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quarta-feira, 12 março, 2025

Wall Street antevê risco de crash e se apavora

César Fonseca 

O conceito histórico de excepcionalismo considerado pelo mercado sobre o poderio econômico americano está na gangorra do edifício balança mas não cai, sinalizando que Wall Street também vai aceitando a tese de que a hegemonia imperialista dos Estados Unidos chegou ao fim.

Por conta disso, a insegurança e a incerteza vão tomando conta dos agentes econômicos no ritmo da radicalização do protecionismo que nada mais nada menos significa pressão inflacionária na prática como resposta de Trump para reindustrializar o país, de forma vigorosa, para enfrentar a China, que já passou a economia americana.

A necessidade de enfrentar a inflação, que o protecionismo produz, implica em alterar a excepcionalidade da economia política americana, mantida desde o pós-guerra, em forma de garantir inflação baixa por meio de emissão de moeda para gerar superávit fiscal contra a necessidade de sustentar déficit comercial.

Essa mudança estratégica da economia política imperialista significa que o governo Trump terá que trabalhar com moeda desvalorizada para aumentar as exportações, de modo a evitar déficit comercial e desequilíbrio consequente nas contas correntes do balanço de pagamento, que produziria crash cambial.

Essa alteração da estratégia americana, caminhando para um nacionalismo imperialista, lança dúvida sobre se os exportadores para os Estados Unidos terão fôlego para trabalhar, tendo a perspectiva de que suas moedas deverão se valorizar em relação ao dólar.

Desse modo, terão dificuldades para gerar receitas de exportações aos Estados Unidos, o que lança dúvida no mercado financeiro de que o pior pode acontecer: perigo de os exportadores não terem recursos para pagar seus empréstimos aos bancos internacionais, especialmente, os americanos.

Qual seria a reação do Banco Central americano diante dessa possibilidade, pré anunciada pelos mais importantes especuladores americanos, como o ex-chefe do Pacific Investment, Mohamed El-Erian, que alerta para perigos à vista?

MUDANÇAS DE EXPECTATIVAS

Sabendo que a economia vive de expectativas, se se generalizar essa percepção, o perigo de precipitação cresce.

Em 2008, o BC aumentou a oferta monetária sem limites para salvar bancos que estavam super alavancados.

Pôde dessa forma, elevar a oferta de dólar em circulação e ampliar prazos de liquidação de dívidas, derrubando o dólar e diminuindo ritmo de crescimento da dívida, para o mercado poder respirar, exportando, em contrapartida, instabilidade para as economias financeiramente dependentes do dólar.

Contudo, as circunstâncias, na era trumpista, são diversas das que predominaram em 2008, por conta do protecionismo emergente.

Se as expectativas nesse momento são as de que o governo Trump deseja fortalecer a industrialização, importando inflação e desvalorizando relativamente o dólar, como destacam inúmeros agentes do mercado, dificilmente, o BC pode ou não mudar de direção?

Voltaria a inundar a praça de moeda para salvar bancos insolventes, se houver dificuldade de receber créditos dos que sofrerão com as práticas protecionistas?

CANADÁ, FOCO DA CRISE

Por sua vez, o aumento de tensões devido à resistência dos exportadores para os Estados Unidos de reagirem na mesma medida desvalorizando suas moedas ou sobretaxando exportações, como faz o Canadá em relação à exportação de energia para estados norte-americanos, o nível de instabilidade comercial aumenta ainda mais.

Certamente, a decisão de Trump de cobrar tarifa de importação sobre alumínio e aço canadense não apenas de 25%, mas de 50%, a partir desta quarta-feira, aumentará tensões.

Quem poderá se beneficiar dessa radicalização trumpista contra o Canadá serão os demais produtores de aço e alumínios, com destaque para o Brasil, o oitavo maior exportador desses produtos para o mercado norte-americano.

As empresas canadenses sofrerão abalos nas bolsas, mas, também, os fornecedores americanos que distribuem o produto no mercado interno sofrerão algum processo de desarticulação.

Sobretudo, as tarifas de 50% sobre aço e alumínio canadenses reduzirão as receitas das empresas que enfrentam  maiores dificuldades para liquidar empréstimos em bancos do Canadá e dos Estados Unidos.

É isso que apavora o mercado financeiro, temeroso de que os ativos bancários sofram as consequências da radicalização protecionista.

O protecionismo, nesse sentido, assemelha-se ao jogo de varetas.

Se mexe em uma, desarma outras que tendem a cair e generalizar a queda, tornando-se inevitável a caída geral.

O mercado financeiro, essencialmente, depende da saúde econômica das empresas para alavancar negócios, estando ambos em sintonia fina, para manter em pé o jogo da financeirização, que não se sustenta sem um dos pés.

O alarme de Mohamed El-Erian é o assunto do momento em Wall Street a alarmar o mundo financeiro relativamente às incertezas espalhadas pelo protecionismo trumpista.

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