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terça-feira, 1 julho, 2025

Afinal, programa nuclear iraniano foi neutralizado ou sai fortalecido após ataques de EUA e Israel?

© AP Photo / Vahid Salemi

Sputnik  Após o ataque norte-americano contra as usinas de Fordow, Isfahan e Natanz, o verdadeiro impacto dos bombardeios fica à mercê das narrativas criadas, enquanto se especula o futuro do programa nuclear iraniano.

De um lado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e outras autoridades ligadas à Casa Branca e ao governo de Israel repetem que a usina nuclear de Fordow, no Irã, foi “obliterada” e que a suposta ameaça representada pelo programa nuclear iraniano teria sido neutralizada.
Na outra ponta, o governo iraniano defende que a escalada das tensões nas últimas semanas envolvendo EUA e Israel, somada aos assassinatos de cientistas nucleares iranianos, não impedirá o desenvolvimento do programa nuclear da República Islâmica.
As declarações mostram, segundo João Gabriel Fischer Morais Rego, doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), que os atores envolvidos minimizam os efeitos provados pelos adversários, mantendo uma narrativa de força.
Esse cenário indica, inclusive que, apesar do cessar-fogo iminente, hostilidades são observadas na narrativa de ambos os lados. Tanto Israel quanto o Irã “se declaram vencedores desse conflito, observando, dessa forma, que a rivalidade ainda existe”, exemplifica.
Já em relação aos reais efeitos sobre o programa nuclear iraniano após o ataque estadunidense, o analista afirma que é necessário mais tempo para avaliar os impactos.

O programa nuclear “sofreu algo que não tinha ocorrido antes: um ataque direto contra as instalações. Não somente contra as instalações, mas também contra os próprios cientistas do programa, o que afeta também esse desenvolvimento.”

Entretanto, ele acredita que o Irã dará prosseguimento ao programa nuclear, apesar de opositores da República Islâmica afirmarem que o projeto foi encerrado.

Qual o futuro do projeto de enriquecimento do urânio iraniano?

Conforme o ex-chefe da Autoridade de Materiais Nucleares do Egito (NPPA, na sigla em inglês) Abu al-Huda al-Sairafi, o ataque norte-americano ao reator na Usina de Enriquecimento de Combustível de Fordow foi muito forte, mas o lado iraniano evacuou o urânio enriquecido com antecedência, o que permitiu evitar uma grande catástrofe nuclear.
Segundo João Gabriel, parte da imprensa dos EUA também noticiou a retirada do urânio antes do ataque estadunidense. “Aproximadamente 400 quilos foram retirados da instalação antes do ataque.”

“O Irã dizer que conseguiu retirar essa quantidade também continua sendo um poder de dissuasão iraniano, porque mantém a retórica de que ele existe e que esse urânio enriquecido está em sua posse”, analisa.

O especialista acrescenta que, a julgar pelo que vem ouvindo por parte de Teerã, o programa nuclear iraniano seguirá avançando, mesmo com as ações dos Estados Unidos e de Israel contra o programa.

Rompimento com AIEA poderia acelerar programa nuclear do Irã?

No último sábado (28), o Irã anunciou que não permitirá a entrada do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, em plantas nucleares do país após descobrir que informações sigilosas das instalações estavam em poder de Israel.
Além disso, o vice-presidente do parlamento iraniano, Hamid Reza Haji Babaei, disse que Teerã não pretende permitir que a agência possua câmeras nas usinas nucleares do país.

Urânio - Sputnik Brasil, 1920, 30.09.2024

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Em relação a um eventual rompimento com a AIEA, Camila Munareto, doutora em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), acredita que é preciso avaliar os dois lados da moeda.

“O rompimento do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica pode ser visto tanto como uma forma de o país ampliar o seu programa nuclear sem ter que prestar contas a uma organização internacional, mas também isso pode ser visto como um elemento para ser usado como barganha futuramente, em eventuais negociações sobre um acordo nuclear”, aponta.

Na conjuntura atual, um acordo é visto como “pouco provável”, conforme a analista, dado o alto nível de desconfiança entre as partes envolvidas.

“O Ocidente, muito orientado por uma visão islamofóbica mesmo, tem visto o Irã como um país radical com o qual não há possibilidade de estabelecer negociação em pé de igualdade. Então acaba minando a possibilidade de estabelecer confiança entre as duas partes, e isso caracteriza as relações entre o Irã e o Ocidente ao longo da história.”

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