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quarta-feira, 9 outubro, 2024

As opções russas num mundo a caminho da guerra

Mapa da Ucrânia

The Saker

O mundo encaminha-se para a guerra e está nessa direção desde há muito. Várias vezes, quase no limite, o ocidente decidiu recuar. Mas cada vez que o fazia, as suas elites dominantes sentiam duas coisas: 1) sentiam ainda mais ódio pela Rússia por tê-los forçado a recuar e 2) interpretavam o facto de nenhuma guerra com tiros ter acontecido (ainda) como a evidência, pelo menos nas suas mentes, de que estar à beira da guerra é um exercício bastante seguro. No entanto, uma grande guerra com tiros é perfeitamente possível em qualquer uma das seguintes localizações, ou mesmo em várias simultaneamente: (sem ordem específica)

  1. Guerra EUA-China sobre Formosa
  2. Ataque anglo-sionista contra o Irã
  3. Uma guerra envolvendo os Estados Bálticos mais a Polónia (3B+PO) contra a Bielorrússia
  4. Uma guerra da Ucrânia contra Lugansk e Donetsk (LDNR) + Rússia
  5. Uma guerra OTAN-Rússia na região do Mar Negro
  6. Retomar a guerra entre a Arménia e o Azerbaijão

Como podemos ver, todas estas guerras potenciais poderiam envolver a Rússia, seja diretamente (3,4,5) ou indiretamente (1,2,6). Examinemos então as opções russas no envolvimento direto das guerras 3, 4 e 5. A primeira coisa que considero importante notar é que, embora a Ucrânia não tenha perspetivas de se tornar um país membro da OTAN, alguns dos seus Estados membros já tomaram os seguintes passos para transformar a Ucrânia de facto num protetorado da OTAN:

  1. Apoio político total e incondicional ao regime nazi de Kiev e a quaisquer das suas ações
  2. Apoio económico mínimo, apenas o suficiente para manter os nazis no poder
  3. Entrega mínima de armas às forças ukronazis
  4. Implantação de pequenos contingentes da OTAN dentro da Ucrânia
  5. Muito teatro Kabuki sobre “estaremos convosco para sempre, não importa para o quê

Já analisei o quinto ponto da lista acima, portanto não o vou repetir (v. Note about the current naval operations in the Black Sea). O ponto importante da segunda lista é o 4º:   a instalação de uma pequena força do Reino Unido, Suécia, França, EUA e outras unidades da OTAN dentro da Ucrânia. Essas pequenas forças avançadas (“ tripwire forces”), cuja missão é morrer heroicamente, desencadeando assim um envolvimento automático (pelo menos em teoria) dos seus países de origem na guerra.

Antes de prosseguir, devo compartilhar uma lista de factos axiomáticos:

  1. A Rússia não pode ser derrotada militarmente por nenhuma combinação de forças. Pela primeira vez em séculos, a Rússia não está tentando “alcançar” os seus adversários ocidentais, na realidade está à frente deles tanto em forças convencionais como nucleares. A vantagem russa é especialmente notável nas suas capacidades convencionais de dissuasão estratégica
  2. O ocidente, cujos líderes estão bem cientes deste facto, não querem uma guerra aberta com a Rússia
  3. O bloco 3B + PO quer uma guerra a todo custo, tanto por razões políticas internas quanto externas
  4. Numa guerra contra a Ucrânia, a Rússia terá várias opções de contra-ataque nas quais não precisará sequer conduzir um único tanque através da fronteira

Estes três primeiros pontos são bastante incontroversos, vamos então examinar o quarto ponto um pouco mais de perto. Comecemos por examinar as opções de contra-ataque da Rússia contra a Ucrânia:

  1. Protegendo as LDNR nas suas fronteiras actuais (linha de contato) por uma combinação de uma zona de exclusão aérea, ataques de mísseis contra forças ucranianas, uso de guerra eletrónica para desorganizar as forças ucranianas e ataques muito direcionados (de dentro da Rússia) contra os principais centros de comando, etc.
  2. Dar cobertura às forças LDNR para libertarem totalmente as regiões de Donetsk e Lugansk.
  3. Dar cobertura às forças LDNR para a criação de um corredor terrestre para a área de Mariupol-Berdiansk-Crimeia e, em seguida, a libertação da costa ucraniana ao longo do eixo Kherson-Nikolaev-Odessa.
  4. A libertação de todas as terras da margem esquerda a leste do rio Dnieper (incluindo as cidades de Kharkov, Poltava, Dniepropetrovsk, Zaporozhie e outras).
  5. A libertação de toda a Ucrânia

Em termos puramente militares, todas estas opções são viáveis. Mas olhar para essa questão de um ponto de vista puramente militar é altamente enganoso.

Primeiro, acerca da força força avançada da NATO. Os comandantes dos EUA/OTAN não são muito brilhantes, mas são espertos o suficiente para entenderem que, no caso de um contra-ataque russo, essas forças seriam aniquiladas, envolvendo potencialmente toda a OTAN – o que poderia tornar-se uma grande guerra continental. Não é isso que eles querem. Portanto, o verdadeiro propósito dessas forças avançadas é criar uma histeria anti-russa poderosa o suficiente para transformar o ocidente (atualmente desorganizado e profundamente disfuncional) num bloco único anti-russo unido.

Por outras palavras, aquela força avançada representa um desafio político para o Kremlin, não um desafio militar. Dito isto, examinemos uma série de fatores não militares absolutamente cruciais.

  1. Qualquer que seja o território que a Rússia liberte das forças nazis, terá que o reconstruir economicamente, proteger militarmente e reorganizar politicamente. Quanto mais território a Rússia libertar, mais agudas serão essas pressões.
  2. Já se passaram 30 anos desde que a Ucrânia decidiu tornar-se anti-russa, e agora há toda uma geração de ucranianos que sofreram lavagem cerebral e realmente acreditam no que lhes têm dito os media ucronazis, a “democracia”, a “sociedade civil” e os meios de propaganda. O fato de muitos deles falarem melhor russo do que ucraniano não muda em nada a situação. Embora os ucranianos não possam travar os militares russos, com certeza podem organizar e sustentar uma rebelião anti-russa que a Rússia teria que suprimir.
  3. Economicamente, a Ucrânia é um buraco negro: pode dar-se-lhe a quantidade de dinheiro que se quiser e tudo simplesmente desaparecerá. A noção de “ajuda económica à Ucrânia” é simplesmente risível.
  4. A Ucrânia é uma entidade artificial que nunca foi viável, e assim continuará, pelo menos nas suas fronteiras atuais.

Por estas razões, afirmo que seria extremamente perigoso para a Rússia morder mais do que pode engolir. Como o melhor (de longe) analista político da Ucrânia, Rostislav Ishchenko, disse numa entrevista na semana passada: “Putin não pode salvar a Ucrânia, mas com certeza pode arruinar a Rússia [se o tentar]” – concordo totalmente com ele.

Qualquer que seja a pretensão legal que possa ser envolvida acerca de uma libertação russa da Ucrânia, a realidade é que qualquer terra que a Rússia libertar, tornar-se-à propriedade sua e terá que a administrar.

Por que razão a Rússia iria querer impor a lei e a ordem dentro de um buraco negro?

Depois, há o seguinte: enquanto historicamente os ucranianos não passam de “russos sob ocupação polaca”, os últimos 30 anos criaram uma nação nova e muito diferente. Na verdade, testemunhamos o nascimento de uma nova nação cuja identidade é russofóbica no seu cerne. Sim, eles falam russo melhor do que ucraniano, mas falar a língua do seu inimigo não impediu que o IRA, a ETA ou os Ustashis odiassem aquele inimigo e lutassem contra ele ao longo de décadas. Em muitos aspectos, os ucranianos modernos não são apenas não-russos, eles são anti-russos por excelência:   penso neles como polacos.

A Crimeia foi solidamente pró-Rússia em toda a sua história. O Donbass ficou inicialmente bastante feliz por fazer parte da Ucrânia, mesmo no início do período pós-Maidan, quando os protestos foram organizados sob bandeiras ucranianas. Essas bandeiras foram posteriormente trocadas por bandeiras LDNR/russas, mas somente depois de Kiev ter lançado uma operação militar contra o Donbass. Quanto mais se vai para o oeste, mais clara é essa distinção. Como disse um comandante do LDNR:   “quanto mais vamos para o oeste, menos somos vistos como libertadores e mais somos vistos como ocupantes”.

Selo do correio ucraniano com a figura de Bandera.

Selo do correio ucraniano com a figura de Bandera.

O ponto crucial aqui é o seguinte:   não importa o que se pense sobre as partes constituintes da nova identidade nacional ucraniana, podemos rir disso quanto quisermos, mas contanto que eles o levem a sério, e muitos deles o fazem, então é uma realidade que não podemos simplesmente ignorar. Outro ponto muitas vezes esquecido é este: o ukronazi Banderistão [NT] já quase colapsou. Sim, no centro de Kiev as coisas parecem mais ou menos normais, mas todos os relatórios do resto do país apontam para a mesma realidade: a Ucrânia é um Estado falido, totalmente desindustrializado, onde o caos, a pobreza, o crime e a corrupção são totais. O mesmo está a tornar-se verdade nos subúrbios de Kiev.

Quando observo como são lentos os esforços russos para reorganizar a Crimeia, sem culpa dos russos, aliás, recuo de horror ao pensar no que seria necessário para a Rússia recivilizar, reconstruir e desenvolver qualquer parte da Ucrânia libertada.

A Rússia é tipicamente comparada a um urso e essa é uma metáfora muito boa a vários níveis. Mas no caso da Ucrânia, eu vejo a Rússia como uma cobra e a Ucrânia como um porco:   a cobra pode facilmente matar aquele porco (por veneno ou por constrição), mas aquela cobra não pode absorver aquele porco morto, é simplesmente muito grande para isso.

Eis o facto mais importante sobre toda esta situação:   o ukronazi Banderistão está a morrer, a maior parte de seu corpo já está necrótica, assim não há absolutamente nenhuma necessidade de a cobra russa fazer alguma coisa a respeito, a não ser recuar para um canto e estar pronta para golpear:   “ataque-me e você está morto!” Putin já disse isso.

Ainda assim, e então? E se os nazis, instigados por seus “democráticos” patronos, lançarem um ataque? Nesse ponto, a Rússia não terá outra opção a não ser atacar, usando suas armas de defesa (mísseis, artilharia, mísseis de cruzeiro de longo alcance, etc.). Como podemos presumir com segurança os russos têm ensaiado exatamente um tal contra-ataque, podendo-se esperar que seja rápido e devastador. A lista de alvos incluirá: as forças ucranianas avançadas, bases aéreas e qualquer aeronave (tripulada ou não) que delas decolem, qualquer barco ucraniano que se aproxime da zona de operações, nós de comunicação, depósitos de suprimentos, estradas, pontes, posições fortificadas, etc. Há muitos alvos a serem atingidos de uma vez. Mas atingi-los de uma vez também é o método mais seguro e eficaz para atingir rapidamente o objetivo de travar de imediato qualquer possível avanço ucraniano sobre as LDNR. Esta fase inicial duraria menos de 24 horas.

[Nota: A guerra moderna não é como a 2ª Guerra mundial, não veremos centenas de tanques e uma clara linha da frente mas, ao invés, veremos ataques em profundidade estratégica do lado inimigo, intensas manobras de fogo e uso de grupos de batalhões tácticos]

Caso isto aconteça, é provável que as forças da NATO se movam para o oeste da Ucrânia, não para “protegê-la” de um ataque russo que nunca acontecerá, mas para ocupar o máximo possível da Ucrânia e tomá-la sob controlo. O pretexto para tal movimento da OTAN seria a destruição (parcial ou total) da sua força avançada (tripwire). A NATO também pode declarar a sua própria zona de exclusão aérea no oeste da Ucrânia, que os russos não terão necessidade de contestar. Finalmente, o Ocidente ficará feliz em se unir contra a Rússia e cortar todos os laços económicos, diplomáticos e outros para “isolar e punir a Rússia”. Não nos iludamos, isso prejudicaria a economia russa, mas não o suficiente para quebrar a sua determinação.

Então chega-se à grande questão: até onde deveria ir a Rússia?

Estou confiante em que isto já tenha sido decidido, e creio igualmente que a Rússia não seguirá as opções 4, 5 e 6 acima. A opção 1 é um dado, podemos coloca-la na lista (a menos que as forças LDNR sozinhas sejam suficientes para travar um ataque ucraniano). O que deixa as opções 2 e 3 como “possíveis”.

Assim, quero aqui sugerir uma outra opção, a que chamaria de “rota do sul”:   embora a linha de contacto entre as LDNR e o Banderistão possa ser empurrada um pouco mais para o oeste, não creio que as forças russas devessem libertar qualquer uma das grandes cidades no centro da Ucrânia (Kharkov, Poltava, Dneipropetrivsk, Zaporozhie). Em vez disso, penso que deveriam envolver (to envelop) estas forças através de um movimento ao longo da costa até toda a Crimeia (até Perekop) e talvez mesmo um pouco mais, até a cidade de Kherson (mas não dentro dela). Claro que para conseguir isso, seria necessário trazer uma força suficientemente grande para o triângulo Voronezh-Kursk-Belgorod. A Frota Russa do Mar Negro também poderia conduzir operações ao longo da costa ucraniana, incluindo perto de Nikolaev-Odessa, para forçar os ukies a alocar forças para as defesas costeiras, aliviando assim a carga sobre as forças russas que se movessem em direção a Kherson.

NOTA: Sejamos claros, as forças das LDNR não podem conduzir uma operação tão profunda sem o risco de envolvimento e destruição. Essa operação só pode ser executada a um custo relativamente baixo pelas forças armadas russas, incluindo a Frota do Mar Negro.]

Num tal cenário, a Bielorrússia poderia transformar-se numa “ameaça silenciosa a Norte”, o que obrigaria ainda mais os ukies a alocarem forças nas suas fronteiras a Norte, fazendo com que estes últimos se sentissem envolvidos em pinças estratégicas.

E quanto a Odessa?

Odessa é uma cidade única em muitos aspectos, A sua população é geralmente pró-russa. É também uma cidade que teria um enorme potencial económico se administrada por pessoas sãs. No entanto, Odessa também é uma cidade simbólica para os nazis e eles esforçam-se muito por controlá-la. Assim, Odessa é uma das poucas cidades na Ucrânia ocupada pelos nazis que poderia rebelar-se contra o seu ocupante, especialmente quando forças russas se movessem ao longo da costa na sua direção. É aqui que a Rússia podia e deveria envolver-se, não pela tomada da cidade ao estilo da segunda guerra mundial, mas apoiando organizações pró-russas em Odessa (principalmente pela utilização das suas forças especiais e, quando necessário, o poder de fogo da Frota do Mar Negro).

Qual seria o resultado de tal guerra?

Por um lado, o ocidente unir-se-ia no seu ódio tradicional à Rússia e, economicamente, a Rússia seria prejudicada. Isto não é irrelevante, mas, creio, este cenário já está em construção mesmo que a Rússia não faça absolutamente nada. Portanto, esta realidade inevitável deve ser aceite pela Rússia como condição sine qua non para sua sobrevivência como nação soberana.

Em termos militares, os polacos e seus mestres dos EUA provavelmente “libertariam de forma protetora” o oeste da Ucrânia (Lvov, Ivano-Frankovsk). E daí? Deixem-nos! Não há penalização para a Rússia por isso. Além de que os Ukronazis mais radicais teriam que lidar com seus antigos mestres polacos agora de volta ao controlo total – deixem-nos divertirem-se uns com os outros 🙂

E quanto ao Banderistão do lombo (estamos a falar aqui acerca da Ucrânia central)? Acabaria por estar numa situação ainda pior do que está hoje, mas a Rússia não teria que pagar as contas daquela bagunça. Mais cedo ou mais tarde, uma insurreição ou guerra civil acontecerá, o que porá ukies de uma fracção contra outra, e se alguns se voltassem contra a Rússia ou contra as partes libertadas da Ucrânia, a Rússia poderia simplesmente usar as suas armas de impasse (standoff weapons) para rapidamente desencorajar quaisquer tentativas assim.

Então, quão próximos estamos da guerra?

Resposta curta: muito. Basta ouvir esta recente conferência de imprensa de Lavrov. E não é apenas Lavrov, muitos analistas e políticos experientes na Rússia basicamente dizem que a questão não é “se”, mas “quando” e, portanto, “como”.

Penso que a gota de água que quebrou a paciência da Rússia foi a maneira suicida como os europeus reais (históricos) permitiram que os 3B+PO definissem a agenda da UE e da NATO. Se o Nord Stream 2 for adiante, como provavelmente ainda acontecerá, os russos ficarão felizes em vender energia para a Europa. Mas em termos de agenda, a única potência com a qual a Rússia está disposta a falar é com os EUA, como testemunhado pelas recentes visitas de Nuland e Burns a Moscou.

Uma coisa é muito clara: A Rússia não quer guerra. Na verdade, a Rússia fará tudo ao seu alcance para evitar uma guerra. Se uma guerra não puder ser evitada, a Rússia atrasará o início dessa guerra o mais possível. E se isso significa conversar com pessoas como Nuland ou Burns, então é algo que os russos farão com prazer. Eles estão absolutamente certos nessa postura (não falar com o inimigo é um transtorno mental do ocidente, não russo).

Como venho dizendo há quase dois anos, o Império já está morto. Os EUA como os conhecíamos morreram em 6 de janeiro. Mas os EUA pós 6 de janeiro ainda existem e, ao contrário dos europeus, as classes dominantes americanas têm uma agenda própria. Basta olhar para palhaços como Stoltenberg, Borrell, Morawiecki ou Maas: todos eles são burocratas mesquinhos, plâncton de gabinete, que podem ter habilidade para dirigir uma agência de aluguer de automóveis, talvez um motel, mas não são líderes reais que alguém no Kremlin vá levar a sério.

Pode-se odiar Nuland ou Burns quanto se quiser, mas são pessoas sérias e perigosas e é por isso que a Rússia está disposta a falar com eles, especialmente quando o pedido para tais negociações foi feito pelo lado dos EUA (os russos não podem falar concretamente com palhaços como Biden ou Austin, os quais são apenas figuras de relações públicas).

Uma coisa precisa ser mencionada aqui:   o povo do Banderistão e o que lhe acontecerá.

Na verdade, penso que a Ucrânia é total e terminantemente insalvável e o único plano bom para qualquer pessoa que ainda lá viva é fazer o que milhões de ucranianos já fizeram:   fazer as malas e partir.  Uma vez que a maior parte da mão-de-obra ucraniana não qualificada vive nas regiões ocidentais da Ucrânia, preferirão naturalmente mudar-se para a UE para trabalhar como taxistas, canalizadores, criadas domésticas e prostitutas.

Da mesma forma, uma vez que a maioria da mão-de-obra qualificada ucraniana vem do sul e do leste da Ucrânia, ou ficarão contentes em serem libertados pela Rússia ou mudar-se-ão para a Rússia para trabalhar como engenheiros, médicos, especialistas em TI ou mesmo trabalhadores da construção civil.  A Rússia tem necessidade de uma força de trabalho culturalmente tão próxima e qualificada e a obtenção de empregos (e passaportes) para eles será simples para o Kremlin.  É verdade que o que restará desta Ucrânia pós-Banderistão não será uma bela visão:   um país pobre, corrupto, cujo povo lutará para sobreviver com muitas ideias políticas tolas a flutuarem em torno. Mas isso de qualquer modo não será problema da Rússia, ao passo que a principal ameaça à Rússia, um Banderistão unido que se tornará um polígono de treino da NATO ao lado da fronteira russa, simplesmente evaporar-se-á, morrendo com as suas próprias emissões tóxicas.  E se mais ucranianos quiserem mudar-se para a Rússia (ou para a Ucrânia livre), então as LDNR e as autoridades russas poderão decidir caso a caso “queremos estas pessoas aqui ou não?”. Os ucranianos que permanecerem ucranianos serão bem-vindos na Rússia ao passo que aos Ukronazis será negada a entrada e presos se o tentarem.

Adenda: as duas potências com fantasmagóricos sofrimentos imperiais e sonhos de guerra

Estou, claro, a falar do Reino Unido e da Polónia, dois actores menores que compensam as suas capacidades reais muito limitadas com um fluxo interminável de declarações vociferantes. Na sua maior parte, elas são apenas “a brincar de império”. Ambos os países sabem exactamente que já foram verdadeiros impérios e porque são hoje quase irrelevantes – culpam muito da sua própria decadência à Rússia e, por conseguinte, o seu sonho é ver a Rússia, se não derrotada, pelo menos com um nariz ensanguentado. E, claro, de pé sobre os ombros dos EUA, ambos consideram-se gigantes actuando com grande solenidade e pompa.

Finalmente, a sua liderança é degenerada o suficiente (complexo de inferioridade compensado por um narcisismo descontrolado) para carecer até mesmo do senso comum básico e perguntar-se se molestar o urso russo é uma boa ideia ou não. Mais do que qualquer outro membro da NATO, esses países tagarelas precisam de uma boa estalada para trazê-los de volta à realidade.

É impossível prever se esse embate virá na forma de algum incidente na Ucrânia ou se acontecerá noutro lugar, mas uma coisa é certa: o Reino Unido e a Polónia são (mais uma vez!) os dois países que desejam, digamos mesmo, que precisam de uma guerra com a Rússia mais do que quaisquer outros (exemplo um, exemplo dois).

Portanto, acho bastante provável que, mais cedo ou mais tarde, a Rússia terá de afundar um navio britânico ou polaco ou abater uma ou várias aeronaves britânicas ou polacas o que mostrará ao mundo, incluindo britânicos e polacos, que nem os EUA, nem a OTAN, nem ninguém mais vai seriamente provocar uma guerra com a Rússia por causa dos subalternos do Império. Sim, haverá tensões, possivelmente até confrontos locais e toneladas de verborreia ameaçadora, mas ninguém quer morrer por essas duas hienas da Europa (Churchill esqueceu-se de mencionar uma delas) e ninguém o fará.

Conclusão: guerra no horizonte

Neste exacto momento já estamos bem dentro de um período pré-guerra e, como uma pessoa a patinar sobre gelo fino, perguntamo-nos se o gelo vai quebrar e onde poderá acontecer. Simplificando, os russos têm duas opções:

  • Uma resposta verbal
  • Uma resposta física

Há pelo menos sete anos, se não mais, eles têm tentado a primeira opção o melhor que podem. Putin trocou espaço por tempo, e essa foi a decisão correta considerando o Estado das forças armadas russas antes de, aproximadamente, 2018. A eleição de Trump também foi uma dádiva de Deus para a Rússia porque enquanto ele ameaçava o planeta a torto e a direito, não iniciou nenhuma guerra em grande escala contra a Rússia (nem contra o Irão, China, Cuba e a RPDC).

No final de 2021, no entanto, a Rússia recuou o máximo que podia. A boa notícia agora é que a Rússia tem os meios militares mais modernos e capazes do planeta, enquanto o Ocidente está muito ocupado cometendo suicídio político, cultural e económico.

De acordo com analistas americanos, em 2025 os EUA não serão capazes de vencer uma guerra contra a China. Francamente, acho que isto já se passou há muito, mas esta meia admissão é uma tentativa desesperada de criar um clima político e preparar a defesa antes que a China se torne oficialmente a segunda nação que os EUA não podem derrotar, sendo a primeira, obviamente, a Rússia (eu incluiria até o Irão e a RPDC nessa lista).

Consequentemente, toda a atual postura da NATO no Mar Negro (que é ainda mais perigosa para os navios dos EUA/OTAN do que nos mares da China) é apenas isso: postura. O principal risco aqui é que não estou de todo convencido de que “Biden” possa controlar os britânicos ou os polacos, especialmente porque os dois são membros da NATO que esperaram sinceramente que a NATO os iria proteger (deveriam perguntar a Erdogan sobre isso).

É claro que na realidade não existe “NATO”: tudo o que existe são os EUA e seus Estados vassalos na Europa. Se os dois aspirantes a impérios desencadearem uma guerra real e explosiva, bastaria um único ataque de míssil convencional russo em algum lugar nas profundezas continentais dos EUA (mesmo num local desértico) para convencer a Casa Branca, o Pentágono ou a CIA a “entrar em ação com o programa” e buscar uma solução negociada, deixando os britânicos e os polacos totalmente desgostosos e parecendo tolos. Não creio que qualquer coisa diferente possa trazer estes dois países de volta ao sentido da realidade.

Sim, a guerra está aproximar-se e a única coisa que pode impedi-la seria algum tipo de acordo entre a Rússia e os EUA. Será que isso acontece? Infelizmente não vejo nenhum presidente dos EUA fazendo tal acordo: aquele que está no poder será acusado pelo outro partido e por todo o resto da verborrágica e patrioteira classe política dos EUA, especialmente no Congresso, de “fraqueza” e de “ser um activo russo”

Um fator possivelmente atenuante é que os políticos dos EUA também estão determinados a confrontar a China, inclusive durante os próximos Jogos Olímpicos, e se essas tensões continuarem a escalar, os EUA vão querer que a Rússia não represente uma ameaça pelo menos direta aos interesses dos EUA na Europa e no Pacífico.

Assim, talvez Putin e Xi possam atuar em conjunto, garantindo que cada dia que passe o Tio Shmuel fique ainda mais fraco, ao passo que a Rússia e a China ficam mais fortes. Talvez essa estratégia possa evitar uma guerra, pelo menos uma grande. Mas quando ouço o palavreado vindo do RU + 3B + PO, tenho muito pouca esperança de que os chanfrados da Europa possam ser retirados da beira do precipício.

[NT] “Banderistão”: termo cunhado pelo autor para designar a atual Ucrânia, controlada pelos nazis. Tem origem no nome do general Stepan Bandera, criador da “Divisão Galícia” que colaborou com os nazis na 2ª Guerra Mundial, combinado com o sufixo persa “istão” que significa “terra de”.

O original encontra-se em thesaker.is/russian-options-in-a-world-headed-for-war/

Este artigo encontra-se em resistir.info

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