Tem sido cada vez mais frequente na narrativa hegemônica, retratar a revolução digital e a inteligência artificial como vetores incontestáveis de progresso humano. Contudo, esta perspectiva superficial não tem em conta como a implementação destas tecnologias sob a lógica neoliberal transformou seu potencial emancipatório em instrumentos de opressão.
A obsessão por eficiência desregulada e maximização de lucros, frequentemente mascarada por discursos de “inovação disruptiva”, converteu ferramentas promissoras em mecanismos de acumulação de riqueza nas mãos de poucos.
O resultado mais devastador é o desemprego tecnológico estrutural, onde a substituição acelerada de trabalhadores por algoritmos ocorre sem redes de proteção social adequadas, corroendo o tecido social e aprofundando abismos de desigualdade que ameaçam a própria coesão civilizacional.
Neste cenário distópico, a ganância corporativa surge como motor primário de uma disrupção profundamente desumana. Bilhões são investidos em inteligência artificial não para resolver problemas sociais urgentes, mas para alimentar ciclos especulativos que prometem retornos astronômicos aos acionistas.
As empresas priorizam a automação de postos de trabalho não como estratégia de desenvolvimento harmonioso, mas como tática de redução imediata de custos, gerando o paradoxo perverso da “valorização sem prosperidade”.
Esta lógica perversa despreza deliberadamente o custo humano massivo, criando uma classe crescente de trabalhadores considerados “descartáveis” e externalizando os impactos sociais negativos para a sociedade como um todo.
Contrastando com este modelo caótico, surgem experiências alternativas que demonstram caminhos diferentes para o desenvolvimento tecnológico. O caso chinês ilustra como um Estado atuante pode funcionar como planejador estratégico, integrando avanços em computação quântica e inteligência artificial a um projeto nacional de soberania tecnológica e modernização industrial.
Embora sujeito a críticas legítimas, este modelo oferece um contraponto significativo ao neoliberalismo desenfreado, mostrando que a tecnologia pode ser direcionada por objetivos de longo prazo e interesse coletivo, em vez de ser refém das flutuações imediatas do mercado e da pressão por lucros trimestrais que caracterizam outras regiões do globo.
As promessas grandiosas sobre a inteligência artificial criarem mais empregos do que destruírem revelam-se, na prática, como consolos vazios para milhões de trabalhadores cujas habilidades são tornadas obsoletas em velocidade alarmante.
Esta narrativa otimista funciona como um véu que encobre a realidade crua: a tecnologia atual está sendo implementada não para resolver problemas humanos complexos, mas para enriquecer uma elite tecnológica e financeira enquanto, como sempre, externaliza os custos sociais para a população geral.
A pergunta fundamental que se impõe é se estamos construindo um futuro inclusivo ou apenas aperfeiçoando mecanismos de exclusão digital e econômica disfarçados de progresso inevitável.
A conclusão inequívoca é que o problema fundamental não reside nas tecnologias em si, mas no sistema econômico e nos valores que as orientam. A pressa por resultados imediatos é incompatível com a harmonização entre as novas tecnologias e os seres humanos.
Sob a égide do neoliberalismo, a inteligência artificial e a computação quântica correm o risco de amplificar as piores características humanas: a avareza, a desigualdade estrutural, o pensamento de curto prazo e a desvalorização da dignidade do trabalho.
Para evitar este futuro distópico, torna-se imperativo desvincular o progresso tecnológico da obsessão pelo lucro máximo e reconectá-lo ao bem-estar coletivo. Enquanto isso, a classe política que deveria modernizar o seu discurso segue presa aos modelos obsoletos de produção e a pensadores de épocas completamente diferentes da atual.
Mudar a distopia prognosticada para um futuro não muito distante exigirá regulação corajosa, redistribuição justa dos benefícios tecnológicos e a construção de um novo contrato social para a era digital, onde a inovação sirva à humanidade e não apenas aos interesses do capital concentrado.
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