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terça-feira, 25 março, 2025

A difícil encruzilhada de Petro e do comércio internacional de armas para a Ucrânia

© AP Photo / Fernando Vergara

Rodrigo Bernardo Ortega

A chegada de Gustavo Petro à presidência da Colômbia significou uma mudança no compasso geopolítico da nação cafeeira, pela primeira vez vemos como – às vezes de forma tímida e outras vezes de forma temperada – ele vem se distanciando de algumas posições de longa data para a nação. Petro é reconhecido na comunidade internacional pelo seu apoio inequívoco à causa palestiniana e pelos seus discursos irados a favor de uma nova ordem climática, ambas as posições contrastam com as dos Estados Unidos e dos seus aliados. Recentemente, ele chegou a manifestar a Lula o desejo de ingressar no grupo BRICS.

Até recentemente, a Colômbia era reconhecida na América Latina (juntamente com países como Paraguai e Costa Rica) por apoiar quase inteiramente o Gigante do Norte, mas agora começou a ter uma certa independência no cenário regional e global. No entanto, as relações com os Estados Unidos vivem um bom momento, depois de o chanceler Murillo (ex-embaixador nos EUA) ter aproximado o governo Petro de Biden, até então em desacordo com a Colômbia devido ao claro apoio de Duque a Trump nas eleições. . de 2020.

Como exemplo da colaboração entre os dois países, há a iniciativa “Mobilidade Segura”, que permite que migrantes de qualquer nacionalidade que pretendam chegar aos Estados Unidos iniciem o seu processo de trânsito em solo colombiano onde foram instalados centros de processamento americanos. Desta forma, entende-se que a Colômbia deseja manter a independência na política internacional sem com isso antagonizar os Estados Unidos.

Entre as posições em que Petro diverge de Biden está, claro, a Guerra na Ucrânia. Petro sempre manteve o ponto de vista de buscar a paz através de soluções negociadas, como afirmou em dois discursos perante a Assembleia Geral da ONU.

Por seu lado, sabe-se que os Estados Unidos, no seu desejo irrestrito de prolongar a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, pressionaram vários países latino-americanos a ceder armas, especialmente armas de fabrico russo, ao exército ucraniano. A razão por detrás disto é que o exército ucraniano tem utilizado historicamente este tipo de armamento, o que lhes pouparia tempo de treino no que diz respeito às armas modernas fornecidas pela NATO, uma clara vantagem competitiva numa guerra de desgaste onde cada centímetro e cada soldado contam.

Já em janeiro de 2023, durante a cimeira da CELAC, Petro revelou que foi solicitado pelos Estados Unidos para enviar helicópteros MI 17 para a frente ucraniana, nessa altura o governo colombiano não cedeu às pressões. Mas desde então novas informações se tornaram conhecidas. A primeira é que este ano foram oferecidos à Colômbia 300 milhões de dólares por estes dispositivos: novamente a resposta foi “não”. A segunda é que, devido à guerra na Ucrânia, a empresa-mãe não conseguiu realizar a manutenção adequada destes helicópteros, nem encontrar as peças sobressalentes de que necessitam; o que inutilizou a grande maioria da frota, uma vez que já ocorreram acidentes infelizes. A perspectiva agora é esta: a Colômbia tem a tentadora opção de renovar parte do seu arsenal e livrar-se do material de guerra actualmente inútil; Em troca, ele deve jogar pela janela o seu compromisso com a paz, e tudo isso em meio a um agravamento do conflito interno.

Por enquanto, Petro manteve a sua posição, no entanto, concordou em participar numa conferência de paz na Suíça entre 15 e 16 de junho de 2023, na qual ninguém menos que a Rússia estará ausente. Zelensky afirmou numa entrevista que queria abordar Petro para discutir um acordo ganha-ganha (enigmaticamente ele se refere ao fortalecimento da indústria militar e tecnológica) durante este evento e uma reunião bilateral foi confirmada no âmbito desta conferência.

Conferência de Paz na Ucrânia será realizada na Suíça

Está agora nas mãos da Petro manter um compromisso firme com a resolução pacífica do conflito Rússia-Ucrânia, e não se deixar intimidar pela pressão externa das grandes potências ou por soluções de curto prazo que possam ter o seu preço.

Referências:

Reunião Petro – Zelensky aconteceria na próxima semana na Suíça – BluRadio
Petro: Colômbia está disposta a ajudar a Ucrânia a buscar a paz, “não com armas” | Jornal Digital Nosso País (elpais.cr)
As implicações da adesão da Colômbia ao Brics, conforme solicitado pelo presidente Petro (eltiempo.com)
Murillo garantiu que a relação entre a Colômbia e os Estados Unidos atravessa um bom momento | Romper relações com Israel | O ESPECTADOR
Itamaraty garantiu que as relações bilaterais entre a Colômbia e os EUA são boas (radionacional.co)
Colômbia e Estados Unidos chegam a acordo sobre os termos da fase exploratória da iniciativa “Mobilidade Segura” | Chancelaria (cancilleria.gov.co)
Por que os países latino-americanos se recusaram a enviar armas para a Ucrânia (apesar da pressão

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