24.5 C
Brasília
sexta-feira, 14 março, 2025

A questão energética

Foto: Eletronuclear 

PRELIMINARES

As energias apropriadas pelo homem moldaram a civilização. Não se deve esquecer que o homem (homo sapiens) surgiu no fim da Glaciação Würn, o que lhe possibilitou chegar, pelas próprias pernas a todos cantos do mundo, andando aonde com o degelo do período interglacial, este mesmo que vivemos atualmente, viriam ser ocupados pelos oceanos.

As velocidades das mudanças correspondem à sofisticação das fontes primárias de energia. Quanto mais rudimentar, maior tempo se leva para se obter e utilizar uma fonte tecnologicamente mais complexa.

As fontes primárias de energia não se encontram democraticamente espalhadas pelo Planeta; ao contrário, elas se concentram em determinados polos onde seus proprietários podem usá-las para o domínio político.

Mesmo as fontes que aparentemente estão disponíveis para todos os povos, as tecnologias de apropriação e de uso mostram diferentes possibilidades – técnicas, econômicas, geográficas e sociais – de aplicação.

No último século, a disputa pelo poder, fez surgir diversas teorias para controle das fontes de energia, dentre elas as que ficaram conhecidas como “questões climáticas”.

Na luta pela libertação, a energia é fundamental; países com pequena disponibilidade de fontes próprias de energia ficam dependentes de quem as supra, para que seus habitantes tenham o conforto alcançado na civilização contemporânea.

Eurocêntricos dificilmente lançam seus olhos para condições centro africanas, das ilhas do Pacífico e de locais onde parecem desconhecer que também são habitados por seres humanos.

BREVE HISTÓRIA DAS FONTES PRIMÁRIAS DE ENERGIA

A história das fontes de energia se confunde com a própria história da civilização humana. Apenas a soberba europeia não incorpora as conquistas realizadas fora de seus domínios, como será demonstrado.

Ao sair do leste africano, de onde todos surgimos, o homem tinha apenas a energia do próprio corpo e como consequência da última glaciação, não apenas estavam definidos o local do nosso surgimento como os limites para busca por alimento.

Tratamos do homem coletor, que se espalhava apenas pela África onde, pelo seu tamanho, era possível obter frutas, sementes, folhas e outros produtos vegetais, pela região que é denominada Sahel.

O homem caçador já exigia maior destreza e força, para não se transformar em caça. Os antropólogos, majoritariamente, consideram que nossos ancestrais surgiram há 250/300 mil anos e saíram da África há pelo menos 100 mil anos.

Isso significa que há bem mais de 100 mil anos já tinham o controle do fogo, a primeira energia que foi utilizada. Pois sem fogo não teriam como sobreviver às consequências da última glaciação. É necessário ter clareza a respeito dos primeiros passos do homem pois as obras de ficção literária, cinematográfica, pictórica encontram imensa riqueza de temas que atraem muitos de nós.

O fogo foi, inicialmente, resultado da observação daqueles homo sapiens, dos raios que incendiavam as florestas. Levou bastante tempo para que o homem conseguisse produzi-lo e transporta-lo.

Outras energias que foram sendo apropriadas pelo homem foram dos cursos d´água e dos ventos, quando já tinham se estabelecido e aprenderam a produzir seus alimentos. Logo depois, domesticando animais, estes se juntaram à produção energética. Acredita-se que medeiem dez mil anos o homem coletor-caçador se estabelecer como agricultor.

Nesta era de instantaneidades e virtualidades, fica muitas vezes difícil entender o ritmo da natureza, especialmente de ciclos longos como os climáticos e planetários. Também as tecnologias mais sofisticadas são mais rapidamente substituídas do que as mais simples e duradouras.

Outra condição perturbadora é a doutrinação política, ideológica, religiosa, que distorce ou apaga registros históricos para confirmar a soberania ou prevalência de um poder.

Temos um exemplo bem a propósito da questão energética.

Na Idade Média, classificação histórica europeia, séculos V ao XV, enquanto os países europeus queimavam floresta para aquecimento, cozimento alimentar e outros confortos, a China utilizava o carvão mineral e a biomassa na produção energética, que só chegariam à Europa com a Revolução Industrial (1760) e o uso da biomassa no século XX.

Em síntese, podemos afirmar que aquele australopiteco afarense, que surgiu há uns 200 mil anos na Etiópia, levou quase o mesmo tempo para sair do fogo, da água e do vento para recursos mais eficazes de obtenção de energia: as energias fósseis, obtidas a partir de 1760.

É bem verdade que a China já utilizava desde 1200 o carvão mineral, mas é um caso único e isolado, pois a China não colonizava, como faziam os europeus, outras etnias e nações.

Temos então, nestes últimos 300/250 anos, as energias que são hoje consideradas poluidoras e que impedirão o homem de existir? É preciso, como ocorre com a maioria destes crentes, imaginar milagres.

A ENERGIA DOS ÚLTIMOS 250 ANOS

A sequência é assustadoramente rápida.

1750: carvão mineral.

1850: petróleo nas formas líquidas (óleo) e gasosa (gás natural).

1940: da fissão nuclear.

2010: da fusão nuclear, por enquanto somente na República Popular da China (China).

Vamos entender este salto gigantesco da fissão para fusão nuclear.

No primeiro e mais antigo processo, o homem bombardeava o núcleo de certos átomos e gerava a energia que tanto podia desenvolver um país quanto o destruir.

Na fusão nuclear dar-se um Sol, com aquecimento capaz de derreter tudo que estiver ao redor. Imagine uma nave interplanetária lançada em direção ao Sol que nos dá o dia e a noite. O caro leitor certamente já imaginou que esta nave irá se derreter ao se aproximar do “astro rei”.

Este é o passo tecnológico fantástico atingido pela China. Cercar a fusão nuclear de materiais que resistam a esta proximidade do Sol. A quanto mais levará o progresso humano, após obter esta conquista?

 Como ficarão aqueles que “inventaram” uma “questão climática”, ao se depararem com a existência de petróleo fora das áreas sob seus domínios?

DISTRIBUIÇÃO DA ENERGIA FÓSSIL PELO PLANETA

Para que o leitor não se iluda, vamos narrar o acompanhamento que, por 20 anos, realizamos das produções, consumo e reservas de energia, por necessidade profissional, na publicação da empresa British Petroleum, BP Statistical Review of World Energy, que recentemente sumiu da Google.

Para sustentar a farsa das “questões climáticas” esta empresa britânica, sem qualquer esclarecimento para os leitores, começou a incluir nas reservas de petróleo os possíveis óleo e gás natural existentes no Canadá e nos EUA retirados dos folhelhos betuminosos.

Esta pseudo reserva de petróleo já mostra sua especificidade na terminologia de extração; não é um poço que atinge um reservatório e de lá se retira o petróleo. E o “fracking”, literalmente “fraturamento hidráulico”, para cujos donos das terras e operadores da extração Donald Trump dirigiu campanha específica, pois são sempre vítimas das campanhas das Organizações não Governamentais (ONGs) dedicadas ao combate das energias fósseis.

Para obtenção do óleo dos folhelhos é necessário um poço horizontal, pois estes se empilham ao contrário do óleo de reservatórios que impregnam rochas sedimentares. Por este poço horizontal se processa sob altíssima pressão a lavagem e quebra dos folhelhos onde estão os betumes. Esta lavagem sempre adicionam produtos químicos, tipo detergentes, para aumentar a capacidade da lavagem. Na outra ponta do poço horizontal se retira este betume que, por processo semelhante ao de uma separação petroleira ou da produção de cachaça, se obtém o óleo.

Pois bem, caros leitores, a BP soma estes óleos e coloca o Canadá como detendo das três maiores reservas de petróleo do mundo.

Mas não para por aí. Quando a Petrobrás desenvolvia os campos do pré-sal, o que fazia aumentar as reservas, a BP as reduzia nos seus relatórios!

Tais farsas acabaram por eliminar dos Relatórios o item RESERVAS, e não deixar a petroleira do Reino Unido como motivo de piada em congressos e seminários internacionais de empresas de petróleo.

Seguem as páginas do índice no exemplar em inglês de 2024:

“Contents

Introduction

Welcome to Energy Outlook 2024 6

Recent developments and emerging trends 8

Key insights 10

Overview 12

Two scenarios:

Current Trajectory and Net Zero 14

Comparison with IPCC pathways 16

From energy addition to energy substitution 18

Cumulative emissions:

Current Trajectory and Net Zero 20

Delayed and disorderly scenario 22

Energy demand 24

Growth of primary energy 26

Primary energy by fuel 28

Oil demand 30

Road transport 32

Aviation and marine 34

Product demand and refining 36

Oil supply 38

Natural gas demand 40

Imports of liquified natural gas 42

Natural gas production 44

Coal demand 46

Modern bioenergy 48

Power sector 50

Electricity demand 52

Electricity generation by fuel 54

Wind and solar 56

Increasing power sector resilience 58

Low carbon hydrogen 60

Low carbon hydrogen 62

Regional low carbon hydrogen demand 64

Carbon mitigation and removals 66

Carbon capture, use and storage 68

Enablers 70

Energy investment 72

Demand for critical minerals 74

What does it take to accelerate the energy transition? 76

Decomposition by sector 78

Power 80

Industry 82

Transport 84

Buildings 86

Annex 88

Data tables 90

Comparing scenario emissions with IPCC carbon budgets 92

From Current Trajectory to Net Zero 94

Modelling approach for the Delayed Net Zero and fastest

IPCC decarbonization pathways 96

Economic impact of climate change 98

Investment methodology 100

Carbon emissions definitions and sources 102

Other data definitions and sources 104”.

ENERGIA COMO LIBERDADE OU ESCRAVIDÃO

De acordo com a International Energy Agency (IEA) para 2023, o consumo de energia no mundo, em percentagens, assim se distribuía:

Óleo (petróleo): 29,5%

Gás natural (petróleo): 23,6 %

Petróleo Total: 53,1%

Carvão Mineral: 27,2%

Total de energia fóssil: 80,3%

Biomassa: 9,5%

Nuclear (fissão): 5,0%

Hídrica: 2,5%

Outras (eólica, solar): 2,7%.

No Brasil, a energia dos fósseis representava 52,7%, da biomassa, principalmente pela ação do Movimento dos Sem Terra (MST), 25,1%, das fontes hídricas 12,1%, das fontes eólica e solar 8,1%, e nuclear 2%.

Quanto às reservas de petróleo (óleo e gás natural) pode-se identificar quatro grandes polos no mundo, com dados da IEA de 2024.

Maior polo o do Oriente Médio, que por muitos anos se subordinou aos EUA e Reino Unido, mas, desde o surgimento dos BRICS, vem assumindo cada vez maior autonomia. Pelos maiores volumes este polo é composto pela Arábia Saudita, pelo Irã, pelo Iraque, pelos Emirados Árabes Unidos, pelo Kuwait, pelo Qatar, Omã, Iemen e Síria.

O segundo maior polo está na América Latina, principalmente por abrigar o país de maiores reservas no mundo, a Venezuela. Adicionam-se o Brasil, principalmente devido ao pré-sal, a Guiana, o Equador, o México, a Argentina e a Colômbia, com esta recente descoberta em águas profundas pela Braspetro, subsidiária da Petrobrás.

Os terceiro e quarto polo somam reservas bastantes próximas e estão ambos afastados do domínio anglo estadunidense. À Rússia somam-se as reservas do Cazaquistão e do Azerbaijão. Na África, da Líbia, da Nigéria, da Somália, da Argélia, da Namíbia, de Angola, do Egito, do Sudão do Sul, do Congo, do Gabão e do Sudão.

Ao todo quase dois trilhões de barris de petróleo.

O fim próximo do petróleo é um argumento de quem não o tem: EUA e Europa Ocidental. O bem informado leitor perguntará: e a Noruega? E o Reino Unido?

O petróleo no Mar do Norte, onde se encontram as reservas da Noruega e do Reino Unido foram descobertos a partir de 1969 (campo Ekofisk, nas águas norueguesas) quando se acirrava a luta pelo petróleo tendo de um lado os capitais financeiros e de outro os capitais industriais.

Como todos já identificam nesta terceira década do século XXI, o capital financeiro não exige trabalhadores nem consumidores, ele vive da especulação e da acumulação de riqueza. A terra é para locar, não para produzir.

O petróleo do Mar do Norte logo se mostrou pouco e concentrado. Hoje o que se observa são estruturas metálicas, gerando um sério problema ambiental, pois as reservas se foram e custa muito as manter e mesmo as remover.

O petróleo ainda é encontrado na Noruega, que teve a sabedoria de o manter estatal, controlar a produção e buscar mais ao norte, para onde o degelo, desta época interglacial, está ampliando o Oceano Glacial Ártico e possibilitando avançar na exploração. Suas reservas são compatíveis com as do México. Insuficientes para, por si só, gerarem um polo petrolífero.

As finanças, por seus recursos midiáticos, dá a entender que o petróleo está com seus dias contados, em cerca de 50 anos não terá expressão energética que ainda desfruta atualmente.

Mas não mostra que a energia ficou muito mais cara com estas “fontes alternativas”, aquelas primeiras utilizadas pelo homem, das águas, do vento e do Sol. Nem do salto civilizacional dados pela introdução das energias fósseis, que há mil anos já dava a proeminência tecnológica e social à China.

Também finge desconhecer a evolução tecnológica que permitiu a descoberta de petróleo no mar e nas águas profundas em poços de 10.000 metros de profundidade. O conhecimento geofísico, que nos dá a primeira informação sobre os subsolos terrestres e marítimos, avança celeremente, com os crescentes desenvolvimentos do tratamento da informação digitalizada.

Pode ser que, daqui a 50 anos, as reservas mundiais sejam ainda maiores do que hoje.

E quanto maior a disponibilidade de energia, mais qualidade de vida pode ter o ser humano. Embora devamos lutar para a melhor distribuição de riqueza, colocando seus controles nas mãos do Estado Nacional e não nas do “mercado” financeiro, apenas sua maior abundância já nos dará alguns passos no caminho da liberdade.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS