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Emiliano José

Vitoriosa, a Revolução Cubana começa a construção de um novo tempo.
Entre as tantas medidas revolucionárias, acabar com as exorbitantes tarifas de energia elétrica, da telefonia, pagas aos monopólios norte-americanos.
Investe, logo nos primeiros meses de 1959, contra o racismo, coisa pouco divulgada, não por acaso.
Tornam-se ilegais as múltiplas formas de discriminação racial.
Tudo passava a ser território dos negros. Também deles. Não se permitiria qualquer proibição de ingresso em qualquer estabelecimento, em qualquer instituição, em decorrência de ser negro.
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O Exército Rebelde se pôs a serviço dessa medida civilizatória.
Em 17 de maio, a medida mais profunda do primeiro ano da Revolução Cubana: lei da reforma agrária.
Limitava-se a propriedade individual da terra a 400 hectares.
Confiscadas vastas fazendas, muitas das quais, propriedades de ricas famílias norte-americanas ou de empresas sob controle delas, cujo domínio a partir daí passa a ser do Estado.
Pequenos produtores, arrendatários, parceiros, camponeses com precários títulos de propriedade, têm situação regularizada, e passam a poder cultivar a terra com tranquilidade.
Em torno de 100 mil famílias receberam títulos de propriedade da terra.
As forças burguesas, contrarrevolucionárias, se alvoroçaram, à beira de um ataque de nervos. Alguma ilusão tivessem, perderam-na. Entenderam: a revolução viera para mexer profundamente com as estruturas, colocar-se ao lado do povo trabalhador. Não para brincar, para medidas superficiais.

A reforma agrária fora um sinal muito nítido do caminho a ser seguido.
Ninguém imagina tranquilidade diante de uma revolução.
Na sociedade, havia forças conservadoras, detentoras de privilégios. Cuba, até ali um país marcado pela superexploração dos trabalhadores e espécie de cassino à disposição dos EUA, inclusive da máfia.
Tais forças ainda estavam dispostas a mostrar as garras.
Mostrariam.
Talvez houvesse de parte da direita cubana a intenção de participar da luta institucional, como se daquela revolução nascesse uma república burguesa.
No interior de tal república, quem sabe, pudesse disputar espaço, e não deixar prosperar as propostas revolucionárias.
Houve José Miró Cardona, primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Professor da Universidade de Havana, liberal, colocou-se contra o governo de Fulgencio Batista. Muito cedo, mostrou garras: não queria nada com a revolução.
Em seis semanas, abandonou o cargo de primeiro-ministro.
Exilou-se nos EUA, tornou-se liderança de grupos contrarrevolucionários, chefiando o chamado Conselho Revolucionárioa Cubano (CRC). Tornou-se presidente de Cuba no exílio, farsa antiga praticada pelos EUA.
Participa da articulação da invasão da Baía dos Porcos. Situou-se, pode parecer incrível, à direita do governo dos EUA, após a derrota dos norte-americanos na Baía dos Porcos.

Outro, Felipe Pazos. Nomeado presidente do Banco Nacional, tem trajetória parecida com a de Cardona. Teve alguma participação no processo revolucionário, sem abdicar da visão burguesa. Fidel Castro, em 1957, convoca uma reunião em Sierra Maestra entre o comando da Revolução e representantes capitalistas, entre eles, Pazos. Do encontro, o “Manifesto da Sierra”, de 12 de julho daquele ano, com o qual o comandante pretendia tranquilizar a todos, inclusive aos homens de negócio.
Uma serpente sempre será uma serpente, como diria Amílcar Cabral, não importanto a eventual mudança de pele.





