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quinta-feira, 10 outubro, 2024

A firmeza de Cuba diante dos senhores da guerra

Trinta anos atrás, eu me perguntava sobre a atitude do governo dos Estados Unidos, que proibia seus cidadãos de viajar livremente para Cuba: «Se esta Ilha é, como dizem, o inferno, por que os Estados Unidos não organizam excursões para que os seus cidadãos conheçam e se desapontem?».

Agora, continuo me perguntando.

Há dez anos, eu tinha outra pergunta sobre a ‘infernização’ de Cuba: «Por que vão confundi-la agora com o inferno, se nunca foi confundida com o Paraíso?»

E agora eu ainda estou perguntando.

Nenhum inferno, nenhum Paraíso: a Revolução, uma obra deste mundo, está suja de lama humana, e precisamente por causa disso, e não apesar disso, ainda é contagiosa.

Não são muito honrados, digamos, estes tempos em que vivemos. Parece que está em andamento a Copa do Mundo de Tapetes. Tem-se a impressão, e espero que seja uma impressão errada, que os governos concorrem uns com os outros para ver quem é melhor se arrastando no chão e quem se deixa espezinhar com maior entusiasmo. A competição veio de antes, mas desde os ataques terroristas de 11 de setembro, há quase uma unanimidade na submissão oficial aos patrões do mundo.

Quase unanimemente, eu digo. E digo que hoje tenho orgulho de receber esta distinção no país que mais claramente colocou os pontos nos is dizendo não à impunidade dos poderosos, o país que mais firme e lucidamente recusou-se a aceitar este tipo de permissão universalmente concedida aos senhores da guerra, que em nome da luta contra o terrorismo podem praticar por capricho todo o terrorismo em que possam pensar, bombardeando quem quiserem e matando quando quiserem e a quem quiserem. Em um mundo onde o servilismo é alta virtude; em um mundo onde aqueles que não vendem, alugam, é estranho ouvir a voz da dignidade. Cuba está sendo, mais uma vez, a boca dessa voz.

Essa Revolução, punida, bloqueada, caluniada, fez muito menos do que queria, mas fez muito mais do que poderia. E aí está. Ela continua cometendo a perigosa loucura de acreditar que os seres humanos não estão condenados à humilhação.

Fragmentos da Intervenção de Eduardo Galeano em sua nomeação como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Havana em dezembro de 2001.

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