O presidente da Rússia,
Vladimir Putin, viajou nesta sexta-feira (15)
para encontrar o seu homólogo norte-americano,
Donald Trump, em uma base área no Alasca, Estados Unidos. Entre os temas abordados pelos líderes nas reuniões está a
operação militar especial russa na Ucrânia.
Especialistas ouvidos no programa
Entretanto, da
Rádio Sputnik Brasil, acreditam que essa cúpula é uma
vitória política para Putin e que pode ser a chave para que
Trump entenda a real dimensão das derrotas da Ucrânia no campo de batalha.
O cientista político André Lucena afirma que os presidentes nunca tiveram uma relação pessoal hostil, apesar da conduta dos Estados Unidos nos últimos anos perante a Rússia. Todavia, o especialista entende que esse encontro foi uma grande oportunidade para Moscou mostrar força.
“Diria que a simples realização dessa cúpula já mostra que ele [Putin] conseguiu algo que almeja há muito tempo, que é um reconhecimento ocidental do peso geopolítico estratégico da Rússia. Em outros termos, o Putin está sentado na mesa de negociação, colocando a Rússia como um ator político importante.”
Lucena questiona se Trump é um aliado confiável, levando em consideração a atual política externa norte-americana. Apesar da pontuação, o analista entende que este pode ser um ponto favorável ao presidente da Rússia.
“Seria o Trump um aliado confiável? Ele já repreendeu [Vladimir] Zelensky há muito tempo, ele já elogiou e repreendeu Putin. Ou seja, essa contradição do Trump faz com que o interlocutor dele — neste momento a gente está falando do Putin — possa não ter tanta fé na própria palavra que Trump manifesta. E eu acho que isso põe o próprio Putin em posição de poder.”
O analista geopolítico
Rafael Machado acredita que a chave para o fim da operação militar especial na Ucrânia é fazer com que Trump perceba o que acontece no
campo de batalha do leste europeu. Segundo o especialista, as
demandas ucranianas não condizem com as derrotas no front.
“Quando o Trump entender o que realmente está acontecendo e que, por exemplo, para cada baixa russa há dez baixas ucranianas, só aí que ele vai entender como as demandas ucranianas não são demandas realistas. E que, óbvio, mesmo que ambos lados tenham que ceder alguma coisa, a Ucrânia vai ter que ceder muito mais do que a Federação da Rússia, porque a Rússia está em plena e ampla vantagem em relação à Ucrânia nesse conflito.”
Machado afirma que, além da Ucrânia, os presidentes devem discutir sobre as
sanções aplicadas à Rússia durante o governo do democrata Joe Biden. Ainda que caiam as restrições norte-americanas, Moscou precisa lidar com a
União Europeia e o ódio enraizado pelo país no continente.
“Existe um fator ideológico nessa insistência da União Europeia em uma beligerância em relação à Rússia que vai muito além de meros interesses materiais. […] Ao decidir seguir o próprio caminho e não aceitar esse expansionismo ocidental, esse imperialismo que é também o imperialismo cultural do Ocidente, a Rússia acaba sendo efetivamente odiada. Não é apenas uma questão de interesses materiais, porque pelos interesses materiais a Europa já teria cessado o seu apoio à Ucrânia.”
Ainda que um rascunho de cessar-fogo não tenha sido alcançado nessa reunião no Alasca, Lucena acredita que a Rússia, nesse triângulo com EUA e Ucrânia, seja quem deva se preocupar menos com a questão de tempo.
“Uma Ucrânia em desespero, um Donald Trump apressado e uma Rússia em uma relativamente confortável posição de espera. E se a gente põe esse triângulo em cima de uma mesa, existe alguém que tem necessidades para ontem e existe um outro lado que não tem uma necessidade tão apressada assim. Isso, qualquer que seja o resultado dessa negociação, de saída, põe uma vantagem sobre quem o cronômetro não gira tão rápido.”