O Brasil não é para principiantes escreveu, pelo início dos anos 1960, o europeu oriental Peter Kellerman. Ganhou dinheiro, deu um golpe na praça e fugiu para o Paraguai. Para onde mais iria?
Depois dele muitos outros também se aventuraram a decifrar o país onde o “não”, muitas vezes, significa “sim” e vice-versa. Depois de Kellerman tivemos 21 anos de governos nacionalistas desenvolvimentistas, porém autoritários, que levaram à construção de novo Brasil.
Ora as forças dominantes no Brasil sempre foram representantes dos interesses estrangeiros, desde o primeiro governo de Tomé de Sousa, em 1549. Nesta primeira fase, representavam a coroa e aristocracia lusitana. Depois, com a fragilidade econômica, Portugal passou a ser o primeiro intermediário da cadeia que se iniciava nos bancos ingleses.
Então mandavam no Brasil os interesses bancários da “pérfida Albion”, na tradução da aristocracia portuguesa e conforme as decisões dos senhores de terras e escravos no Brasil. Uma cadeia mais longa, que exigia maiores malabarismos para ficar com a melhor parte.
E assim vivemos até que a família real, pressionada por outros interesses portugueses, resolveu se dividir, uma parte cuidava de Portugal, outra do Brasil. Isso aconteceu em 1822.
Aos poucos os ingleses dispensaram a intermediação portuguesa e passaram a lidar diretamente com os senhores de terras e escravos nascidos no Brasil. A este período se dá o nome de Brasil Império e de 1ª República.
Um tanto injusto pelo nosso esforço independentista, principalmente do pouco conhecido Presidente Floriano Peixoto.
Mas surgem os movimentos no exército para que a soberania administrativa brasileira ficasse com o governo nacional. São os movimentos tenentistas, que caminharam por todo País, eclodiram em Manaus, São Paulo e tiveram momentos de bravura e marketing no Rio de Janeiro, como os “18 do Forte”, com presença civil.
Até então as guerras europeias não haviam chegado à periferia do mundo, onde se encontrava o Brasil. Para não cometer injustiça, os interesses coloniais ingleses, sempre eles, nos fizeram combater o vizinho Paraguai.
Porém, o Brasil irredento vence a Revolução de 1930. E há o choque entre o Brasil colonizado e o Brasil que se organiza para autonomia.
O mundo também entra em guerra, desta vez, embora a economia estivesse, como sempre, presente, a roupagem era de ideologias conflitantes: capitalista, socialista, fascista e nazista.
O mundo unipolar da libra esterlina se transforma no mundo bipolar das ideologias: capitalista e socialista.
O Brasil fica então mais desenvolvido e mais complexo. Isso perdurará por 50 anos, a Era Vargas: 1930-1980. A sociedade apresenta novas relações e há a inevitável acomodação de interesses, indispensável para um país miscigenado, supersticioso e pacífico.
Este país múltiplo que será criticado pelo europeu Peter Kellerman, que coloca a disciplina e a hierarquia como fundamentais para qualquer sociedade.
Por serem mais organizados, disciplinados, hierarquizados, os militares dão o golpe, em 1964, para conduzirem o país; verdadeira bagunça nas mãos civis. E obtêm êxito. Foi período de grande prosperidade de 1964 a 1980. O Brasil passou a despertar inquietação nos que sempre se viram como donos do mundo: as finanças; agora não mais exclusivamente inglesas, mas apátridas.
RETROCESSO CHEGA COM A NOVA REPÚBLICA
A oposição aos governos militares começou dentro das escolas de formação para estado maior e comando nas três forças militares. Profissionais neoliberais davam aulas, proferiam palestras, colocavam dúvidas na condição operacional do Estado Nacional. Sabiamente observando a hierarquia começam doutrinando coronéis e generais. Por gravidade estas doutrinas antinacionais chegariam aos de menor poder. Porém esta infiltração não ocorreu somente nas Forças Armadas. Muitas instituições de prestígio, como a Fundação Getúlio Vargas, também sofreram o assédio de mestres nacionais e estrangeiros de notoriedade acadêmica.
Todo este esforço tem início na década de 1960 e vai no crescendo que, em 1980, já é representativa não só nas Forças Armadas como na sociedade em geral. Vem o golpe da redemocratização e o poder troca de mãos. Sai de militares tenentistas e vai para políticos entreguistas.
O Brasil passa a ter o governo dos espertos, da disputa desigual, da corrupção, que desde Fernando Collor vem tomando todas as instituições nacionais.
Vivemos hoje já a quarta década destes governos neoliberais, uns mais ortodoxos, outras mais equilibristas, e a mídia, inteiramente dominada pelos capitais apátridas, agindo como instrutora e última instância decisória dos homens públicos, tendo por parâmetro a fidelidade aos interesses rentistas.
Exemplos não faltam do caos que vive o Brasil de hoje.
Um repórter do jornal “O Estado de S. Paulo” (Estadão) perguntou à senhora que portava a bandeira de Israel na manifestação na Avenida Paulista, em 25/02/2024: por que a senhora está com esta bandeira de Israel? Resposta: porque eles são cristãos como eu! (sic).
O Bispo Marcelo Crivella, deputado federal pelo Rio de Janeiro, apresentou projeto para pastores e sacerdotes religiosos não pagarem mais impostos federais. Acaso você, leitor deste artigo, lembra da frase de Leonel Brizola: “Esses pastores querem é estação de rádio e dinheiro. São adoradores dos bezerros de ouro”. Sábias palavras.
E os juízes federais que agora têm direito a dez folgas por mês ou compensação em dinheiro que gira em torno de R$ 11 mil reais, decisão do Conselho da Justiça Federal (CJF) (Newsletter de Ancelmo Gois, 02/03/2024).
O neoliberalismo é contra o Estado porque precisa dele para enriquecer os ricos. O que se verifica aqui e pelo mundo submetido a esta ideologia: a cada vez mais intensa concentração de renda, ou seja, os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.
A tal ponto que o interesse é por governos fortes, autoritários, capazes de colocar os pobres, os trabalhadores “no seu devido lugar”.
Mas como o fazer, se as Forças Armadas foram destituídas em nome da democracia? Empoderar o poder sem voto, e ver no Judiciário a “defesa da democracia”. Agora sim, o Brasil definitivamente não é para principiante.
Querem mais? Cerca de 130 deputados federais assinam o pedido de impeachment para o Presidente Lula por ter “ofendido o Estado de Israel”, que comete genocídio contra palestinos na Faixa de Gaza. Ou seja, estes deputados por simples questão de politicagem interna se colocam contra o Brasil e a favor de Israel, que como visto na reportagem do Estadão, há brasileiros que não sabem que é um estado religioso, judaico, sionista. Nada cristão.
QUEM MANDA HOJE?
O mundo está em crise, é verdade insofismável. Por que? Porque substituiu a solidariedade pela competição.
Era a solução diante do desenvolvimento tecnológico e industrial acelerado após a II Grande Guerra.
Este progresso exigia mais pessoas capacitadas e retribuía com garantias sociais para o trabalhador e sua família. Veja quem só observa as torturas e assassinatos, nos governos militares brasileiros, as medidas de assistência social, de proteção aos desvalidos, da atenção ao homem do campo, ao lado do desenvolvimento na geração de energia, base para toda industrialização, dos institutos de pesquisas, e dos cuidados com a cultura, que a Funarte é um exemplo.
Pode-se dizer que foram movidos pela solidariedade da doutrina social da Igreja Católica, embora os governantes militares não fossem propagadores da fé.
As finanças precisavam dar fim a este estado de mais igualdade. Apelaram para competitividade, que entrou na vida de todos com meios nem sempre honestos. Corromper é próprio da ação financeira.
E a sociedade se foi degradando, a ponto de rir das ações éticas, como se fossem de ingênuos ou ignorantes.
Um dia a casa cai. E está acontecendo com governos velhacos e farsantes pelo ocidente do Atlântico Norte. Preparam a invasão da Rússia usando um golpe na Ucrânia. Quando Moscou fica alerta e se protege, passa a ser o agressor. Inverte-se totalmente o fato e as mídias todas repetem à exaustão até que vencem por cansaço.
Israel além de ser um Estado Religioso, como o Irã, tem deste a diferença de ser bélico, agressivo, o que não se encontra entre os aiatolás. O sionismo prega que a Palestina deixe de ser dos palestinos para ser dos judeus. Nem todo judeu concorda, mais é levado a defender um governo cujos métodos desaprova.
E na Ucrânia e em Israel estão os focos de nova guerra global, com armas de destruição até hoje não usadas. Putin alertou, em sua fala de 29/02/2024, que o mundo caminha para destruição da civilização.
No Ocidente misturam-se a senilidade, a imbecilidade e a falta de caráter dos governantes e pretensos candidatos. É mistura de alto teor de risco.
Neste difícil meio, a China, com a Iniciativa do Cinturão e Rota e a Organização para Cooperação de Xangai, envolvendo países asiáticos, do Oriente Médio, da Europa e da África, surge como o ponto de equilíbrio e paz. E, por isso, repudiada e agredida pelo Atlântico Norte.
E o Brasil? Nau sem rumo, ora correndo para novo governo autoritário, ora para formalidade democrática, mais comumente para farsas, virou verdadeiro salve-se quem puder, paraíso da marginalidade e da falta de escrúpulo. Por toda parte, em todos poderes, vê-se a dominação do capital financeiro apátrida.
O que fazer? Iniciar reconstruindo e empoderando o Estado Nacional com nova estrutura de organização, compatível com as tecnologias já disponíveis no mundo, trazendo-as para planejamento e controle nacionais e aclimatação à cultura brasileira. E com sistema de efetiva participação popular, em todos os níveis de decisão.
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