Os EUA descaradamente inventam um mentiroso combate as drogas para tentar justificar a pilhagem do vasto campo petrolífero venezuelano (Foto: PDVSA)
Wellington Calasans – Correspondente na Europa
A acusação dos Estados Unidos de que a Venezuela é um “narcoestado” serve menos como diagnóstico realista do que como pretexto geopolítico para justificar uma política externa agressiva e intervencionista.
Desde o governo Trump — e agora reativada com nova intensidade —, Washington tem usado o combate às drogas como fachada para pressionar governos que desafiam sua hegemonia na América Latina.
A concentração de 16.000 militares, navios de guerra e aviões de combate no Caribe, sob o disfarce de uma “missão antidrogas”, decorre dos interesses estratégicos dos EUA, sob a alegação da existência de uma ameaça concreta vinda de Caracas.
Afinal, como apontou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, se os EUA realmente quisessem combater o narcotráfico, deveriam começar investigando suas próprias agências, como a CIA, historicamente envolvidas em operações obscuras na região.
A política externa de Trump na Venezuela sempre foi marcada por uma retórica belicista e por ações unilaterais que desrespeitam a soberania nacional.
Sanções econômicas brutais, apoio a golpes de Estado e operações encobertas foram ferramentas recorrentes, todas justificadas com base em narrativas simplistas sobre “ditadura” e “narcoterrorismo”.
No entanto, especialistas apontam que tais medidas carecem de parâmetro coerente e visam, na verdade, controlar os vastos recursos naturais venezuelanos — especialmente o petróleo, do qual o país detém as maiores reservas do planeta.
A escalada militar recente não foge a esse padrão: é uma demonstração de força que busca intimidar não só a Venezuela, mas também potências como Rússia e China, que mantêm parcerias estratégicas com Caracas.
Enquanto acusa outros países de alimentar o tráfico, os EUA enfrentam uma crise doméstica devastadora com as drogas — particularmente os opioides. Em 2023, cerca de 109.600 pessoas morreram por overdose no país , e embora os números tenham caído em 2024, a epidemia continua fora de controle.
A origem desse desastre está menos nas fronteiras latino-americanas e mais no próprio sistema de saúde norte-americano, que durante décadas permitiu que farmacêuticas lucrassem com a prescrição massiva de analgésicos viciantes.
O fentanil, principal responsável pelas mortes atuais, não vem da Venezuela, mas é produzido no México com precursores químicos originários da China. Ou seja, a acusação contra Caracas é, no mínimo, uma distorção conveniente.
Maria Zakharova tem sido enfática ao denunciar essa hipocrisia. Em seus pronunciamentos, ela ressalta que a Rússia apoia a soberania da Venezuela e vê as sanções e ameaças militares dos EUA como instrumentos de coerção ilegítima.
Para Moscou, a narrativa do “narcoestado” é uma fabricação ideológica usada para deslegitimar governos anti-imperialistas e abrir caminho para intervenções que servem aos interesses do complexo industrial-militar e do capital financeiro ocidental.
Zakharova lembra ainda que, se Washington quisesse realmente combater as drogas, deveria olhar para suas próprias cidades — onde o fentanil e a maconha circulam livremente — e para os lobistas que ditam as políticas farmacêuticas em Washington.
Em última análise, a ofensiva contra a Venezuela expõe a contradição central da política antidrogas dos EUA: ela é seletiva, punitiva com os pobres do chamado Sul Global e complacente com as estruturas de poder que alimentam o consumo interno.
Enquanto projetos de lei como o HR2935 e o HR3082 avançam no Congresso para legalizar e regular ainda mais o acesso a substâncias psicoativas, o Pentágono mobiliza uma frota de guerra contra um país cuja suposta “ameaça” é, em grande parte, uma construção retórica.
A verdade é que, se os EUA quisessem resolver o problema das drogas, não precisariam de porta-aviões — precisariam de coragem para enfrentar suas próprias elites, suas farmacêuticas e seu sistema de saúde falido.
Até lá, acusar a Venezuela será apenas mais um capítulo da longa história de intervenções mascaradas de moralidade. Os brasileiros devem ficar atentos, pois a narrativa do “traficante vítima do usuário” e do “narcoterrorismo” são as duas pernas da mesma pinça.
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