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quinta-feira, 28 março, 2024

A Banca e as Informações Enganosas

Pedro Augusto Pinho*

Acredito que os leitores dos artigos que escrevo não tem dúvida que o grande poder mundial, desde 1990, é o sistema financeiro internacional – a banca.

Sabem, também, que foi promovendo crises que a banca derrotou o sistema industrial e se empoderou.

Podemos dividir as crises, criadas pela banca, em três grupos: o primeiro denominaria “crises para combate”, o segundo, “crises para crescimento” e o terceiro, “crises para manutenção”.

As “crises para combate” tomaram na imprensa, em geral, a denominação de “crises do petróleo”.

Foram desencadeadas a partir de 1967, tendo como pretexto a chamada Guerra dos Seis Dias. O objetivo da banca era tirar o poder do sistema industrial que, nos Estados Unidos da América (EUA) e na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), dominava o mundo desde o fim da I Grande Guerra e, especialmente, após a II Grande Guerra. A industrialização afastara o financismo mercantil que, dominando a Inglaterra, tornara-se o poder ao longo do século XIX.

A banca, herdeira deste financismo, atacando com crises no petróleo, associava o principal insumo do industrialismo às causas dos problemas vividos pela economia. Vimos que a banca, dando operacionalidade às teorias surgidas no período das guerras e capturando as academias e os meios de comunicação de massa, passa a agir, simultaneamente, nos domínios das finanças, das tecnologias e da comunicação.  Em outras palavras, controla os recursos, as operações econômicas, financeiras e o psicossocial das populações. Um ataque para o qual nem o capitalismo industrial nem o socialismo industrial tinham se precavido.

O resultado das crises para combater o industrialismo são bem conhecidos. Entre 1973 e 1981, o barril de petróleo passou de US$ 3,00 para US$ 34,00, e, após um período de relativa estabilidade, entre 1988 e 2001, cresce até US$ 126,00, em 2008.

 

Mas a partir de 1987, com as desregulações obtidas com os governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, a banca trata de promover crises que transferissem para o sistema financeiro todos os ganhos dos demais produtores de rendas: trabalho, terra, indústria, comércio, governos. São as “crises para o crescimento”.

Apenas um rápido resumo para recordarmos. Crise de 1987, “segunda-feira negra”. A Bolsa de New York despenca e os ativos são depreciados em 22,6%. Crise de 1990, da bolha imobiliária japonesa, atingindo a liquidez bancária nipônica. Crise de 1992, no Sistema Monetário Europeu que promoveu a transferência de 3,5 bilhões de libras esterlinas para banca. Crise de 1994, “El Horror de Diciembre”, no México, gerando enorme dívida daquele país com o sistema financeiro. Crise de 1997, a crise asiática ou do Sudeste Asiático, onde ativos daquela área foram transferidos para banca. Crise de 1998, na Rússia. A banca colocou um bêbado corrupto no governo da Rússia que promoveu “privatizações”, “desregulações”, transferências de bens até que a Rússia desvaloriza a moeda, “procura ganhar a confiança dos investidores” e este discurso já conhecemos. A banca colhe os frutos. Crise de 1999, posso chamar da “crise para reeleição de FHC”, resultado da estupidez do “tripé macroeconômico”, antecessor da “austeridade”. Crise de 2000, do Ponto com ou da Bolha da Internet, nos EUA. E, com a Crise de 2001, na Argentina, se encerra este segundo ciclo de crises.

Neste momento a banca já domina economia, finanças, comunicações, política, Estados Nacionais e passa a agir com gigantescas empresas, de trilhões de dólares de ativos, para o mais amplo controle das atividades mundiais. O dinheiro acima de tudo e a banca acima de todos.

Chegamos então na terceira fase de crises. Ela resulta basicamente do cassino mundial ou mercado, como preferir.

A banca vai construindo seu poder com dívidas. As dívidas privadas tem limite, as públicas muito mais flexibilidade. Trata-se, então, nesta fase das “crises para manutenção” de se apropriar de dinheiro público. Para isso é necessário ter governos favoráveis ou comprados pela banca. Os governos republicanos e democráticos, de Reagan até Obama, foram governos da banca.

Devemos ressaltar que a banca não discrimina posição política ou ideológica, republicanos ou democratas, liberais, conservadores, trabalhistas, socialistas. A banca só não gosta de nacionalistas. Trabalhou na França com governos socialistas, republicanos até colocar seu homem, saído do Banco Rothschild, na Presidência. No Chile coloca ora Michelle Bachelet, ora Sebastián Piñera. Na Argentina escolheu Mauricio Macri. Mas combate ferozmente Vladimir Putin e assim vai pelo mundo afora.

A conjugação de um Presidente fraco com uma equipe de empregados da banca no governo possibilitou a primeira crise desta fase: a do subprime, em 2008, nos EUA. A criativa transferência de fundos se deu com os denominados Quantitative Easing (QE), que foram três, com diferentes regras e controles. Fica difícil determinar quanto os contribuintes estadunidenses colocaram graciosamente na banca. Meus cálculos chegam a valores entre US$ 4,5 trilhões e US$ 6,1 trilhões.

Nem é algo tão extraordinário, quando sabemos que, em dezembro de 2018, os quatro grandes da banca: BlackRock, Vanguard, Charles Schwab e JP Morgan, tinham, respectivamente, US$ 8 trilhões, US$ 6 trilhões, US$ 4 trilhões e US$ 3 trilhões, em seus ativos.

Assim, com a “colaboração” do povo estadunidense, por seus “representantes” e membros da banca no Governo, a crise para manutenção cobriu o buraco, ao menos parcialmente, das jogadas (ou apostas, lembram do Malan?) com derivativos no mercado.

Mas em 2014, a situação novamente se agravava. Escrevi, naquele ano, que uma crise estava próxima. Só não percebi que estava chegando no Brasil, com as eleições de Dilma e do Congresso.

Raciocinemos, com olhos da banca, caro leitor. Onde, em 2014, estaria disponível uma riqueza, em torno de US$ 4 trilhões, para cobrir as especulações da banca com moedas e dívidas na Europa e com as guerras na Ásia e Oriente Médio?

Bingo. O pré-sal. E tudo que se fez desde então, até agora, como declaram o Décio Oddone, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o novel Presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, e mesmo quem nada tem a ver com petróleo petróleo: precisam ser vendidas as reservas brasileiras de óleo e gás, “o mais rapidamente possível” (Oddone).

Numa conta rápida e muitíssimo conservadora, avaliaríamos o pré-sal com reservas de 150 bilhões de barris. Já pertencem ao sistema estrangeiro, com variadas participações da banca, cerca de 50%, que com a aprovação pelo Senado da entrega da “cessão onerosa” pode se elevar a quase 80%.

Portanto, com preço de US$ 40,00 o barril, no mercado futuro, a banca, detendo 50% do pré-sal, já tirou dos brasileiros US$ 3 trilhões, valor superior ao do EQ1 em 2010 (US$ 2,1 trilhões). Está aí, oculta de todos, ignorada pelas mídias, a segunda “crise para manutenção” da banca, aplicada agora no povo brasileiro com a conivência dos seus “representantes” e com a ação inescrupulosa dos seus empregados, no aparelhado Estado.

As QEs (QE1, QE2 e QE3) duraram até 2014, a apropriação pela banca das reservas de petróleo pode se delongar até 2020, quando não mais haverá petróleo brasileiro. Talvez nem Brasil e, em consequência, nem Forças Armadas. Uma parte, mais tecnológica, preparada, intelectualizada, será demitida; irá buscar emprego no “mercado”. A restante será incorporada à segurança pública para reprimir as crianças sem escola, os brasileiros sem emprego, os velhos sem aposentadoria, as mulheres de maridos bêbados e armados.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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