Pedro Augusto Pinho*
Há menos de 15 dias escrevi sobre a possibilidade do Presidente Lula ser assassinado na prisão. Dentre os comentários recebidos, um tocou-me pelo aspecto realmente complexo: por que são assassinadas as lideranças que propõem ou executam mudanças no perfil da sociedade? A tal ponto isto é constante que em homilia de Missa celebrada, durante a 56ª Assembleia Geral da CNBB, o Bispo celebrante mencionou as inúmeras mortes de líderes camponeses.
Primeiro devemos distinguir estas lideranças reformistas ou transformadoras daquelas verdadeiramente revolucionárias. Estas últimas eliminam, no processo da transformação social, quer pela morte quer pela exclusão do País, os inimigos da radical alteração. As forças cujo interesse, o poder, o dinheiro advinham da estrutura até então existente, do status quo, da imobilidade social, daquele vigente e excludente sistema são destruídas.
E sempre se pergunta, por que não pode haver diálogo, por que não deixar Lula, que permitiu o lucro dos bancos, dos rentistas, manteve a não tributação dos dividendos, como concedera FHC, e tantos outros privilégios para os 1%, continuar governando?
Porque esta oligarquia, este poder das direitas, estes ganhos se fundam na fraude, no engodo, na manutenção da ignorância e na ausência de crítica. Lembre o caro leitor com que fúria se dirigiu este poder da minoria contra a melhoria do ensino, taxada de escola ideológica, logo transformada, por sua ação, na escola do partido único, na escola bolsonara.
Vamos tomar um caso bem atual do desmonte do Estado Brasileiro promovido pelos golpistas de 2016, pelo governo Temer, pelo corrupto congresso (exceções nos dedos da mão), pelo judiciário velhaco e retrógrado, quiçá corrompido na origem – as privatizações.
As privatizações, para melhor gerenciamento do Estado, seriam de gargalhar se não fosse o doloroso sofrimento que se segue a elas.
Vejamos onde reside a tão decantada eficiência privada. Ora, na apropriação, legal ou legalizada a posteriori, dos recursos públicos. O caro leitor ainda não associou esta eficiência aos perdões de dívidas, às isenções tributárias, aos créditos tributários, aos arrochos salariais, aos empréstimos a juros negativos, que só existem para as empresas privadas?
É uma mentira que vem de séculos: Estado ineficiente, empresa privada capaz. Esta fraude que começa no jamais cumprido “ideal” do século XVIII, de um liberalismo político e econômico. Nem um nem outro se tornaram realidade. As vitoriosas empresas estadunidenses, os grandes empreendedores, surgiram dos planos e recursos governamentais, entregues para o lucro de poucos. Assim fizeram suas fortunas e colocaram seus nomes na história dos Estados Unidos da América (EUA).
O mesmo se pode apontar por toda Europa. As rentistas fortunas dos nobres ingleses surgiram de empréstimos aos monarcas, e vem sendo mantidas com as dívidas, públicas e privadas, até hoje. E é neste modelo da apropriação dos recursos públicos, realizado por uma só classe, que está o cerne da corrupção, divulgado como “eficiência privada”.
Abrir esta caixa de segredos de polichinelo é a tormenta dos que excluem, dos poderosos de qualquer época, dos eternos inimigos de socialização dos Estados que os impediria de cometer estes permanentes assaltos aos mais pobres, aos desvalidos.
Aqui no Brasil se desfigura nossa história. Foram os empréstimos de bancos ingleses que mantiveram a corte dos Pedro e toda sua aristocracia. E quem pagou esta dívida? O povo, os que tinham sua vida onerada por impostos que nunca chegavam aos mais ricos, pois estes eram beneficiados de isenções, estímulos para produzir (seu ócio, evidentemente), recuperações tributárias e todo arsenal de lícitas apropriações imorais, aéticas, corruptas.
A efetiva corrupção, que coloca apenas petistas atrás das grades, sempre foi a “eficiência” dos empresários, a “sabedoria” do mercado, os “ganhos da ociosidade rentista”, dos “latifundiários escravistas”, em todos os tempos.
Levantar pela capacitação crítica, pelo fim da ignorância – tão ardentemente mantida pelos poderes – pela disponibilidade dos dados corretos – sempre distorcidos e fraudados – a verdadeira realidade, é que provoca exigência de golpes.
Impossível conviverem a corrupção do poder com a democracia, que possibilita o conhecimento desta farsa. E este poder hoje, desde os anos 1980, é aquele do sistema financeiro internacional, da banca, como o chamo.
É a banca que, também pela fraude sobre a moeda brasileira, colocou seu candidato no governo, também pela fraude o manteve por tempo superior ao previsto na constituição, que vem alterando esta constituição para seu único benefício e para tirar direitos humanos, mais do que os sociais, de todo povo, como a prestação dos serviços de saúde, da água, para manter a vida, da eletricidade para trazer um mínimo de contemporaneidade à existência.
É esta banca que lhe doutrina pelos seus meios de comunicação monopolistas que o Estado é ruim e as privatizações são a solução.
Veja suas contas de água, de energia, de telefone, compare-as com as do tempo que o Estado lhe prestava estes serviços. E não vá me dizer que os apagões elétricos que se sucedem desde FHC, que os apagões hídricos que atingem a mais rica capital brasileira, que as constantes falhas e cortes nas comunicações são devidas ao Estado. Estes serviços estão privatizados há mais de 20 anos.
E busque no exterior. Encontrará a mesma realidade. É fruto do capitalismo em sua fase mais acirrada e cruel: a financeira. Sociedades mais informadas, com maior senso crítico, acordam e revogam privatizações, como o fez recentemente Berlim com os serviços de saneamento público, do fornecimento de água à população que voltou ao domínio estatal.
E é este capitalismo que mata, que assassina lideranças populares, que destrói povos e etnias, que, em nosso País, é o permanente executor das crônicas de mortes anunciadas.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado