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domingo, 19 outubro, 2025

A disputa eleitoral pelo poder em 2026

Esquerda e direita estão em contradição consigo mesma

César Fonseca

A esquerda, minoria no Congresso, pilota política econômica de direita neoliberal, que a ameaça nas urnas, e a direita e ultradireita neoliberais, maioria parlamentar, aprovam medidas abusivas de poder, que as dividem, fragilizando-as na disputa eleitoral com a esquerda, porque não se entendem em torno de um candidato comum.

A esquerda, aparentemente, está, ideologicamente, unida em torno do presidente Lula, para a disputa em 2026, mas a direita, embora, ideologicamente, unida, majoritária, no legislativo, briga entre si, parecendo saco de gatos.

A polaridade é visível, em meio a um cenário internacional, ideológica e economicamente explosivo, num mundo em que a tentativa de paz se faz pelo apelo às armas.

Paz armada, contradição total.

A direita e ultradireita brasileiras, coordenadas pelo Centrão, estão divididas, porque passaram a ser percebidas pela sociedade como responsáveis pela desigualdade social.

Exemplo maior foi a PEC da Bandidagem que elas aprovaram no Congresso, o que serviu para demonizá-las perante a opinião pública, fragilizando-as e dividindo-as.

A população sentiu que elas, representantes das classes sociais mais ricas, julgam-se no direito de fazer suas próprias leis, governando, com exclusividade, para si mesmas, como é o caso das emendas parlamentares em regime de semipresidencialismo inconstitucional.

O senso social comum percebeu claramente que elas são adeptas do abuso financeiro incontrolável, determinado pela prepotência e arrogância decorrentes da sua maioria parlamentar, por se sentirem superiores, capazes de transformarem suas vontades em leis que as protegem, à revelia do interesse social.

O resultado dessa ação abusiva inadmissível das elites tupiniquins, herdeiras da escravidão, que barra reformas sociais e econômicas transformadoras, representadas no Congresso por partidos conservadores, foi a derrota expressa na mobilização social autônoma, em 21-09-2026, organizada à revelia dos partidos de esquerda, dominados pelo espírito conservador.

REAÇÃO DAS RUAS MUDA TUDO

O repúdio social, arregimentado com maior força pela classe artística, configurando a importância da arte nas mudanças sociais, lotou as ruas e decretou derrota da elite reacionária anti nacional, pró-Washington-Trump, favorável à anistia ao golpista Bolsonaro, ao mesmo tempo em que determinou aprovação da isenção do pagamento de imposto de renda para salários até R$ 5 mil/mês, estendendo aos R$ 7,35 mil.

As ruas – diante da apatia partidária de esquerda cooptada pela direita para obter governabilidade no comando do poder, determinaram comportamento progressista da classe social reacionária sob pena de ser massacrada nas urnas no próximo ano.

A reação conservadora, no entanto, persistiu, ao renegar a compensação de taxar os mais ricos, cobrando-lhes tributos e reduzindo isenções fiscais, para dividir o bolo social.

O privilégio da classe dominante foi abalado, mas continua predominante.

A luta segue com os mais ricos resistindo à justiça tributária, pregada por Lula, enquanto tenta empurrar o governo aos cortes de gastos sociais, para impedir a governabilidade, sob pena de puni-lo com a lei de responsabilidade fiscal.

Os conservadores forçam a barra para levar o governo às cordas e buscar impeachment, como fizeram para derrubar a ex-presidenta Dilma com golpe parlamentar em 2016, abrindo-se ao modelo neoliberal produtor de desigualdade social.

Ficou explícito que o X da questão nacional é a desigualdade social que o governo Lula quer combater, democraticamente, por meio de reforma tributária, como arma para melhor distribuir a riqueza no país, enquanto levanta a bandeira da soberania nacional contra o tarifaço imperialista trumpista.

A direita e a ultra direita se alinham no lado oposto, contrariando a sociedade; por isso, estão sendo derrotadas nas votações parlamentares, embora sejam maioria.

A identificação, pela opinião pública, dos mais ricos como responsáveis maiores pela desigualdade social, no episódio da PEC da Bandidagem, criou o ambiente político em que a direita se vê, agora, na retaguarda que leva à sua própria divisão, no momento de traçar sua estratégia de disputa eleitoral, com a esquerda unida em torno do presidente Lula.

Lula, ao encarnar, com nitidez, a posição dos mais pobres, na tarefa de resistir, com sua minoria parlamentar, à maioria, que insiste na prática dos abusos do poder, para fazer valer sua condição de classe dominante, ganha a frente na luta pela sucessão presidencial, conforme as pesquisas de opinião.

A direita e a ultra direita, nesse contexto no qual se perdem, estão irremediavelmente divididas, sinalizando sua previsível derrota eleitoral

ESTRESSE REACIONÁRIO

Para superar a divisão que, nesse momento, as paralisa e as faz entrar em estresse, direita e ultradireita, coordenadas pelo Centrão, precisam mudar o perfil pelo qual passaram a ser percebidas pela sociedade como principais promotoras da desigualdade social, depois da aprovação da PEC da Bandidagem.

Expostas em sua gênese social perversa, direita e ultra direita fascista, incapazes de se coordenarem para chegar a um candidato de consenso que lhes garanta vitória eleitoral em 2026, precisam mudar discurso e prática políticas.

Violariam sua própria natureza?

O neoliberalismo, principal bandeira delas, para promover o que lhes interessam e lhe dão substância, como representante da classe dominante, ou seja, a acumulação de capital à custa do empobrecimento da maioria esmagadora da população, deixou de lhe ser útil, do ponto de vista eleitoral, para garantir a conquista do poder, democraticamente, nas urnas.

Nesse momento, a expressão mais nítida dessa acumulação de riqueza, que escandaliza a sociedade, está expressa na elevada taxa de juros que a política econômica que defende produz, impedindo o crescimento econômico sustentável, com justa distribuição da renda nacional.

Contraditoriamente, os discursos de esquerda e direita se confundem nesse ponto, contribuindo para a confusão total, no cenário da política econômica neoliberal, profundamente impopular.

DOIS ADVERSÁRIOS EM CRISE

Não é à toa, portanto, que o governo Lula, que pilota essa política econômica impopular, que atende interesses da direita, embora levante a bandeira social de esquerda, precisa livrar-se dela, do seu estigma neoliberal, anti-social.

A esquerda, minoritária no parlamento, foi cooptada pela direita, para conseguir alcançar governabilidade suficiente para se manter, contraditoriamente, no poder.

Na prática, esquerda e direita, interdependentes, sob capitalismo neoliberal, dominado pela financeirização econômica especulativa, antidesenvolvimentista, estão com papel trocado.

A direita, dividida, precisa adquirir perfil oposto ao que verdadeiramente representa, repudiando sua natureza antisocial, se quiser ganhar eleição, e a esquerda, por sua vez, necessita abandonar a bandeira de direita, que vestiu para conseguir governador, pois, caso contrário, pode ser derrotada na disputa eleitoral.

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