– Se os planos de Trump não forem neutralizados por outros atores internacionais, nada impedirá que os EUA experimentem a mesma metodologia que hoje utilizam no Caribe em outros cantos do planeta
Atilio Boron [*]
A escalada da agressão norte-americana à Venezuela parece incontrolável, enquanto se acumulam as execuções extrajudiciais no Caribe e no Pacífico. As ameaças tornam-se cada vez mais intensas e os bloqueios navais e aéreos intensificam-se a cada hora que passa. Trata-se de medidas que violam a Carta das Nações Unidas e o Direito Internacional, mas Trump e os seus capangas parecem decididos a tudo. Resta saber, no entanto, se com uma invasão pretendem criar o seu próprio Vietname ou o seu Afeganistão; por outras palavras, se são tão estúpidos a ponto de provocar outro incêndio, mas desta vez não em terras distantes, mas no jardim da frente dos EUA.
Os governantes europeus, autoproclamados defensores dos direitos humanos, da democracia e da justiça, consentem com o seu silêncio os crimes de guerra que a Casa Branca já cometeu em relação à Venezuela. Outros governos, como o da Federação Russa e da República Popular da China, têm expressado cada vez mais fortemente a sua desaprovação da conduta de Washington e reiterado que ambos os países mantêm uma «parceria estratégica integral» com o governo bolivariano.
Mas no caótico círculo cortesão de Trump, o secretário de Estado Marco Rubio, homem de antecedentes obscuros, receptor privilegiado de fundos do lobby sionista e da indústria armamentista, inimigo jurado da Revolução Cubana e de qualquer líder ou governo progressista na região e furiosamente antichinês, pressiona sem pausa para alcançar “a paz através da força”.
Para Rubio, o ataque não deve se restringir à Venezuela, mas chegou a hora de subjugar todos os países da região. Colômbia e México estão na lista, Honduras também, assim como qualquer outro governo que não esteja disposto a reduzir ao mínimo indispensável seu contato com qualquer potência “extra-hemisférica”, como manda a nova Estratégia de Segurança Nacional num eufemismo para se referir à China, Rússia e Irão.
A maior parte do tráfego de cocaína não passa pela Venezuela.
O que está em jogo hoje na Venezuela é muito mais do que o roubo de sua imensa riqueza petrolífera. É a tentativa desesperada de reconstruir o unipolarismo norte-americano, no qual Washington se arroga o direito de ser o gendarme planetário e o único capaz de impor uma ordem mundial, diante da qual os demais países não têm outra opção a não ser obedecer. Esta é uma leitura anacrónica, absurda e profundamente errada da realidade internacional, mas é a que hoje prevalece em Washington.
Agora bem: se estes planos não forem neutralizados por outros atores no sistema internacional, nada impedirá que os EUA experimentem a mesma metodologia que hoje utilizam nas Caraíbas noutros cantos do planeta. Por exemplo, promovendo abertamente o independentismo de Taiwan e apoiando a sua eventual independência com a presença da Sétima Frota para dissuadir qualquer tentativa de Pequim de recuperar a província rebelde.
Ou bloquear ou, inclusive, tomar o Estreito de Malaca (entre a Malásia e a Indonésia), absolutamente crucial para o comércio exterior da China. Este curso de água é o de maior tráfego marítimo do mundo, por ser a rota de saída das exportações comerciais da China, bem como das importações de gás e petróleo provenientes do Golfo Pérsico e dos minerais e metais provenientes de África. Um relatório relativamente recente da UNCTAD assegurava que aproximadamente metade do comércio marítimo internacional passa anualmente pelo Estreito de Malaca.
Ambas as iniciativas, patrocinar e apoiar a independência de Taiwan ou bloquear o Estreito de Malaca, seriam golpes muito duros para a República Popular da China. É por isso que, neste tabuleiro convulso da política internacional, Pequim tem de enviar um sinal claro e rotundo exigindo o fim da agressão militar à Venezuela. E para isso é preciso muito mais do que palavras. A única opção, ou talvez a melhor sem ser a única, é imitar o que os EUA fizeram e impor um bloqueio marítimo e aéreo integral sobre Taiwan, mas sem abrir fogo ou disparar contra pequenas embarcações, como fizeram os EUA.
Porque o que está em jogo nestes dias na Venezuela é muito mais do que o seu petróleo: é a nova arquitetura do sistema internacional e as suas regras, uma das quais é que nenhum país, por mais poderoso que seja, poderá atacar outro e subjugá-lo pela força. Quem cala concorda, diz um velho ditado espanhol.
Se a China limitar o seu protesto ao plano declarativo, mais cedo ou mais tarde os EUA lançarão todo o seu enorme poderio militar para subjugar o único ator do sistema internacional que, como dizem vários documentos oficiais de Washington, «quer e pode» fundar uma nova ordem mundial. Consequentemente, a China tem de agir sem mais demora para evitar que o pesadelo hobessiano da lei do mais forte reine no sistema internacional.
O bloqueio de Taiwan é a sua única carta. Não só para defender a Venezuela, mas também para prevenir uma futura agressão por parte dos EUA. A história ensina que os impérios se tornam mais violentos e sanguinários na sua fase de declínio. Por isso, é necessário agir com a maior rapidez e colocar limites à arrogância imperial de Washington.
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