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sexta-feira, 14 março, 2025

Marx explica inflação do ovo: mas eleva preços pressionando inflação para garantir lucro capitalista

 Foto/arte: NYT

César Fonseca  

O desespero do Governo Lula com elevação desproporcional dos preços dos alimentos que pressionam inflação e reduz popularidade do presidente tem explicação clara em Marx,  autor de O Capital: o capitalismo padece de crônica insuficiência de consumo devido à expropriação de renda em forma de mais valia que leva os empresários a aumentar preços diante do aumento de estoques, para manter constante ou em elevação sua taxa de lucro.

Isso está claro, por exemplo, na especulação do preço dos ovos que enlouquece de raiva o presidente como acontece no seu desabafo nesta sexta feira subiram mais de 15% em janeiro e fevereiro diante da inflação anual de 5%, superior ao teto da meta, que pode ser considerada baixa em relação ao desemprego que está cadente, embora eleve o aumento da massa salarial, mas sofre com a insuficiência de consumo por conta do salário mínimo arrochado pelo teto neoliberal de gastos.

O governo tenta contornar o problema da insuficiência de renda, liberando o FGTS como garantia para empréstimo consignado, porém, não tem força, junto aos bancos, para colocar um teto na taxa de juros.

Para uma inflação mensal média de 0,5% ao mês, os bancos cobrarão 1,8% de juro no consignado.

Clara armadilha de uma agiotagem financeira contra a qual o trabalhador resiste, porque sabe que vai se encalacrar no endividamento crônico diante da insuficiência crônica de consumo imposta pelo salário baixo, arrochado pelo teto neoliberal de gastos públicos, na tarefa de perseguir déficit zero ou superávit primário.

Ao lado da crônica insuficiência de consumo provocada pela extração da mais valia que Marx destaca, tem, agora, o agravante de uma sobre mais valia em forma de jurismo militante imposto pela agiotagem bancária em cima do consignado avalizado pelo FGTS dos trabalhadores.

Diante desse somatório de insuficiência de consumo, dada pela redução do salário mínimo, mais juro alto sobre o consignado, relativamente à inflação, cresce o perigo de acelerar o endividamento dos trabalhadores, que já afeta mais de 80% da população.

O Desenrola, programa do governo para aliviar o endividamento dos assalariados dependurados no crediário agiota, surtiu baixo efeito, de modo que não permitiu aumento suficiente de consumo dos trabalhadores, para consumir a oferta de mercadorias, como é o caso do ovo, nesse momento.

Tal fato se traduz na maior oferta que a demanda reprimida pelo salário baixo – embora tenha aumentado a massa salarial – que leva os empresários a aumentar o preço para compensar a insuficiência crônica de consumo, responsável pela queda da taxa de lucro dos capitalistas.

Assim, quem está provocando pressão inflacionária é o salário baixo que reprime o consumo e gera no empresário a propensão ao aumento de preços para não reduzir sua taxa de lucro.

A sinalização dos preços em queda por conta do salário leva o empresário a concluir que não é vantajoso o investimento em ovos, se vai sobrar ovo, gerando deflação.

Se a demanda cresce, o empresário vai ao investimento; mas, se o consumo recua, ele não reduz o preço, para não tomar prejuízo no seu negócio.

MARX X SAY

O aumento da oferta não gera demanda correspondente, como teorizou o liberal Jean Baptista Say, sendo contestado por Marx, que argumentou que o que leva o empresário à produção, à maior oferta, é a expectativa de lucro.

Sem ter no horizonte o lucro, para que investir?

Se o consumo não destrói a oferta, diz o autor de O Capital, o empresário não reduz o preço; ao contrário, reduz a produção e eleva o preço, para sustentar o lucro, para não entrar em deflação.

Na prática, o empresário, diante da insuficiência de consumo dos assalariados, puxa preço para fugir da deflação.

Pressão deflacionária, pior remédio para o capital, eleva salário dos trabalhadores; mas, essa é uma vitória de Pirro, temporária, porque os empresários reduzem a produção para demanda crescer em relação à oferta, puxando os preços.

A explicação da inflação de alimentos, portanto, está em Marx, de forma clara, objetiva, didática, perfeitamente, entendida tanto pelos empresários como pelos trabalhadores.

A inflação, para o capitalista, é o melhor negócio, enquanto o pior é a deflação, a oferta maior que a demanda que joga os preços para baixo por conta do salário baixo.

Para o trabalhador, a inflação é ruim, porque reduz salário, mas a deflação é péssima, porque destrói empregos.

Tudo, para os trabalhadores, piorou com as reformas neoliberais dos governos Temer e Bolsonaro, cujas consequências se estendem no governo Lula, graças à continuidade do teto de gastos, como estratégia neoliberal, defendida pelos banqueiros, para sustentar déficit zero orçamentário ou superávit primário, alavanca dos juros altos, que eleva instabilidade econômica e, por causa disso, impopularidade do governo, em véspera de ano eleitoral.

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