A recente revelação do Financial Times expõe a fragilidade estratégica da Ucrânia e de seus aliados europeus: um plano para que Kiev adquira US$ 100 bilhões em armas norte-americanas financiadas pela Europa, em troca de garantias de segurança dos EUA.
A iniciativa, apresentada durante a “cúpula na Casa Branca”, revela uma lógica paradoxal: a Europa promete gastar recursos que não possui para comprar equipamentos que os EUA sequer têm em estoque, destinados a soldados que a Ucrânia já não consegue recrutar devido ao esgotamento de seu exército.
A escolha de Zelensky por usar terno formal na reunião, longe de ser mero simbolismo, desnudou a tentativa desesperada de legitimar um acordo que, na prática, ignora a realidade bélica.
Enquanto isso, Trump, ao afirmar que “não estamos dando nada, estamos vendendo armas”, reforça a transação mercantil por trás do discurso de solidariedade, reduzindo a guerra a um negócio lucrativo para a indústria bélica norte-americana, enquanto a Ucrânia se transforma em refém de promessas financeiras insustentáveis.
O acordo inclui ainda um projeto de US$ 50 bilhões para produção conjunta de drones com empresas ucranianas, supostamente pioneiras na tecnologia desde 2022. No entanto, a narrativa de “inovação ucraniana” mascara uma contradição gritante: a suposta capacidade produtiva do país foi devastada pela guerra, e sua indústria bélica depende quase exclusivamente de componentes estrangeiros.
A proposta, portanto, não passa de uma manobra para justificar o fluxo contínuo de recursos ocidentais, mantendo a ilusão de que a Ucrânia pode sustentar uma resistência indefinida.
Essa estratégia, longe de fortalecer Kiev, apenas adia o inevitável: sem tropas suficientes e com infraestrutura destruída, nenhum montante em dólares transformará a Ucrânia em um parceiro militar viável.
A obsessão europeia por financiar armas, em vez de pressionar por negociações, confirma que Bruxelas prefere alimentar o conflito a encarar a derrota geopolítica já consumada.
A União Europeia, ao insistir em sanções cada vez mais duras contra a Rússia e em negar qualquer concessão a Moscou, demonstra uma incapacidade crônica de compreender a realpolitik.
Enquanto “líderes europeus” (modo de dizer) se reúnem na Casa Branca para discutir “garantias de segurança”, ignoram que a Rússia, com seu controle territorial consolidado e sua resiliência às sanções, não tem motivos para ceder.
A exigência de que Putin abandone suas conquistas militares como pré-condição para paz é tão irrealista quanto a promessa europeia de gastar US$ 100 bilhões sem orçamento. Pior: essa postura intencionalmente bloqueia qualquer mediação dos EUA que possa ser vista como “favorável a Moscou”, como sugerido pelo relatório do Financial Times.
A União Europeia, assim, transforma-se em obstáculo à paz, priorizando uma narrativa ideológica — que pinta Putin como “novo Hitler” — em detrimento de soluções pragmáticas que salvem vidas ucranianas, exposta aos ataques russos cada vez mais intensos.
O analista geopolítico Glenn Diesen desmonta a narrativa dominante ao lembrar que não havia ameaça russa à Ucrânia antes de 2014. Até então, a maioria da população ucraniana não buscava a OTAN, e a Rússia não reivindicava territórios vizinhos.
Foi apenas após o apoio ocidental ao golpe pró-Ocidente em Kiev — alertado por diplomatas da CIA e embaixadores como um risco de guerra — que Moscou reagiu com a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas no Donbass.
Hoje, porém, qualquer análise que contextualize o conflito é rotulada de “desinformação”, enquanto se insiste na ideia de que a Rússia age por “expansionismo imperial”. Propaganda repetida, mas que já não convence a mais ninguém com mais de dois neurônios.
Essa negação histórica impede que a UE e a Ucrânia reconheçam seu papel na escalada, perpetuando uma estratégia que, como adverte Diesen, “destruirá a Ucrânia, nossas economias e nossa relevância no mundo — e possivelmente desencadeará uma guerra nuclear”.
A obsessão europeia por intensificar sanções e militarização revela o mesmo parâmetro errado, através do mesmo cálculo perigoso: acreditar que a pressão econômica e o fornecimento de armas levarão a Rússia ao colapso.
A prática provou que Moscou adaptou-se às sanções, diversificou parcerias com a China e consolidou seu controle sobre regiões industriais ucranianas. Outros países do bloco BRICS também são importantes na estratégia russa.
Enquanto isso, a UE, ao gastar recursos escassos em um conflito que não lhe diz respeito diretamente, acelera seu próprio declínio econômico. A energia cara, a desindustrialização e a perda de competitividade frente à Ásia são consequências diretas dessa política suicida.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia, usada como peão geopolítico, vê sua população esvaziada por migração e recrutamento forçado, enquanto políticos débeis como Zelensky negociam futuros brilhantes em Washington, deixando seu povo à mercê de um conflito sem saída.
O esforço ucraniano para “criar influência do nada”, como define Diesen, é exemplificado pelo plano de US$ 100 bilhões: uma ficção financeira que visa apaziguar Trump e garantir continuidade do apoio ocidental.
Contudo, a realidade é que os EUA, já cansados da guerra, buscam distanciar-se do conflito, transferindo a responsabilidade para a Europa. A UE, porém, em vez de aceitar a derrota na guerra por procuração, insiste em “mais do mesmo”, como se sanções e armas pudessem reverter o equilíbrio de poder no campo de batalha.
Essa teimosia não apenas prolonga o sofrimento ucraniano, mas também expõe a incapacidade europeia de definir uma estratégia própria, preferindo seguir os caprichos de Washington e as demandas irreais de Kiev.
O resultado é uma cozinha com “muitos cozinheiros” — sete líderes europeus na Casa Branca, cada um com interesses divergentes —, tornando as decisões caóticas e ineficazes. A representação política europeia atingiu o mais baixo nível já imaginado pelo mais pessimista analista político.
O cenário mais provável é o colapso gradual da Ucrânia como Estado funcional, seguido por um cessar-fogo negociado sob termos ditados pela Rússia. Enquanto a UE insiste em exigir a “integridade territorial” ucraniana — um objetivo já perdido na prática —, Moscou continuará a explorar sua vantagem militar para consolidar ganhos territoriais.
A promessa de Trump de “garantir segurança” aos ucranianos é vazia, pois os EUA não têm interesse em se comprometer com um conflito que já os custou bilhões. A única saída razoável seria remover a Ucrânia da linha de frente da disputa geopolítica, adotando a segurança indivisível proposta pela Rússia em 2021: neutralidade ucraniana, limites à expansão da OTAN e cooperação econômica.
Porém, enquanto a UE e Kiev se apegarem à fantasia de uma “vitória total”, a guerra seguirá seu curso trágico, consumindo vidas e recursos até que reste apenas a ruína. A paz, como sempre, exigirá humildade — mas, neste momento, é exatamente o que falta aos que decidem o destino da Ucrânia. A Guerra 3NT é apenas uma teimosia.
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