30.5 C
Brasília
quinta-feira, 6 novembro, 2025

A obsessão geopolítica dos fazedores de guerra – “o importante é competir”

Wellington Calasans – Direto de Estocolmo

A busca do Ocidente por conter a ascensão de China e Rússia transformou-se, nas últimas décadas, em uma obsessão geopolítica que beira o irracional. Mesmo cientes das limitações, adotaram o perigoso e inconsequente lema “o importante é competir”.

Liderados pelos Estados Unidos, países da OTAN têm investido maciçamente em sanções econômicas, alianças militares e guerras por procuração, na esperança de enfraquecer Moscou e Pequim.

Contudo, essa estratégia ignora uma contradição fundamental: o próprio Ocidente depende profundamente das commodities, tecnologias e cadeias produtivas controladas por essas duas potências.

Enquanto impõem restrições, continuam comprando minerais críticos da China e gás, petróleo e grãos da Rússia — revelando uma hipocrisia estrutural que mina a eficácia de suas políticas de contenção.

Essa dependência ficou ainda mais clara com a recente decisão de Pequim de restringir as exportações de terras raras, elementos essenciais para a produção de semicondutores, ímãs de alta performance, baterias e equipamentos militares.

Conforme reportado na imprensa alternativa dos EUA, a China anunciou novas regras que exigem licenças para qualquer exportação que envolva até mesmo traços desses minerais, especialmente quando destinados a usos com potencial militar.

A medida, implementada semanas antes de possíveis negociações entre Trump e Xi, não é apenas defensiva — é uma demonstração clara de poder. Ao controlar cerca de 70% do fornecimento global desses materiais, a China tem capacidade real de paralisar setores inteiros da indústria ocidental, incluindo a defesa e a transição energética.

Enquanto isso, em vez de buscar diálogo ou diversificação realista de suas cadeias de suprimento, os EUA intensificam sua postura confrontacional em novas regiões estratégicas — como o Ártico.

Um exemplo recente é o acordo de US$ 6,1 bilhões firmado entre Washington e Helsinque para a construção conjunta de 11 quebra-gelos, quatro na Finlândia e sete nos EUA. O anúncio, feito ontem durante encontro entre Trump e o presidente finlandês Alexander Stubb, faz parte do chamado “ICE Pact”, uma iniciativa trilateral com Canadá para competir com a esmagadora frota russa de mais de 40 quebra-gelos.

A justificativa oficial é “segurança e economia ártica”, mas o subtexto é inequívoco: trata-se de uma tentativa de cercar a Rússia em sua própria fronteira norte, numa corrida armamentista disfarçada de cooperação industrial.

O mais preocupante é que essa escalada ocorre antes mesmo que o Ocidente tenha feito uma autocrítica honesta sobre os fracassos de suas intervenções anteriores.

As guerras no Oriente Médio e o conflito na Ucrânia — onde Israel e Kiev atuam como verdadeiras “bases militares habitadas” de Washington — não só não alcançaram seus objetivos declarados, como geraram inflação global, rupturas logísticas e um sentimento antiocidental crescente no chamado Sul Global.

Mesmo assim, em vez de repensar sua abordagem unipolar, o establishment ocidental parece apostar em provocar o próximo conflito, agora no Ártico, onde os riscos ambientais, militares e diplomáticos são ainda maiores.

A Finlândia, por exemplo, celebra o acordo com os EUA como fonte de “esperança” diante das dificuldades econômicas causadas pela guerra na Ucrânia — mas essa esperança está atrelada a uma lógica de confronto que pode se voltar contra todos os envolvidos.

Diante desse cenário, fica evidente que a política externa ocidental está presa em um ciclo vicioso: tenta isolar adversários dos quais não consegue se desvencilhar. Enquanto os EUA gastam bilhões para construir quebra-gelos e impõem sanções, a China e a Rússia fortalecem laços com países do chamado Sul Global, criam sistemas financeiros alternativos e consolidam seu domínio sobre recursos estratégicos.

A interdependência global não é uma escolha ideológica — é uma realidade material. Ignorá-la em nome de uma visão ideológica de superioridade não só é perigoso, mas também economicamente insustentável. Sem reconhecer essa contradição, o Ocidente corre o risco de provocar uma crise sistêmica cujas consequências ultrapassarão em muito os limites de qualquer guerra por procuração.

*Comente neste link*:

https://x.com/wcalasanssuecia/status/1976545886499942748

ÚLTIMAS NOTÍCIAS