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Sputnik – A experiência dos militares colombianos no combate às guerrilhas e ao tráfico de drogas os tornou favoritos das empresas militares privadas e os levou a participar de guerras do Oriente Médio e da África até a Ucrânia.
Enquanto, em seu país, a violência normalizada como um modo de vida leva à estigmatização dos veteranos, disse à Sputnik o pesquisador e especialista em segurança Andrés Macías, da Universidade Externado da Colômbia.
Ele afirmou que muitos militares colombianos aposentados têm
habilidades excepcionais.
“Embora haja uma percepção positiva das capacidades das Forças Armadas colombianas no exterior, essa mesma reputação os torna atraentes para empregadores internacionais. Eles adquiriram habilidades confiáveis que se mostraram eficazes em várias situações, principalmente durante o conflito armado na Colômbia”, disse Macías.
De acordo com o pesquisador, a qualidade de vida e o bem-estar na Colômbia nem sempre são suficientes para desencorajar os cidadãos a buscar renda no exterior, entre outras coisas, devido às políticas precárias de segurança social para veteranos.
No entanto, os motivos para recorrer ao mercenarismo não são apenas econômicos, pois há também um interesse direto em lutar.
“A maioria deles não se enquadra na definição internacional de mercenário. Por exemplo, os colombianos que vivem nos Emirados Árabes Unidos e fazem parte das Forças Armadas regulares não são considerados mercenários, assim como os estrangeiros que fazem parte das Forças Armadas dos EUA”, explicou.
A diáspora mercenária, como apontou o especialista, parece ser um fenômeno importante para a Colômbia contemporânea.
Socialmente, ela normaliza a violência como um modo de vida e reforça a militarização da sociedade, contribuindo para a estigmatização dos veteranos, que são vistos como perigos em potencial em vez de cidadãos que merecem oportunidades.
O interlocutor da agência observou que, na esfera política, a
participação de colombianos em conflitos internacionais pode ter sérias consequências diplomáticas.
Por exemplo, o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise em 2021 com a participação de ex-soldados colombianos afetou a imagem do país no exterior, que passou a ser associado a uma rede de mercenários e operações secretas.
“Não há estatísticas ou registros precisos de militares colombianos aposentados que participam de conflitos internacionais. Isso demonstra a falta de uma regulamentação e de um registro claros na Colômbia para acompanhar essas atividades. As políticas de bem-estar e o monitoramento desses veteranos precisam ser fortalecidos“, acredita Macías.
Como fenômeno, o mercenarismo apresenta sérios dilemas éticos e legais.
De acordo com Macías, os colombianos envolvidos em conflitos como o ucraniano não são protegidos pelo direito internacional humanitário porque não são membros das
forças regulares.
Assim, eles enfrentam processos por crimes de guerra, enquanto as famílias dos mercenários estão em um limbo jurídico e econômico.
A repatriação dos corpos dos mercenários mortos também é problemática, pois não há obrigação internacional de devolvê-los.
“É impossível erradicar esse fenômeno na prática, pois não é algo novo. Ao longo da história, nenhum Estado teve controle absoluto sobre o uso da força em seu território. Desde a década de 1990, a participação de empresas militares privadas em conflitos vem aumentando, o que reforça a necessidade de uma regulamentação mais eficaz”, enfatizou o especialista.
Previamente, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murilo, informou, à margem da Cúpula do G20 no Brasil, que seu país e a Rússia vão criar um grupo para analisar a situação dos mercenários colombianos detidos pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia na zona de operação militar especial.
O Ministério da Defesa da Rússia declarou repetidamente que Kiev usa mercenários estrangeiros como
“bucha de canhão”, e os militares russos continuarão a eliminá-los em toda a Ucrânia.
Aqueles que foram lutar por dinheiro admitiram em muitas entrevistas que os militares ucranianos não coordenam bem suas ações e que a chance de sobreviver aos combates é pequena, pois a intensidade do conflito não é comparável à do Afeganistão e do Oriente Médio, aos quais estão acostumados.