Agência Petrobras
Por Pedro Augusto Pinho
Para entendermos a Petrobrás precisamos retroceder ao golpe de 1964. Até então a presença imaterial de Getúlio mantinha sua obra. Em 1964, formou-se uma grupo de interesses, todos à direita do espectro político, para conseguir a maioria golpista. Faziam parte, Castelo Branco, Golbery, pessoal do Ipes e do Ibade, como Glycon de Paiva, Roberto Campos, Edmar Bacha etc, o grupo de entreguistas. O grupo dos fascistas, com o Ustra, Fleury, Frota e muitos outros militares e policiais. O grupo de tenentistas, Costa e Silva, Geisel, Ademar de Queiróz, os mais nacionalistas. E um grupo de oportunistas, aproveitadores, civis e militares, que ora tendiam para um grupo ora para outro, que fossem mais articulados e pudessem lhe atender os interesses imediatos. Neste os empresários eram numerosos.
Quando Castelo Branco colocou Ademar de Queiróz na Petrobrás era para acabar com ela. Mas um grupo de engenheiros e geólogos da Petrobrás levaram Ademar de Queiróz para conhecer as instalações e as operações e o convenceram da importância da Petrobrás. Lembrar que Ademar de Queiróz saiu da Petrobrás para o Ministério da Guerra e ver a importância de seu convencimento. Quando entrei, seis anos depois, em janeiro de 1970, na Petrobrás fui trabalhar com alguns desses engenheiros, na Bahia.
A partir deste momento, a Petrobrás passou a ser instrumento de propaganda do governo, principalmente na produção e transporte de derivados. Quando Geisel assumiu a presidência da Petrobrás, novembro de 1969, houve verdadeiro surto de investimentos na exploração e no refino e transporte (dutos e terminais), que prosseguiram até Ueki, em agosto de 1984. Foram 14 anos de investimentos, treinamentos, experiências no exterior, que fizeram a Petrobrás uma empresa reconhecida internacionalmente. Eu ainda estava na Petrobrás quando aquela estupidez de contenção de despesa fez o governo vetar a ida de dois geólogos para apresentar trabalho na Association of Petroleum Geologists nos EUA. Para vergonha brasileira, a direção da APG informou que a ida e estadia dos geólogos era por conta da entidade. Ela não podia deixar passar esta oportunidade de discutir assuntos de tamanha importância com quem detinha tanta informação. Os geólogos terminaram viajando por conta da Petrobrás, mas a vergonha ficou.
Com a Nova República a Petrobrás passou por uma situação de eliminar os melhores e mais experientes quadros. Então eu fui para a Escola Superior de Guerra (ESG). Sobre este momento, escrevi para o Viomundo, em 30 de dezembro de 2024, o artigo: A Derrota de Brizola leva ao sepultamento o futuro do Brasil.
“A DERROTA DE BRIZOLA LEVA AO SEPULTAMENTO O FUTURO DO BRASIL
O fim do período dos governos militares (1964-1985) ainda não encontrou a narrativa objetiva e completa que registre este período da História do Brasil.
Vários interesses deformam a compreensão. Em nossa opinião, o principal é a participação do poder financeiro internacional, o verdadeiro condutor do Brasil desde 1980 e que não quer assim ser identificado.
Também não há homogeneidade entre os cinco governantes militares, excluídos os dois meses da Junta Militar (31/08 a 30/10/1969): Castelo Branco (15/04/1964-1967), Costa e Silva (15/03/1967-1969), Médici (30/10/1969-1974), Geisel (15/031974-1979) e Figueiredo (15/03/1979-1985).
Castelo Branco foi um governo estadunidense aqui. Faziam parte Lincoln Gordon, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, o coronel Vernon Walters, agente da Central Intelligence Agency (CIA), o embaixador Roberto Campos, entre outros estrangeiros e notórios entreguistas nativos.
Esse governo tratou de alterar a trajetória nacionalista de João Goulart, facilitando com mudanças na legislação as manipulações cambiais e, principalmente, com repressão, prisões, torturas e assassinatos, o estabelecimento do domínio estadunidense aqui.
Criou o Serviço Nacional de Informações (SNI), porém seu idealizador, general Golbery do Couto e Silva, longe de profissionalizar a atuação da “inteligência”, fez de seu mandato (1964-1967) um órgão de opressão e fofocas palacianas.
De tal modo o Brasil se transformou em colônia estadunidense. Costa e Silva recebeu o apoio dos industriais e empresários brasileiros, notadamente os paulistas, e tendo ele liderança na tropa, dar o golpe dentro do golpe, sucedendo a Castelo Branco.
Tem início um novo período nos governos autoritários militares, com incentivos à industrialização, criação de órgãos na estrutura do Estado e de empresas estatais, profissionalização do SNI, conduzida pelo futuro presidente Médici, porém mantida a repressão com o Ato Institucional nº 5 (AI-5).
O acidente vascular cerebral (derrame), em agosto de 1969, antecipou o fim do governo Costa e Silva, dando origem ao triunvirato da Junta Militar.
Os incentivos e a estrutura de governo para o desenvolvimento econômico fez do governo Médici o “Milagre Brasileiro”, crescimento médio de 11,9%, ao ano. A repressão indiscriminada de 1964 foi direcionada a partir de Médici aos movimentos, inclusive de luta armada, constituído por parte da oposição. O fascismo policial e militar fez do AI-5 sua constituição, até ser revogado por Geisel.
Tantas sandices correm como verdade nas mídias desde 1980, que compensa pequena reflexão e narrativa factualmente verdadeira: não há desenvolvimento sem o Estado.
Se o Estado atua em favor do seu país, o País também se desenvolve; se apenas enriquece grupos da sociedade, o país tem crescimento desigual e tanta pobreza quanto a manutenção política possa permitir. Isso se dá nos EUA, em toda Europa Ocidental, na Ásia e onde mais se busquem informações não dogmáticas e doutrinadoras.
O Estado Brasileiro, sob Médici e Geisel, não somente colocou no orçamento o desenvolvimento do Brasil, como a demanda que pudesse manter este crescimento constante (previdência rural, Plano de Integração Social (PIS), MOBRAL, Projeto Rondon, FUNARTE, NUCLEBRAS e o que hoje constituem o SUS e o FIES).
Como é óbvio, tal desenvolvimento econômico, social, cultural foi considerado, pelos EUA e pelas finanças apátridas em geral, um mal, o péssimo exemplo a ser combatido, surgindo, então, os movimentos contra a ditadura, pela democracia, pelas eleições “diretas já”, junto a denúncias das atrocidades cometidas por “governos militares”.
Porém logo se deram conta que, eleição direta após o governo Figueiredo colocaria na presidência do Brasil Leonel de Moura Brizola, nacionalista e trabalhista, disposto a educar o povo para nova Era Vargas.
Então o país inteiro se frustrou com a decisão do Congresso ao não aprovar as “Diretas Já”; Brizola presidente significaria que o trabalho colonizador de vinte e um anos, mesmo com altos (Castelo Branco e Figueiredo) e baixos (Geisel), estaria desperdiçado.
REDEMOCRATIZAÇÃO ?! O QUE É ISSO?
Passou-se a construir a “redemocratização” que também não daria prosseguimento ao Governo João Goulart. Era a ideologia que se criava para dominar o Brasil e todas nações onde o povo fosse mais ignorante e menos participativo: o neoliberalismo financeiro.
Para atingir esta nova meta colonizadora, o inimigo a combater era o Estado Nacional.
Tudo se concentra na identificação do Estado como agente dos governos militares, como ineficiente e perdulário, como corrupto e incapaz, cujos exemplos são tomados dos governos desde Juscelino a Sarney, como se tivessem a mesma origem e os mesmos objetivos. Vargas passa a ser identificado apenas como mais um ditador.
E se constrói a conquista de todos poderes, por eleições e por nomeações. Os partidos políticos fariam a seleção de quem poderia ser eleito e a justiça eleitoral lhes daria vitória. Para isso se aperfeiçoa o processo eleitoral, ficando cada vez mais distante da participação popular até, como se vê atualmente, apenas presença à máquina que registra o voto, sem possibilidade de conferência pelo próprio eleitor, o que se dirá da checagem por mãos humanas. Tudo uma questão de fé!
E todas correntes ideológicas e políticas em atividade no Brasil se unem para derrotar, em 1989, Leonel Brizola. Do Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos militares mais à direita, fascistas, conscientes ou instintivos, todos se unem para qualquer acordo que derrotasse Brizola.
O Partido dos Trabalhadores (PT), em absoluta contradição com seu nome, porém muito próximo deste neoliberalismo, ataca a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), fruto da “ditadura de Vargas”, “esquecendo” que nela continha o possível, na desigual sociedade brasileira, para efetivamente liquidar com a escravidão e apoia a liberdade (?) dos ubers (!), MEIs (!) e da total ausência de direitos trabalhistas e previdenciários.
Hoje, neste terceiro governo do presidente Lula e quinto do PT, o partido já está incorporado ao “centrão”, ao “teto de gastos”, “prevendo déficit zero das contas públicas em 2025”.
As oportunidades de usar a imensa riqueza natural do Brasil, na área agropecuária, na diversidade e qualidade dos minérios, nas diversas fontes supridoras de energia, na quantidade de recursos fluviais e aquíferos, pois tudo que aqui existe para o povo deste país continental são colocadas para exportar o lucro que companhias estrangeiras usufruem com domínio do Brasil, e com as restrições impostas ao desenvolvimento que atenda aos brasileiros.
Se vivo, Brizola se dissolveria em lágrimas!
O que trouxe o neoliberalismo financeiro para o Brasil?
Em primeiro lugar a corrupção, pois tudo que importa é o lucro máximo. Alguns defensores dos governos militares procuram fazer a distinção moral ou ética com a corrupção antes, a seu ver, inexistente.
Não é verdade. Aí estão as obras do Coronel Andreazza, o crescimento do Sistema Globo, do Banco Bradesco, para demonstrar que havia corrupção. Porém com a ideologia neoliberal ela constitui a própria base da governança.
Os casos de mau uso de dinheiro público se avolumam no período posterior ao último governo militar, prosseguindo até hoje.
Até 1989, os presidentes da Câmara dos Deputados não se destacavam pelos orçamentos e emendas secretos, e diversas outras ilicitudes, embora nem todos se identificassem pela probidade, retidão, que deve ser a principal qualificação dos homens públicos, e que deram exemplo a vida pública de Getúlio Vargas, João Goulart, Ernesto Geisel, e Leonel Brizola.
Mas a simples enunciação dos nomes de presidentes da Câmara dos Deputados a partir de 1990, quando o neoliberalismo financeiro toma conta da política nacional, fará vir à mente do leitor casos de corrupção ou muito mal explicados de Paes de Andrade, Inocêncio de Oliveira, Severino Cavalcanti, Henrique Alves, Eduardo Cunha e Arthur Lira.
Todo este conjunto de interesses estrangeiros além da corrupção inerente à ideologia neoliberal destruíram Brizola. Talvez a ignorância popular, que a destruição dos CIEPs, tornada imperativo aos governantes do Estado do Rio de Janeiro a partir de 1994, tenha após tantos anos de luta levado a aquele probo político considerar não haver mais tempo de vida para reverter tão maléfica situação.
E acrescente-se a expansão da igreja neopentecostal. Esta criada em 1975 nos EUA já, no mesmo ano, era transplantada para o Brasil para Igreja Salão da Fé. Dois anos depois este Salão da Fé se transforma na Igreja Universal do Reino de Deus, buscando a internacionalização. Tantos recursos e tão rapidamente obtidos levam-nos a imaginar que deve existir algo além da religião para esta escalada neopentecostal.
QUAL FUTURO PODE TER O BRASIL?
Bons analistas políticos chamam atenção para ausência de apoio popular para que Geisel enfrentasse vitoriosamente a pressão dos capitais estrangeiros e o governo estadunidense representado por Henry Kissinger.
Lembre-se que, em 1975, sendo Geisel presidente, o Brasil votou a favor da Resolução 3.379 da Assembleia Geral das Nações Unidas, que considerava o sionismo forma de racismo.
O alemão da Baviera, Henry Kissinger, judeu pela etnia e pela religião, não tinha identidade com o luterano brasileiro, descendente de alemães do Hesse. E que adotava políticas independentes nas relações exteriores, na construção da autonomia energética brasileira e, como a cereja na torta, ainda denunciava o acordo militar com os EUA.
Kissinger colocou instituições e mídias estadunidenses para atacarem Geisel. Isso é comprovado com fatos que, ainda hoje, são repetidos em mídias no Brasil.
Para enfrentar toda esta avalanche de desinformações, notícias falsas, deturpações da verdade, é imprescindível a formação escolar de ótima qualidade para todo brasileiro. Mas os orçamentos são “secretos”, há “tetos de gasto”, “emendas orçamentárias sem identificação dos autores e finalidades”, que colocam a instrução pública, grátis, laica, universal, de horário integral, sem recursos mínimos indispensáveis para atender o povo brasileiro.
O atual governador do Estado mais rico da federação, São Paulo, o capitão bolsonarista Tarcísio de Freitas, promove leilões de escolas públicas no sentido de privatizá-las. Que futuro aguardam as crianças paulistas?
E o Banco Central independente do Brasil, pois serve às finanças apátridas, que eleva a taxa básica de juros para dificultar ou impedir que o País novamente se industrialize, com Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) de Médici e de Geisel, nas condições tecnológicas atuais.
Vejam caros leitores, quanto nos custou, como ficou cara a derrota eleitoral de Brizola em 1989! Um país sem futuro.
A Petrobrás não é mais uma empresa brasileira.
O período que vai de Collor a FHC foi da destruição da Petrobrás, eliminando seus quadros técnicos e gerenciais e promovendo as contratações que colocavam as operações em mãos estrangeiras. Também, para cuidar da política alienante e antinacional, extingue-se um órgão estatal e cria-se uma agência sem funcionários públicos, sem vínculo com a ação do Estado: ANP. E dá-lhe de vender as ações da Petrobrás nas bolsa de Nova Iorque, de São Paulo, e colocá-las como garantidora de empréstimos para despesas correntes, não para investimentos que gerariam o crescimento da empresa.
Lula é conivente de tudo isso, desde quando fez o treinamento na AFL-CIO até quando surge midiaticamente pelas mãos do entreguista Golbery. O fato de fazer discurso no túmulo de Vargas e pedir desculpas a Brizola não apaga sua verdadeira vocação do sindicalismo dos patrões.
Ao escolher Magda Chambriard para presidente da Petrobrás, sabia que estava entregando a pessoa muito competente e entreguista a maior empresa brasileira. É só ver como ela entregará a Petrobrás a seu sucessor, ou o coveiro definitivo.
Petrobrás que dá prejuízo e distribui o segundo maior valor da história em dividendos leva à demissão qualquer presidente, exceto se está cumprindo o definido pelos donos.
E quem manda no Brasil, hoje, 2025? Longe de ser o Judiciário, um clube de vaidades e benesses para poucos. Menos ainda o Legislativo que tem seus membros dependentes dos recursos para eleição. Quando ao executivo, este já sabe que não manda e não se importa.
O Brasil tem sua efetiva governança entregue ao Comitê de Política Monetária (COPOM), órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia (SELIC). A taxa SELIC é quem efetivamente decide qual o destino das receitas da União sem preocupações de natureza social nem desenvolvimentistas, ou seja, apenas interessada no que diz respeito à remuneração da dívida, nunca auditada, dos empréstimos públicos.