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quarta-feira, 15 janeiro, 2025

A propensão para a crueldade está enraizada na sociedade israelense?

As imagens de destruição e morte deixadas pelo genocídio na Palestina revelam quão profundamente enraizada está a propensão para a crueldade e o racismo na sociedade sionista.

Os actos de brutalidade contra a população palestiniana tornaram-se uma norma social e política, sendo abraçados, aceites e repetidamente ratificados pelos cidadãos de Israel através das suas instituições.

Este impulso para a crueldade manifesta-se de várias formas e é evidente na insistência em que qualquer desafio à ocupação sionista, por menor que seja, seja enfrentado com formas de punição colectiva destinadas a infligir o máximo sofrimento às famílias e localidades dos perpetradores. como aponta o antropólogo Charles Hirschkind.

Esta crueldade, que se estende a todo o corpo político sionista, revela que a ocupação colonial e os benefícios dela derivados são algo de que todos os cidadãos israelitas, em maior ou menor grau, beneficiam. Por outras palavras, todos os cidadãos, sem distinção entre supostos conservadores e progressistas, obtêm benefícios da ocupação colonial e da brutalidade para com os palestinianos.

Os efeitos imediatos da brutalidade sionista são evidentes e incluem a naturalização do extermínio, da expropriação, da dominação, da exploração, da morte prematura e de condições piores que a morte, como a tortura. É importante notar que todas estas ações ocorrem constantemente e não em resposta a conflitos específicos. Ou seja, fazem parte do sistema racial através do qual o sionismo tenta manter a sua visão do mundo. Esta perspectiva, para o palestino colonizado, traduz-se em viver na expectativa da morte ou do que foi definido como condições piores que a morte. Os colonizados vivem na expectativa de difamação, humilhação e assassinato.

Como explica o filósofo porto-riquenho Nelson Maldonado-Torres, a vida é vivida como se estivesse numa câmara de tortura, dando à existência uma sensação avassaladora de ser pior que a morte. Da mesma forma, ser colonizado implica viver na expectativa constante da possibilidade de que o próprio corpo seja violado por outro, pelo colonizador.

Hoje, na Entidade Sionista, a corrente da opinião pública maioritária parece convergir para um apelo à erradicação da “ameaça palestina”. Há apenas alguns meses, algumas vozes liberais tentavam explicar como os “israelenses progressistas” saíam às ruas para protestar contra uma reforma judicial que “colocava em risco a democracia no país”. No entanto, como vemos hoje em dia, estes sionistas preferiram continuar a viver na fantasia de uma “democracia” em perigo sem ter de pensar nos palestinianos e, ainda mais importante, sem questionar os seus próprios privilégios. Esses privilégios são mantidos através da opressão de outros.

Este movimento de protesto não pode ser interpretado como uma luta pela preservação da “democracia”, mas sim como uma luta para continuar a usufruir de direitos que se baseiam na privação e na opressão do povo palestiniano. É evidente, dada a realidade do genocídio palestiniano, que a diferença entre sionistas progressistas e conservadores é irrelevante para os palestinianos e o seu sofrimento.

Nem Netanyahu nem os chamados “sionistas progressistas” podem oferecer uma resposta justa e não racista aos palestinianos oprimidos. O sionismo, pela sua natureza, comporta-se como uma máquina colonial e racial, semeando a morte e a destruição entre aqueles que identifica como “outros”. Não há outra possibilidade política para o sionismo; nenhuma solução “progressista” pode eliminar a ligação intrínseca do sionismo ao colonialismo e a supressão física daqueles que ele construiu como não-humanos.

Portanto, a política tanto de Netanyahu como dos chamados “sionistas progressistas” é a mesma em relação aos palestinianos: “exterminar os selvagens”. As declarações dos políticos sionistas hoje em dia deixam claro que a categoria de “selvagem” é intercambiável com outros termos desumanizantes como “subumanos”, “baratas”, “uma manifestação cancerosa”, “parasitas” ou “animais humanos”.

Toda esta exposição discursiva, da qual toda a sociedade sionista participa e beneficia, em diversos graus, baseia-se na eliminação física e ideológica de qualquer vestígio palestiniano.

A “eliminação do selvagem” é, em última análise, o que une a sociedade sionista contra os colonizados, especialmente contra aqueles colonizados que se recusam a aceitar o status quo da morte e destruição colonial.

Esta violência colonial mostra mais uma vez, de forma brutalmente clara, as ligações do sionismo com o projecto ocidental. As raízes ideológicas do projecto sionista estão profundamente enraizadas na violência inerente ao projecto ocidental.

É contra este sistema de morte e destruição que a Resistência Palestiniana se rebela. É um movimento para revalorizar a vida palestiniana, uma procura política para se apresentarem como humanos face a um sistema político que os exclui repetidamente para a zona do não-ser.

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