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domingo, 19 outubro, 2025

A eutanásia romantizada – A vida virou um fardo

Foto: Vatican News

Wellington Calasans

Ah, a “morte com dignidade” — que expressão bonita, não é? Soa quase poética, como se estivéssemos falando de um adeus sereno ao pôr do sol, e não de uma escolha feita sob pressão de sistemas de saúde falhos, solidão extrema ou contas médicas impagáveis.

No Canadá e no Uruguai, por exemplo, essa ideia foi embrulhada com fitas de progressismo e autonomia individual, como se legalizar a eutanásia fosse um ato de compaixão inevitável.

Mas será que estamos confundindo liberdade com abandono? Quando o Estado oferece a morte como opção mais acessível do que cuidados paliativos de qualidade, algo está profundamente errado.

A romantização da eutanásia transforma uma decisão extrema — muitas vezes tomada em momentos de fragilidade extrema — em um símbolo de civilização avançada.

Fala-se em “alívio do sofrimento”, mas raramente se pergunta por que esse sofrimento existe em primeiro lugar. Será que a resposta para a dor humana é realmente acelerar o fim, ou investir pesado em ciência, medicina, apoio psicológico e redes de cuidado?

Infelizmente, em vez de fortalecer essas estruturas, muitos governos preferem a solução mais barata: permitir que as pessoas peçam para morrer. E chamam isso de dignidade.

Pior ainda é como essa narrativa se espalha como um modelo a ser imitado. Países em desenvolvimento, com sistemas de saúde já precários, olham para o Canadá — onde há relatos de pessoas com deficiência ou em situação de pobreza sendo “orientadas” a considerar a eutanásia — e veem isso como progresso.

Mas progresso para quem? Certamente não para os mais vulneráveis, que acabam internalizando a ideia de que sua vida é um fardo. A linguagem suave — “morte assistida”, “escolha final” — mascara uma realidade dura: quando o cuidado custa caro, a morte sai mais em conta.

Essa visão simplória do valor da vida ignora que a verdadeira dignidade não está em escolher o momento da morte, mas em ter as condições para viver com respeito até o último suspiro.

Dignidade é ter acesso a tratamentos, não a injeções letais. É ter companhia, não solidão institucionalizada. É sentir que sua existência importa, mesmo quando o corpo fraqueja.

Romantizar a eutanásia é, em muitos casos, uma forma de desviar o olhar das falhas estruturais que tornam a vida insuportável — falhas que poderiam, e deveriam, ser corrigidas.

No fim, celebrar a eutanásia como um avanço ético é confundir desespero com liberdade. É aceitar passivamente que algumas vidas não valem o esforço de serem cuidadas.

E enquanto isso, a ciência — que poderia aliviar tanto sofrimento — segue subfinanciada, enquanto o debate se reduz a “direito de morrer”, em vez de “direito de viver bem até o fim”.

A verdadeira compaixão não oferece uma saída fácil; constrói pontes para que ninguém precise pedir uma. Romantizar a eutanásia é um recurso para quem já está morto por dentro.

*Link para comentários*:

https://x.com/wcalasanssuecia/status/1979828193444913603

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