O Quarto Estado, 1901/Giuseppe Pellizza da Volpedo
Por Jair de Souza
As mazelas do fascismo estão de volta para atormentar a vida das classes trabalhadoras. Para os que temos um pouco mais de tempo no percurso da estrada da vida, este ressurgimento pode chegar a ser um tanto inexplicável. É difícil entender como, mesmo após as nefastas experiências ocorridas na primeira metade do século passado, essas correntes de extrema direita tenham regressado ao cenário principal do mundo político de uma maneira para nada desprezível.
Porém, jamais seremos capazes de compreender os mecanismos que possibilitaram o ressurgimento vigoroso dessa ideologia ultrarreacionária, sem estudar a evolução das estruturas sócio-econômicas nas quais o fascismo se ampara. E as bases do fascismo estão profundamente assentadas no capitalismo em sua fase mais oligopolizada, ou seja, nos momentos em que o capitalismo ingressa em uma etapa de acentuada crise.
Em condições de normalidade e pujança, as chances de o fascismo se impor são quase nulas. Como podemos constatar ao rever a história, em períodos em que o capitalismo não se sente ameaçado, as lideranças de tipo fascista costumam ser desprezadas e rejeitadas pelos próprios capitalistas, que as veem como grotescas e vulgares.
Mas, tudo muda drasticamente quando as relações de dominação do capitalismo oligopolizado já não conseguem ser aceitas pelas massas populares sem grandes resistências. Nos momentos em que o descontentamento popular atinge níveis tão elevados que as massas deixam de acreditar que seja possível sair de sua tragédia por meio de reacomodações cosméticas, o fascismo passa a ser visto com outros olhos pelas elites socioeconômicas que antes o viam com desdém.
A mudança de atitude das classes dominantes em relação com as lideranças de cunho fascistoide não se deve a nenhuma variação no sentimento de asco que lhes nutriam anteriormente. É que, acima de quaisquer outras questões, os senhores do grande capital sabem que, em primeiro lugar, devem preservar as estruturas do sistema de exploração do qual dependem para manter seus privilégios. Nestas circunstâncias de crise intensa e ameaça a seus interesses, o fascismo desponta como a principal alternativa de transformar tudo na superfície para que nada mude nas estruturas. Em outras palavras, o fascismo é a tábua de salvação do grande capital nos momentos de grandes tormentas.
Assim, para neutralizar a fúria das massas, recorre-se a certos anjos da guarda que, embora dotados de feições pouco palatáveis, são úteis na tentativa de redirecionar a sanha popular para que os interesses reais dos capitalistas não sejam atingidos. Por isso, não é de estranhar a peculiaridade de que as grandes lideranças fascistas tenham sido, e continuem sendo, figuras notoriamente grotescas. Na verdade, não apresentar nada que as identifique, em termos de modos e costumes, com as classes dominantes é quase que condição sine qua non para alguém ter êxito como fascista. É preciso falar e se comportar de maneira tão vulgar a ponto de que o povo não sinta que elas façam parte das elites exploradoras tradicionais.
Nos grandes expoentes do fascismo de quase todos os tempos e lugares, como Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha, Milei, na Argentina, Bolsonaro, no Brasil, é comum que predominem as características que ressaltam sua pouca qualificação, sua incultura, sua grosseria, sua falta de fineza, ou seja, tudo aquilo que as elites socioeconômicas considerariam repugnante para si própria em condições normais. É o preço que têm de pagar para que seus sagrados interesses de classe não sejam violados.
Como a burguesia não consegue angariar apoio entre os setores populares com sua própria cara, são os fascistas que cumprem esse papel. É contra o fascismo que as classes trabalhadoras acabam tendo de se chocar no dia a dia. O principal recurso utilizado pelos fascistas para se imporem politicamente é o emprego da violência para acuar e intimidar seus adversários. No entanto, quando são encarados sem temor, os fascistas demonstram sua enorme covardia. Então, a melhor receita para o trato com fascistas é jamais demonstrar-lhes medo, sempre enfrentá-los com coragem e determinação.
Como forma de ilustrar o panorama que tentei esboçar nas linhas anteriores, gostaria de recomendar que assistam (ou voltem a assistir) àquele tido como um dos principais filmes já produzidos em todos os tempos. Refiro-me ao clássico Novecento, de Bernardo Bertolucci, que trata da questão da gênese do fascismo na Itália nos períodos prévios à Segunda Guerra Mundial. Sugiro que o façam, não apenas para deleitarem-se com sua inegável qualidade artística, senão que também para tê-lo como um valioso instrumento para refletir e entender melhor a variante do fascismo da qual somos vítimas no Brasil atual, o bolsonarismo.
Para possibilitar isto, o filme foi legendado em português e postado em cinco partes, que podem ser acessadas através dos seguintes enlaces:
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