© AP Photo / Omar Sanadiki
Pedro Augusto Pinho*
O genocídio que o Estado de Israel vinha praticando com o povo palestino já ganhara a repulsa quase unânime dos governos e povos em todos continentes. A única voz concordante era dos Estados Unidos da América (EUA), tanto a do atual presidente quanto dos dois principais concorrentes à sua sucessão.
Porém esta chacina não corresponde inteiramente ao interesse dos sionistas e da extrema direita ortodoxa, que mantêm o governo de Benjamin Netanyahu (1949), atual Primeiro-ministro. Eles querem mais, para o que estão provocando uma guerra no Oriente Médio.
O sionismo surge no final do século XIX com o jornalista judeu austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904) e seu livro “O Estado Judeu” (1895). Para Herzl, a melhor maneira de se ter um estado judeu era através de um congresso sionista “formado apenas por judeus”.
Esta ideia excludente está na própria formação dos judeus que criaram um Deus só para eles, diferenciando-se assim dos egípcios, hititas, babilônicos, assírios, sumérios e acádios.
Os judeus foram, pela incapacidade de assimilação a qualquer outra etnia, sendo expulsos em todas as épocas e dos mais diferentes lugares, como o Egito, Cartago, Alexandria, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Rússia.
O primeiro congresso sionista foi realizado na Basiléia (Suíça), de 29 a 31 de agosto de 1897. Foi presidido por Theodor Herzl e contou com 208 delegados, de dezessete países, e 26 correspondentes de imprensa. Mais da metade dos delegados eram da Europa Oriental, com quase um quarto vindo da Rússia, e 69 das várias sociedades sionistas, então existentes.
Ainda que as mulheres participassem deste Primeiro Congresso Sionista, elas não tinham direito a voto, o que viria acontecer no Segundo Congresso, em 1898.
Südfeld Maximilian Simon (1849-1923), de codinome Max Nordau, médico húngaro, co-fundador do Movimento Sionista, presidindo a sessão no segundo dia, afirmou: “O sionismo busca estabelecer um lar para o povo judeu na Palestina garantido pelo direito público”. Ou seja, sem qualquer pudor afirma que invadirá a casa alheia para se instalar com todos os seus. E de que país viria este “direito público”.
Em 1942, foi realizada a “Conferência Sionista Extraordinária” onde se anunciou que a Palestina fosse estabelecida como uma Comunidade Judaica.
Depois da criação do Estado de Israel os Congressos Sionistas passaram a ser realizados em Jerusalém.
A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL
A partilha da África foi o objetivo da Conferência de Berlim (1884-1885), da qual participaram 13 nações da Europa, os EUA e a Turquia.
Os mais beneficiados foram a Grã-Bretanha e a França. Entre outras possessões e protetorados coube à Grã-Bretanha: Palestina, Iraque, Qatar, Transjordânia, Bahrain, Oman, Áden, Emirados Árabes, Egito e Sudão.
No Tratado de Paz, celebrado em Paris (França), em 1919, que encerrou a I Grande Guerra, havia uma cláusula, inserida pelo presidente dos EUA, Woodrow Wilson (1856-1924), que tratava da “autodeterminação dos povos”. O Egito e o Irã, que lá estavam presentes, viram a oportunidade de se tornarem Estados Independentes. Enquanto a Grã-Bretanha viu a mudança nas relações internacionais que poderia lhe tirar as colônias que, sob as diversas denominações, possuía pelo mundo.
Esta percepção britânica se acentuou na II Grande Guerra, que envolveu muito mais nações, inclusive as colônias africanas e do Oriente Médio.
Todos estes eventos se deram com a energia do petróleo em ascensão e o Oriente Médio como o local das maiores reservas e produção.
As relações da Inglaterra com os judeus, desde a criação do Banco da Inglaterra (1694) vinham se estreitando, e de expulsos eles foram, informalmente, com Cromwell, e formalmente, com Carlos II, sendo readmitidos na Grã-Bretanha. Objetivando o controle pela aristocracia inglesa do mercado financeiro londrino, Guilherme III se tornou sócio dos judeus a quem dera o direito de imprimir papel-moeda.
Este conceito de Banco Central vinha se formando na Europa do século XVII, e deles participavam os judeus com a experiência trazida de Veneza, Gênova e Amsterdã. Muitos destes judeus, conforme a “História do Banco da Inglaterra” (1944), de John Clapham, tinham origem na península Ibérica, de onde saíram com as Inquisições.
De acordo com Nicholas Hagger (“The Secret History of the West”, John Hunt Publishing, Hampshire, 2005) “o banco da Inglaterra deve ser visto como um empreendimento sionista e Montagu como um rosa-cruz sionista”.
Mas no pós-guerra seria o petróleo, o ouro negro, que seria disputado, e o Reino Unido antevia o fim de suas possessões no Oriente Médio. Tratava-se de criar uma cizânia que lhe possibilitasse manter o domínio, como mediador privilegiado.
Israel se autodenominou estado independente em 14 de maio de 1948, porém uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), de novembro de 1947, apresentava o plano para dividir a região da Palestina (antiga província palestina otomana) entre Israel e o estado que reunisse a população local de língua árabe.
Os povos ocupantes das terras lançaram-se numa guerra para expulsar os invasores, porém o apoio britânico e estadunidense permitiu que Israel, após 15 meses, fosse vitorioso.
Desde então, a questão da energia vem sofrendo diversas alterações, onde a ausência do controle das reservas pelas empresas estadunidenses e britânicas, além das organizações dos países exportadores, são as mais significativas.
AS GUERRAS DO SÉCULO XXI
O domínio financeiro que se estabelece na década de 1980, com as desregulações, e se firma com o Consenso de Washington (1989) trouxe, de início, a perspectiva de um poder neoliberal financista dominando o mundo. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se desintegrou, as privatizações tiraram o controle dos Estados para os gestores de ativos, denominados coletivamente como “mercado”, e o fim de direitos trabalhistas e previdenciários parecia ser não o fim da história, mas o recomeço do poder existente no século XIX, nem mesmo faltando a escravidão, hoje na forma do uber e do microempreendedor individual (MEI).
Porém a desmedida ganância, levando à emissão de títulos financeiros sem lastro, e o desemprego pelas rendas improdutivas, ao invés das industriais, colocou o mundo ocidental em recessão. Ao mesmo tempo em que o Oriente formava uma sociedade produtiva e se enriquecia, como se sabe da República Popular da China, do Vietnã, das Coreias do Norte e do Sul, e ofuscavam o Ocidente.
Atualmente, a manutenção de guerras que impulsione a venda de armas é a única modalidade de produzir recursos para os EUA. E a miséria que se vê pelas cidades e pelo interior é crescente, a violência é de tal maneira constante, que dela já não se ocupa a imprensa tradicional.
O Estado de Israel sempre teve o projeto de domínio do Oriente Médio, e surge a oportunidade quando os EUA promovem o ato terrorista, em 11 de setembro de 2001, imputando aos árabes sua realização e lançando a “guerra ao terror”, que é apenas o islâmico.
Hoje são os EUA a nação terrorista, impulsionando guerras, golpes de Estado, promovendo bloqueios, sanções, interdições por toda parte. A consequência destas medidas unilaterais é colocar diversos povos e países sem garantia dos direitos humanos, os mais comezinhos, triviais como se alimentar, se tratar de enfermidades, vestir-se e estudar ou trabalhar. A Venezuela é um exemplo bem próximo de nós, que sofre por ter a maior reserva de petróleo do mundo.
A mídia hegemônica dos capitais financeiros inverte a situação e afirma ter a Rússia invadido a Ucrânia, quando esta guerra é da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia, usando a Ucrânia, após a Primavera Laranja ou Revolta Maidan, entre 2013 e 2014, que destituiu o presidente legitimamente eleito e colocando em seu lugar um artista circense que agora recusa submeter-se a eleição, vencido seu mandato.
No caso de Israel contra os palestinos nem tem o pudor de assinalar que é um exército regular que chacina um povo sem preparo bélico, apenas movido pela sua preservação. Os grupos, que denominam terroristas, são na verdade dedicados patriotas defendendo o lugar onde nasceram e têm suas famílias, desde tempos imemoriais.
É contra esta carnificina que se manifestou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres (1949), que foi logo declarado “persona non grata” e proibido de entrar em território israelense pelo seu chanceler Israel Katz (1955).
O Brasil, que teve seu presidente também declarado “persona non grata”, deveria, a exemplo da Bolívia, Cuba, Nicarágua, Venezuela, Mauritânia, Chade, Guiné, Mali e Níger romper também relações com o Estado de Israel.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.