Ah, a “morte com dignidade” — que expressão bonita, não é? Soa quase poética, como se estivéssemos falando de um adeus sereno ao pôr do sol, e não de uma escolha feita sob pressão de sistemas de saúde falhos, solidão extrema ou contas médicas impagáveis.
No Canadá e no Uruguai, por exemplo, essa ideia foi embrulhada com fitas de progressismo e autonomia individual, como se legalizar a eutanásia fosse um ato de compaixão inevitável.
Mas será que estamos confundindo liberdade com abandono? Quando o Estado oferece a morte como opção mais acessível do que cuidados paliativos de qualidade, algo está profundamente errado.
A romantização da eutanásia transforma uma decisão extrema — muitas vezes tomada em momentos de fragilidade extrema — em um símbolo de civilização avançada.
Fala-se em “alívio do sofrimento”, mas raramente se pergunta por que esse sofrimento existe em primeiro lugar. Será que a resposta para a dor humana é realmente acelerar o fim, ou investir pesado em ciência, medicina, apoio psicológico e redes de cuidado?
Infelizmente, em vez de fortalecer essas estruturas, muitos governos preferem a solução mais barata: permitir que as pessoas peçam para morrer. E chamam isso de dignidade.
Pior ainda é como essa narrativa se espalha como um modelo a ser imitado. Países em desenvolvimento, com sistemas de saúde já precários, olham para o Canadá — onde há relatos de pessoas com deficiência ou em situação de pobreza sendo “orientadas” a considerar a eutanásia — e veem isso como progresso.
Mas progresso para quem? Certamente não para os mais vulneráveis, que acabam internalizando a ideia de que sua vida é um fardo. A linguagem suave — “morte assistida”, “escolha final” — mascara uma realidade dura: quando o cuidado custa caro, a morte sai mais em conta.
Essa visão simplória do valor da vida ignora que a verdadeira dignidade não está em escolher o momento da morte, mas em ter as condições para viver com respeito até o último suspiro.
Dignidade é ter acesso a tratamentos, não a injeções letais. É ter companhia, não solidão institucionalizada. É sentir que sua existência importa, mesmo quando o corpo fraqueja.
Romantizar a eutanásia é, em muitos casos, uma forma de desviar o olhar das falhas estruturais que tornam a vida insuportável — falhas que poderiam, e deveriam, ser corrigidas.
No fim, celebrar a eutanásia como um avanço ético é confundir desespero com liberdade. É aceitar passivamente que algumas vidas não valem o esforço de serem cuidadas.
E enquanto isso, a ciência — que poderia aliviar tanto sofrimento — segue subfinanciada, enquanto o debate se reduz a “direito de morrer”, em vez de “direito de viver bem até o fim”.
A verdadeira compaixão não oferece uma saída fácil; constrói pontes para que ninguém precise pedir uma. Romantizar a eutanásia é um recurso para quem já está morto por dentro.
Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.