Reprodução do Jornal da Unesp
Eduardo Vasco
Há uma pressão enorme e crescente sobre o governo brasileiro vinda dos Estados Unidos. Ela é exercida principalmente através dos agentes do imperialismo americano no Brasil, em particular os políticos da direita, os burocratas dentro do Itamaraty e os grandes meios de comunicação.
O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como cunhou o saudoso Paulo Henrique Amorim, já passou da fase de ignorar os BRICS (embora ainda insista em diminuir sua importância) para a do combate direto contra o bloco. Faz isso apresentando Rússia e China como países que tentam impor as suas “agendas”, que seriam contrárias às do Brasil, ao mesmo tempo em que manipulam a seu bel-prazer os interesses do governo brasileiro.
Folha, Estadão, Rede Globo, CNN Brasil e Jovem Pan – acompanhados de todo o cartel que são os veículos de comunicação em nosso país – pressionam para que Lula adote posturas subservientes aos interesses dos EUA. Quando logram bons resultados, elogiam as “vitórias” da diplomacia brasileira, que na verdade são derrotas para o Brasil. Essas vitórias, na verdade, são dos Estados Unidos.
A profunda e antiga campanha de desinformação e propaganda do PIG contra Venezuela e Nicarágua, bem como contra a Rússia, mostra-se, assim, de importância fundamental para os EUA ganharem terreno dentro do governo. Fortalece a quinta coluna que opera subrepticiamente (às vezes de forma mais aberta) dentro das engrenagens do Itamaraty, dos ministérios da Defesa e da Fazenda e em outros órgãos-chave. Os próprios titulares dessas três pastas já deram mostras de que não merecem confiança.
Diz-se, até mesmo, que a expansão dos BRICS é um plano de Rússia e China voltado contra o Ocidente e exclusivamente para atender às pretensões expansionistas desses dois países. Washington, obviamente, é absolutamente contra a expansão dos BRICS, pois isso significa fortalecer o bloco. Mas os EUA precisam apresentar esse interesse em sabotar o bloco como não sendo deles, ou não somente deles, mas dos países livres e democráticos. E, inclusive, de membros dos próprios BRICS. Assim, os agentes dos EUA no Brasil dizem que não é de interesse do Brasil a expansão do bloco.
O presidente Lula, por sua vez, tem tentado aplicar uma política soberana extremamente moderada. Ele sabe perfeitamente dessas pressões. Por isso tem adotado grande cautela quando precisa se opor a elas. Acha que poderá ser bem-sucedido se fizer concessões. Pensa que os Estados Unidos e seus agentes se satisfazem com algumas concessões. Mas eles não querem somente a aliança, querem os dedos, e depois as mãos e os braços.
Lula tenta se equilibrar em uma corda bamba. É um conciliador experiente. Contudo, a margem para manobras vai se estreitando à medida que a polarização “Norte-Sul” se intensifica. Ou seja, à medida que crescem as contradições entre as potências imperialistas, que buscam manter e aprofundar a exploração do resto do mundo, e as nações que tentam combater e acabar com essa exploração. Estas últimas se esforçam no sentido de se aliar para resistirem de forma unida a tamanha opressão. Os BRICS estão se tornando a materialização dessa aliança, por isso é essencial às potências imperialistas a sua contenção e enfraquecimento.
O presidente já deu declarações muito felizes e contundentes contra as pressões imperialistas. O problema é que as suas ações não têm acompanhado o seu discurso. Ele não toma ações efetivas contra essas pressões. Precisa começar por combater os agentes dos Estados Unidos no Brasil, particularmente o PIG e a quinta coluna dentro dos principais ministérios.
Esse democratismo expresso na abordagem das relações internacionais repete o famigerado republicanismo do PT quando da ofensiva golpista da década passada. Como naquela ocasião, a frouxidão é um convite para o inimigo elevar a pressão, tanto que ela aumentou de um ano para cá. Se na política exterior Lula tinha mais liberdade do que na política interna, livre de amarras do Congresso, o imperialismo americano aumentou a campanha através da imprensa e da sua quinta coluna no Itamaraty, infestado de neoliberais e bolsonaristas.
Sem rompimento com as crenças ingênuas e ilusórias nos acordos (ora espúrios) com esses setores antinacionais será difícil adotar qualquer medida prática para tirar o discurso do papel. Esse discurso será apenas demagogia e declaração de boas intenções, enquanto na prática aperta as correntes em que o Brasil está preso.
A presidência brasileira dos BRICS em 2025 será fortemente sabotada pelos agentes dos EUA no Brasil. O PIG e a quinta coluna já começaram o trabalho. Washington vai investir muito dinheiro em seus agentes e irá redobrar a pressão sobre o Brasil, porque vê nas vacilações de Lula e do governo uma fragilidade a ser explorada para enfraquecer os BRICS.
Lula tem que parar de pisar em ovos e começar a esmagá-los com força, porque dentro deles há filhotes de serpentes esperando o momento certo para sair e engoli-lo.