Foto Agência Brasil
César Fonseca
O protecionismo trumpista é inflacionário não apenas para os Estados Unidos, mas também para o Brasil e demais países exportadores para os Estados Unidos.
A estratégia protecionista põe em marcha a dialética econômica do perde-perde.
Para Trump atingir o objetivo que almeja, de recuperar a industrialização americana de modo a fazer frente à concorrência chinesa, principalmente, terá que mudar a estratégia que os Estados Unidos adotaram até agora desde o pós-segunda guerra mundial: acumular déficit comercial para combater a inflação com superávit financeiro alcançado mediante moeda hegemônica.
Dessa forma, conquistaram o privilégio de trabalhar com juro baixo para financiar a indústria de guerra com dívida pública, estendendo a hegemonia americana ao mundo inteiro.
A desindustrialização e o crescimento da dívida pública contribuíram para reduzir a competitividade econômica americana, no processo de financeirização especulativa.
Agora, o jogo muda com Trump.
O protecionismo, além de produzir inflação, exige o oposto da realização de déficit para a necessidade de produzir superávit de modo a combater as pressões inflacionárias, como preço para alcançar a reindustrialização competitiva.
Os parceiros dos Estados Unidos que realizam superávits comerciais mediante exportações, que lhes proporcionam receitas cambiais para pagar os credores, que financiam o desenvolvimento dos países exportadores, ficam em saia justa.
Se não podem exportar, não podem, consequentemente, pagar suas dívidas contraídas com bancos.
São pressionados pelas novas circunstâncias desatadas pelo protecionismo trumpista a, também, desvalorizar suas moedas.
Se os Estados Unidos partem para a desvalorização, para serem mais competitivos, forçam os países exportadores a seguirem o mesmo caminho.
Instaura-se a lógica destrutiva da desvalorização contra desvalorização.
Quem não desvaloriza candidata-se a dar calote nos credores, enquanto, adicionalmente, importa inflação dos concorrentes que desvalorizam suas moedas para competir.
Como destaca Michael Hudson, economista e historiador marxista americano, a economia entra no circuito da destruição de capital.
MOMENTO DECISIVO
A partir desta quarta-feira, por exemplo, o Brasil passa a ter a exportação de aço e alumínio mais cara por pagar tarifa de importação adicional de 25% para entrar nos Estados Unidos.
O produto nacional, entrando mais caro nos Estados Unidos, gera lá inflação, mas viabiliza o aço americano que fica mais barato para favorecer a competitividade das siderúrgicas americanas.
Para fugir dessa perda de competitividade, a indústria extrativa brasileira tem que reduzir seu custo, desvalorizando, senão acumula estoque e enfrenta deflação e queda da taxa de lucro.
Desvalorização contra desvalorização passa a ser a lógica que o protecionismo trumpista coloca em prática, desatando guerra comercial, como arma de combate à inflação.
Toda a armação da política econômica brasileira, apoiada no tripé neoliberal – metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário –, desarticula-se, diante da pressão inflacionária exportada pelo protecionismo trumpista.
O governo Lula é forçado a sobreviver, flexibilizando metas inflacionárias, déficit fiscal e câmbio sob pressão, para evitar inflação e juros mais altos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disse semana passada que a nova política de Trump produz confusão, terá que convocar, com urgência, o Conselho Monetário Nacional, para ter outra diretriz para o combate à inflação, determinada pelas novas circunstâncias internacionais geradas pelo governo Trump.