termos abstratos, na realidade neoliberalismo validado por Washington e apoiado pelos vassalos da UE/NATO.

Com esta atuação o mundo unipolar acabou por merecer a qualificação de “império do caos”, mergulhado em permanentes crises políticas, económicas, militares. A oligarquia dos EUA verifica que nada lucra com esta situação, reconhecidamente insustentável política e financeiramente, dada a ascensão dos BRICS e a crise da dívida.

Foi assim detetada e evidenciada a falta de supervisão nos gastos da USAID e não só. Musk através do DOGE pretende uma redução de 92% nos gastos da USAID, interromper contratos e reduzir o pessoal da USAID de 10 mil para 300, com o restante da equipa e das responsabilidades transferidas para o Departamento de Estado.

Os gastos da USAID “são totalmente inexplicáveis” disse Trump, alargando está verificação para o Pentágono, querendo uma redução de 8% no orçamento do Departamento de Defesa por ano. Também a NASA está sob revisão para “encontrar e consertar desperdícios, fraudes e abusos”. Uma auditoria será aplicada à USAID e à ajuda externa do Departamento de Estado, sendo identificados 4,4 mil milhões em subsídios a serem eliminados, pretendendo-se “reformar a maneira como os Estados Unidos fornecem assistência ao estrangeiro” e abordar “décadas de deriva institucional”.

A compreensão do que se tem passado ficaria incompleta sem analisar a ação da USAID e parceiros na Rússia e na Ucrânia. É o que propomos seguidamente.

11/Março/2025

Fontes:

  Geopolítica ao vivo, Telegram

  Obscurité mourante, Le Saker Francophone

Este artigo encontra-se em resistir.info

 

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