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quinta-feira, 25 abril, 2024

A transição em Cuba começará este ano

Aram Aharonian

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Miguel Díaz-Canel está cada vez mais visível e seu nome começou a ser citado entre os candidatos da tão anunciada e complexa transição geracional.

Para James Clapper, diretor nacional de Inteligência estadunidense, Cuba se prepara para uma “provável transição presidencial em 2018”, mas a transição geracional certamente se efetivará neste mesmo ano, segundo o que asseguram altos funcionários de Cuba, que continuam sofrendo o cinquentenário bloqueio econômico, apesar do descongelamento das relações bilaterais com os Estados Unidos. Isso significa que pessoas nascidas a partir de 1960 – depois do início da Revolução – começarão a ter mais acesso a cargos políticos importantes dentro do aparato estatal cubano, ainda que não o mais importante.

Clapper afirmou diante do comitê de Serviços Armados do Senado que “os líderes cubanos permanecerão centrados em preservar o controle político (do país), enquanto se preparam para uma provável transição presidencial em 2018”, a qual “será levada adiante em ritmo lento, assim como as reformas econômicas destinadas a reduzir o controle estatal na economia e na promoção da atividade econômica privada”.

O presidente cubano Raúl Castro começou, em fevereiro de 2013, seu segundo mandato de cinco anos, que deveria concluir em 2018, mas o mais provável é que ele deixe o poder neste ano, e quem poderia assumir seu lugar é o vice-presidente Miguel Díaz-Canel.

Engenheiro eletrônico, nascido em 1960 – portanto, depois do triunfo da Revolução –, Díaz-Canel ocupa, desde 24 de fevereiro de 2013, o cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e de Ministros, além de ser membro do Bureau Político do Partido Comunista Cubano. Ele é o primeiro dirigente cubano nascido depois de 1959 a alcançar esse posto.

Substituiu nesse cargo ao lendário José Ramón Machado Ventura, histórico dirigente que cedeu o posto “em favor da promoção da nova geração”. Ninguém duvida que ele é uma figura muito próxima a Raúl Castro, que já afirmou que “a maior satisfação é a tranquilidade e serena confiança que sentimos ao ir entregando às novas gerações a responsabilidade de continuar construindo o socialismo”.

Raúl e o sedutor Miguel Díaz-Canel

Alto, grisalho, boa aparência, quase sempre vestido com jaleco, às vezes com traje escuro. Miguel Díaz-Canel seguiu o trajeto em direção ao poder sem pressa, mas sem pausas. Para seus colaboradores, Miguel “é um tipo muito mais flexível do que parece, de mente aberta, e sobretudo, inteligente”. Brilhante, bem-humorado, projeta a imagem de dirigente sério e de poucos sorrisos diante das câmaras.

Nos Anos 80, Díaz-Canel formava parte de um grupo de jovens comunistas encabeçado pelo ex-chanceler Roberto Robaina, com quem compartilhava traços em comum, como o cabelo longo e seu amor pelos Beatles. Robaina perdeu o cargo em 2002, acusado de cometer “erros políticos e éticos”.

Outros dirigentes de gerações pós-revolucionárias, como o ex-vice-presidente Carlos Lage e o ex-chanceler Felipe Pérez Roque, além do ex-ministro José Luis Sierra, que subiram “em helicópteros” por Fidel Castro, também foram demitidos, deixando a revolução sem uma transição geracional natural, como reconheceu o próprio Raúl Castro.

A carreira de Díaz-Canel cresceu de forma mais paulatina: em 1987, ele começou seu trabalho dentro da União de Jovens Comunistas (UJC), e por aqueles anos viajou à Nicarágua, liderando uma delegação de apoio à revolução sandinista.

Em 1994, em pleno período especial (crise econômica após a queda da União Soviética), Díaz-Canel foi designado como primeiro-secretário do Partido Comunista em Villa Clara, sua província natal. Em 2003, foi designado para o cargo de primeiro-secretário da província de Holguín, onde teve que lidar com a pior seca das últimas décadas e suas consequências, como a falta d’água nos lares da região e os efeitos negativos na produção agrária, saindo fortalecido dessa tarefa, graças à sua constância e seu sentido prático.

Nesse mesmo ano, com Fidel na presidência, Raúl Castro o promoveu para formar parte do Bureau Político, o órgão máximo do Partido Comunista: “ele se destaca por sua tenacidade e sistematicidade no trabalho, o espírito autocrítico e sua constante vinculação com o povo. Tem um sentido apurado de trabalho coletivo e da exigência com os subordinados, e predica com o exemplo, no afã de se superar cotidianamente. Mostra uma sólida firmeza ideológica”, disse Raúl na época.

Em maio de 2009, já sob a gestão presidencial de Raúl Castro, ele foi nomeado Ministro de Educação Superior, e em março de 2012 assumiu como vice-presidente do Conselho de Ministros, substituindo o nonagenário e histórico José Ramón “Gallego” Fernández. Desde então, sua figura se fez cada vez mais visível e seu nome começou a ser citado entre os candidatos da tão anunciada e complexa transição geracional.

Tradução: Victor Farinelli

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