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quinta-feira, 28 março, 2024

A Mídia Descontrolada Um aperitivo do novo livro de Lalo Leal

É um conjunto de relatos sobre as mazelas do PIG – Partido da Imprensa Golpista e seu confronto com os movimentos pelo fim dos oligopólio das comunicações no país

Mídia Descontrolada: episódios da luta contra o pensamento único é um compêndio da atuação das grandes empresas de comunicação e dos grupos voltados à democratização da comunicação no Brasil. Poderíamos também descrevê-lo, de modo mais zombeteiro, como um conjunto de relatos sobre as mazelas do PIG – Partido da Imprensa Golpista e seu confronto com os movimentos pelo fim dos oligopólio das comunicações no país.

O livro, com o selo do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, reúne artigos de Laurindo Lalo Leal Filho publicados na Revista do Brasil, entre 2010 e 2018. Para oferecer uma breve degustação dos 87 artigos que compõem a obra, seguem cinco trechos selecionados do livro.

A TV organiza a massa

A mudança da grade de programação, com a troca da novela pelas manifestações “ao vivo”, na última quinta-feira, é ainda mais emblemática. Sinalizou para o telespectador que algo de muito grave estava ocorrendo e ele deveria ficar “ligado na Globo” para entender a situação… Tanto entenderam que às 20h30 centenas, se não milhares de pessoas, continuavam a sair das estações do Metrô na Paulista. Iam se juntar ao “pitbulls” (jovens parrudos) estrategicamente postados ao longo da avenida. Pela minha cabeça passavam imagens das brigadas nazistas vistas no cinema. (julho de 2013)

Existe jornalismo comprometido com uma sociedade melhor

Os jornalistas brasileiros hoje, diante do reduzido e concentrado mercado de trabalho, estão divididos em três “tipos ideais”, segundo a formulação weberiana, os sabujos, verbalizadores da ideologia dos seus patrões, recompensados geralmente com bons salários e com o sonho de pertencerem à mesma casta de quem os paga… os trabalhadores, um amplo contingente de profissionais necessitados dos seus empregos para sobreviver ainda que submetidos a duras condições de trabalho e sob forte controle ideológico… os que romperam com o sistemaempresarial e foram buscar formas alternativas de exercer um jornalismo honesto, comprometido com os interesses mais amplos da sociedade. Tendo muitas vezes que viver de outras fontes de renda, esses jornalistas montam sites e blogues, fundam revistas e formam coletivos capazes de ampliar, com muita competência, o restrito círculo de informações existentes no país. (maio de 2016)

Partido da mídia segue unido e quer saída da crise a seu modo

No primeiro domingo de junho, a Folha de S.Paulo em editorial também deu uma guinada. Sem o estardalhaço do grupo Globo realizou mais discretamente o seu desembarque do governo Temer… “O governo Temer vem implantando um audacioso elenco de reformas estruturais que estão no rumo certo. Sua capacidade de seguir adiante com esse programa parece seriamente prejudicada”, diz o jornal da família Frias. E segue afirmando que “Por ora, o mais importante, com ou sem Temer, é que o governos e o Congresso persistam nesse rumo, único capaz de nos livrar da recessão e preparar um futuro mais próspero e promissor”. Ainda não se ouviu algo semelhnate do Estadão ou da TV Bandeirantes. Mas mesmo que não sigam as piruetas de Globo e Folha, esses e outros integrantes do partido da mídia continuam unidos na defesa das medidas antipopulares e antinacionalistas colocadas em prática pelo governo originado do golpe.” (junho de 2017)

Regulação da mídia não é censura

Censura é um instrumento usado por ditaduras para impedir, antecipadamente, a divulgação de fatos, nomes ou ideias… A regulação dos meios de comunicação existente em todas as grandes democracias passa longe disso. Não proíbe nada. Apenas estabelece regras para permitir que mais pessoas ou grupos sociais possam se expressar através da mídia, privilégio restrito hoje no Brasil a algumas famílias, e garantir também a possibilidade de contestação do público através, por exemplo, do direito de resposta. (dezembro de 2010) 

Leitura histórica e científica do golpe se multiplica em aulas e livros

Multidões foram às ruas insufladas pela televisão articulada como os demais veículos como mostra, em feliz analogia, o editor do site O Cafezinho, Miguel do Rosário. Diz ele que “o processo de impeachment foi um jogo de futebol. Globo passava a bola para a Folha, que deixava a Veja perto do gol. Que tocava de cabeça para Sérgio Moro completar de cabeça”. E assim as ideias da classe dominante tornavam-se as ideias dominantes na sociedade, como dizia Karl Marx, referindo-se à Alemanha do século 19, mas tão atuais neste Brasil de século 21. (março de 2018)

Leal Filho, Laurindo Lalo. Mídia Descontrolada: episódios da luta contra o pensamento único. São Paulo, Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, 2018. 213 p.

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