Zedejesusbarreto
Vi Pelé em campo pela primeira vez no dia 30 de dezembro de 1959, na Fonte Nova, noite de uma quarta-feira. Era o segundo jogo da decisão da 1ª Taça Brasil, o Tricolor vencera o primeiro, 20 dias antes, de forma surpreendente (3 x 2, gols de Biriba, Leo e Alencar) na Vila Belmiro. Eu com 11 anos, paixão pura por bola e pelo Bahia. Pelé tinha 19 anos, já Campeão do Mundo na Suécia, voando. Sim, ele voava.
Saí naquela noite da velha Fonte com o coração sofrido pela derrota mas com um sentimento de estranho encantamento, a certeza na alma que tinha presenciado coisas inimagináveis, divinas, sublimes. O que Pelé fez em campo … ah, era um susto, um deslumbre cada vez que ele tocava na bola. Uma sensação de surpresa, do acontecer imprevisível, de um milagre, como se no fundo a gente se perguntasse, sem fôlego, o coração na boca ‘o que vai acontecer?’.
O timaço do Bahia suportou o primeiro tempo, com uma atuação segura e dura de Henrique, Vicente, Flávio e defesas salvadoras de Nadinho. Mas, no segundo tempo… Aos 7’, Coutinho tabelou com Urubatão e Pelé, livrou-se da marcação e fez 1 x 0 – a bola raspou na perna de Vicente e traiu o goleiro Nadinho. O Rei esteve infernal – dribles, arrancadas, passes, chutes, técnica e arte, sua bola era poesia. Aos 30’, fez o dele, pegando da entrada da área, após arrancada de Dorval pela direita.
Mas, lembro-me, não sei o momento do jogo, de um lance em que a Fonte Nova inteira (mais de 40 mil presentes, só existia o lance de baixo de arquibancadas) levantou-se e aplaudiu de pé o Rei, pelo inesperado, pela plasticidade, pela belezura da jogada: Dorval levou o marcador na velocidade e cruzou da direita, a bola veio alçando nas imediações da meia lua, na linha da grande área, Henricão e Vicente saltaram e não alcançaram e Pelé, atrás, subiu mais que todos, voando, matou no peito e girou no ar, sem deixar a bola cair, desferindo um balaço que bateu no travessão e subiu … Ooohhh! Nadinho só espiou e o torcedor perplexo, mesmo sem querer, levantou de susto e aplaudiu por minutos. Foi no gol da entrada, da ladeira, as imagens continuam vivas na minha mente, mais de 60 anos depois.
Fonte Nova no final dos anos 50