Estava um pouco desalentada com o volume de fake news, no entanto.
Sem saber o que mentira o que verdade.
Falei sossegue a preocupação é deles continuamos na frente vamos vencer.
Minha reação não era à moda Poliana, qualquer otimismo besta.
Nada disso.
Sabia, sei, de uma luta dura.
Mas, ressaltava, até agora os números continuam os mesmos, a acreditar nas pesquisas e no sentimento popular.
Os mesmos do primeiro turno.
Seguimos na frente.
E com uma campanha intensa.
Ela se foi.
Menos pessimista.
E disposta a aproveitar cada segundo, buscar os votos dos vacilantes, daqueles assustados com tanta loucura do bolsonarismo.
Finco o pé num dizer de Romain Rolland, repetido umas tantas vezes por Antonio Gramsci.
Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade.
Partamos do pessimismo da inteligência.
Estamos redescobrindo o Brasil.
No subsolo de nossa sociedade, dormia um animal monstruoso, muito forte.
Olhava pra cima, perscrutava o ambiente, e não ousava mostrar a cara, de tão feio.
Um dia, animado com tantas faces assemelhadas irrompendo mundo afora, e em países ditos avançados, democráticos, achou por bem mostrar a cara.
Lembrei, me desculpem o abuso, novamente lembrei de Gramsci.
Lembro-me sempre dele, admirador incorrigível, por isso abuso.
O grande teórico e dirigente comunista falava dos momentos de crise.
A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo não pode nascer.
Neste interregno, dizia o intelectual italiano, surgem os monstros, ou dito como ele, “uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem”.
Apareceram os monstros, acordados pelas manifestações de 2013, das quais se aproveitaram para botar a cara, e seguir adiante.
E foi o golpe de 2016.
E foi a prisão de Lula.
E foi a eleição do atual presidente, quando chegaram ao ápice.
Medo nenhum mais.
Constrangimento, zero.
Todos os sintomas mórbidos, todos os monstros, se manifestaram.
Nus, ficaram nus, sem qualquer receio de se mostrar à luz do dia.
Eram feios.
São feios.
E violentos.
Tal a situação, tal o cenário, depois de 2016, depois de 2018, a ponto de o País acordar para o quanto a democracia era essencial, o quanto ela ia se perdendo, o centro político desaparecendo, a diversidade recusada
E chegamos a 2022 buscando unir todas as forças democráticas e progressistas de modo a tentar, nessas eleições, resgatar o País, dar-lhe novamente feições de Nação, de sociedade democrática, recuperar tantos direitos subtraídos, voltar ao diálogo suprimido, acabar com a mitologia e expansão das armas, buscar os livros, voltar à civilização.
Otimismo da vontade, utilizado por Gramsci no sentido de valorização da política.
Se é necessário o pessimismo da inteligência, para não nos iludirmos, de modo a não nos esquecermos dos sintomas mórbidos, da força do conservadorismo da sociedade brasileira, fundamental sabermos da força da política, da movimentação dos setores democráticos.
Com eles, e pensando setores democráticos de modo amplo, sem qualquer sectarismo, estamos a caminho da vitória, enfrentando o bolsonarismo, dialogando com a sociedade brasileira, promovendo amplas manifestações, colorindo de alegria e disposição de luta as ruas do País.
Sabemos estar à frente de uma eleição atípica.
Estamos inundado de fake news, como ocorreu em 2018.
Desta vez, no entanto, com as instituições mais alertas, dispostas a enfrentar o fenômeno.
E no campo democrático, mais atentos às fake news, aos algoritmos, às mentiras distribuídas aos milhões.
Temos poucas horas à nossa frente.
De Lênin, se me recordo bem, memória pode falhar, a lembrança: há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem.
Estamos vivendo um momento de aceleração do tempo.
São dias decisivos na história do País.
Disputa entre civilização e barbárie – e não há panfletarismo gratuito nisso.
Estamos sob um governo de inspiração nitidamente fascista.
Um segundo mandato entregue ao bolsonarismo implicará, pela força adquirida, um tempo de obscurantismo ainda maior.
Obscurantismo, estamos vivendo.
Mas, a hipótese de uma derrota nos levaria a uma aceleração da barbárie, a uma idade das trevas de monta, um obscurantismo ainda desconhecido, a sepultar qualquer ideia de sociedade civilizada.
Estou iniciando a leitura do livro de Victor Klemperer – “A linguagem do Terceiro Reich”, editora Contraponto, 2009.
Leitura apropriada para esses tempos.
Na apresentação, Míriam Bettina Paulina Oelsner lembra ter o nazismo se embrenhado “na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases que foram impostas pela repetição milhares de vezes, e foram aceitas inconsciente e mecanicamente”, recuperando palavras do próprio autor.
Klemperer lembra:
“As palavras fanático e fanatismo não foram criadas pelo Terceiro Reich, mas seu sentido foi adulterado; em um só dia elas eram empregadas mais do que em qualquer outra época”.
Claro, podem me dizer: os tempos são outros.
Mas, sem conhecer o passado não sabemos dos tempos atuais.
O fanatismo se apresenta aos nossos olhos cotidianamente. Embalados por algoritmos, ou por assembleias fundamentalistas baseadas num deus raivoso e vingativo, ou pelo dois juntos.
E por um quartel-general do bolsonarismo, alimentado por teóricos de outras partes do mundo, como um Steve Bannon, agora condenado a quatro meses de prisão nos EUA.
Nessa sociedade, e não é problema exclusivo do Brasil, está em causa a verdade.
Creio, sinceramente: vamos vencer.
Não por qualquer pensamento desejoso.
Mas por olhar responsavelmente o entorno, o cenário.
Vencemos o primeiro turno.
Não há sinais de mudanças de temperatura no segundo turno.
Lula, com a extraordinária liderança dele, continua a entusiasmar o povo brasileiro.
E a mostrar, pela ação, a necessidade de ampliar o leque de alianças.
A escapar de qualquer tentação sectária.
A chegada de Simone Tebet, exemplo de vocação democrática, significou notável reforço.
Alckmin já fora grande conquista.
Se devemos reforçar o Nordeste, e devemos, não podemos cair na tentação de opor uma região a outra.
Nossa proposta é unir o Brasil.
E a vitória de Lula, a partir desse amplo leque construído, significará a unidade do País.
A recuperação de direitos subtraídos.
Criação de empregos.
Combate à miséria.
Distribuição de renda.
Para isso, importante dizer, não podemos descansar um minuto até domingo.
Cada dia, cada hora, cada minuto, uma batalha.
Esforço de convencimento dos indecisos.
Diálogo para evitar o desastre, a barbárie.
Até lá, até domingo, muita militância.
Muita rua.
Muita rede.
Envolvendo todos os partidos.
E os desorganizados, como costumávamos chamar os não vinculados a partidos, a maioria.
Toda espécie de militância vale a pena, que a alma não é pequena.
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