John Greim/LightRocket/Getty Images; Domínio público
Charles Hugh Smith [*]
A montanha-russa está prestes a ficar “divertida”, ou seja, imprevisível, volátil e enervante para aqueles que estão habituados a distorções extremas que “consertam” todas as coisas financeiras.
Os seres humanos têm um talento especial para normalizar os extremos. Habituamo-nos rapidamente a condições que teriam sido intoleráveis antes de os extremos serem normalizados pela habituação e pelo viés das novidades recentes. Em pouco tempo, convencemo-nos de que viver no vermelho, vitamina C e cocaína não só é normal como é saudável.
Durante 15 anos, políticas extremas impulsionaram constantemente a economia e os ricos para o topo. Agora estamos finalmente no topo da montanha-russa, por isso aguentem, a viagem torna-se “divertida” daqui até ao fundo. Despojadas do viés da normalidade, as distorções da hiper financeirização e da fraude apanharam finalmente o sistema financeiro global em 2008. Os ricos recusaram-se a aceitar quaisquer perdas dos seus imensos ganhos no casino fraudulento e, por isso, temos vivido de dívidas e de um “efeito riqueza” criado pela Reserva Federal que enriqueceu os 10% mais ricos à custa dos 90% mais pobres e da estabilidade sistémica.
Esta é a economia dos EUA despojada de artifícios, propaganda e engano. Quer “gostemos” ou não, quer “discordemos” ou não, isso não muda o que está para vir, que é uma completa dissolução de todos os extremos e distorções.
Quando uma economia opta por viver de uma dívida cada vez maior e se recusa a anular o crédito mal parado e a registar as perdas, só há dois futuros possíveis: O Japão seguiu o primeiro caminho em 1989-90, quando a sua bolha de ativos de crédito rebentou e a sua classe rica se recusou a aceitar quaisquer perdas na sua riqueza fantasma inflacionada pela bolha. O resultado líquido foram 35 anos de estagnação, à medida que a vitalidade foi sendo esvaziada da economia e da sociedade japonesas.
O Japão sobrevive com as suas dívidas crescentes, empresas zumbie e imensas participações em ativos estrangeiros, enquanto as suas gerações mais jovens desistiram do casamento, da família e da casa própria, uma vez que tudo isso agora é inacessível. Se esta via para a decadência nacional parece ser o caminho a seguir, tire as vendas e olhe à sua volta: já estamos bem encaminhados nesse sentido.
A outra via é a da inflação elevada, que devora vivos os assalariados e os poupadores. Quando se depende da dívida para financiar o consumo e os gastos dos ricos (gerados pelo “efeito riqueza” induzido pelo banco central), a produtividade estagna e todo esse dinheiro fresco da dívida a entrar no sistema empurra a inflação para uma dinâmica de instabilidade crescente.
O mercado bolsista dos anos 70 revela como a inflação faz a sua magia: as ações sobem e descem durante anos, e todos ficam aliviados quando o mercado regressa aos seus máximos anteriores: sim, estamos de novo bem! Na verdade, não. Ajustados à inflação, os investidores do “compra e mantém” (“buy and hold”) perderam 2/3 do seu capital. (Os apostadores também perderam e acabaram por desistir de ganhar dinheiro a negociar ações).
A terceira alternativa é rebentar a bolha da dívida e dos ativos, apesar dos melhores esforços de todos para normalizar os extremos, e a economia e o mercado entrarem em crash quando toda a dívida for cancelada (written off) / desfeita. O resultado então é uma inversão clássica da bolha de ativos, com as avaliações a regressarem ao ponto de partida anterior à bolha. Esta é uma antevisão do que está para vir:
Vamos passar em revista os extremos que serão desfeitos, quer “aprovemos” a anulação ou não. Aqui está o índice Case-Shiller Housing: a habitação é inacessível para todos, exceto para os ricos, uma distorção maciça que implora ser desfeita.
Eis a dívida total nos EUA. Como diz o gato escaldado, “isto está ótimo”: normalização em ação.
A dívida federal está a subir porque estamos a jogar um jogo de transferência da expansão da dívida do sector privado para o sector público a fim de fazer com que as coisas pareçam bem. Lamento, vitamina C e cocaína continuam a não ser uma dieta saudável:
Infelizmente, 15 anos de ingestão de Delírio viciaram as mentes daqueles que acreditam que as taxas de juro estão a voltar para próximo de zero e que, por isso, tudo será “resolvido”. A realidade é que tudo está “resolvido” desde há 15 anos, e é por isso que as taxas de juro vão subir, independentemente de quanta Ilusão estivermos a engolir.
Historicamente, um intervalo de 5% a 7% é normal, mas se tentarmos “resolver” o problema baixando as taxas para 1%, obteremos taxas de 9% a 12% no nosso banquete de consequências.
Aqui está o que acontece quando as taxas se normalizam: todo o nosso dinheiro vai para o pagamento de juros. Uma vez esgotado o cartão de crédito, o nosso consumo à base de empréstimo-e-despesa seca: Não há mais “crescimento” do PIB financiado pela dívida.
Os lucros das corporações, “ganhos” através da redução da qualidade dos bens e serviços e da fixação de preços por cartéis, cairão da estratosfera. Nem mesmo a IA pode salvar os lucros das corporações quando os consumidores ficarem sem crédito. Não importa quantos mestres em administração de negócios (MBAs) estejam a mexer em chatbots de IA, eles não conseguirão extrair sangue de pedras.
E só para recordar quem ganhou e quem perdeu durante os 15 anos de ascensão a distorções extremas: os super-ricos ficaram com a grande maioria dos ganhos do casino:
Ao passo que os 50% mais pobres perderam terreno: ei, nunca foi tão bom, certo?
A montanha-russa está prestes a tornar-se “divertida”, ou seja, imprevisível, volátil e enervante para aqueles que se habituaram a distorções extremas que “consertam” todas as coisas financeiras. Clique em “não gosto” se quiser, mas não fará qualquer diferença. Os sistemas têm a sua própria dinâmica, a arrogância humana e o pensamento mágico não têm qualquer influência.
Ver também:
https://www.usdebtclock.org
[*] Autor de numerosos livros acerca da situação económica e social, estado-unidense.
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