Wellington Calasans
A família, historicamente compreendida como núcleo de reprodução social, afetiva e econômica, tem sido sistematicamente desmontada por forças que convergem entre o neoliberalismo e certas vertentes do feminismo institucional (uma facção do feminismo que mina a mulher enquanto finge protegê-la).
Longe de ser um movimento espontâneo de emancipação, essa transformação opera como um mecanismo de reestruturação da subjetividade, no qual o indivíduo é desenraizado de laços comunitários e familiares para ser integrado como unidade isolada e produtiva dentro do mercado global.
Como aponta Brecher, “a família permanece integral ao capitalismo neoliberal”, pois sua reconfiguração permite a externalização de custos sociais e a flexibilização extrema da força de trabalho.
Nesse contexto, a mulher é simultaneamente exaltada como “superheroína” capaz de cumprir todos os papéis — produtiva, reprodutiva, emocionalmente disponível — e instrumentalizada como peça-chave na dissolução da célula familiar tradicional, que outrora funcionava como espaço de resistência à lógica mercantil.
A banalização do corpo feminino, promovida sob o disfarce de “liberdade sexual” e “autonomia”, serve menos aos interesses das mulheres comuns e mais à lógica do consumo e da desregulação afetiva.
Quando se afirma que a mulher pode ocupar “todos os papéis do homem”, não se está celebrando a igualdade, mas negando a complementaridade biológica e simbólica que sustenta a estrutura familiar duradoura.
Essa narrativa, alinhada ao que se chama de “feminismo neoliberal”, transforma a emancipação em individualismo competitivo, onde a maternidade, o cuidado e os vínculos estáveis são vistos como obstáculos ao sucesso pessoal.
O resultado é uma sociedade onde as mulheres são pressionadas a se tornarem homens simbólicos, enquanto os homens são despojados de sua função protetora e provedora — funções que, longe de serem opressivas, eram socialmente valorizadas e estruturantes.
Paralelamente, há uma campanha deliberada de confusão entre “ser homem” e “ser macho agressivo”. A masculinidade, condição biológica e psicológica legítima, é sistematicamente equiparada a patologias comportamentais — o que críticos chamam de “masculinidade tóxica” — como forma de deslegitimar qualquer expressão de força, assertividade ou liderança masculina.
Essa estratégia não apenas aliena os homens de sua própria natureza, como os torna alvos fáceis de controle social e jurídico. Nos tribunais de divórcio e na engenharia social contemporânea, o homem é tratado como suspeito por definição, cuja paternidade deve ser “concedida” pelo Estado e cuja provisão é convertida em punição financeira.
A quem interessa um homem enfraquecido, afeminado, sem autoridade moral ou jurídica? Àqueles que desejam substituir a família pelo caos como única instância de poder.
Essa doutrinação não beneficia as mulheres reais, mas sim uma elite política e econômica que lucra com a atomização social. O feminismo contemporâneo, ao abandonar a defesa da mulher concreta — mãe, esposa, trabalhadora — em favor de uma agenda identitária fluida que celebra “homens de saia” e nega a materialidade do corpo, trai suas próprias origens.
Enquanto isso, as mulheres comuns sofrem com a precarização dos vínculos, a ausência de apoio masculino estável e a medicalização da maternidade. Estudos apontam que o “feminismo neoliberal” responsabiliza as mulheres pelo bem-estar familiar sem oferecer suporte real, tornando-as gestoras solitárias de uma crise que não criaram.
Diante disso, é urgente repensar a família não como instituição retrógrada, mas como bastião de resistência contra a colonização da vida íntima pelo mercado e pelo Estado.
Defender a complementaridade entre os sexos, a paternidade ativa e a maternidade valorizada não é reacionarismo, mas um ato de sobrevivência civilizacional.
A crise demográfica em alguns países europeus, por exemplo, é celebrada pelo “feminismo neoliberal”, mas ignora as consequências danosas que isso provoca à democracia, pois o coletivo é superado pelo egoísmo.
Enquanto o discurso dominante continuar a confundir igualdade com uniformidade e liberdade com desvinculação, a guerra contra os homens — e, por extensão, contra a família — seguirá avançando, com consequências devastadoras para todos.
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