Em 11 de setembro de 2001, milhões de pessoas, em todo mundo, assistiram assombradas a colisão de dois aviões com edifícios do World Trade Center, as Torres Gêmeas, em Manhattan, Nova Iorque. Os aviões foram identificados como pertencendo à United Airlines e American Airlines.
Em detalhada análise, o jornalista Thierry Meyssan desvenda a farsa desta suposta ação terrorista em “11 septembre 2001. L’effroyable imposture” (Editions Carnot, 2002), traduzido para Usina do Livro (SP, 2003), por Khristine Renata da Cruz Guimarães, “11 de setembro: uma terrível farsa”. Na conclusão, escreve Meyssan: “os elementos de que dispomos agora nos fazem pensar que os atentados de 11 de setembro foram comandados do interior do aparelho de Estado americano”.
Seriam alucinados funcionários públicos, civis e militares, como Hollywood fabrica os sonhos e doutrinações para estadunidenses e todo mundo? Ou alguma estratégia de ação política, de interesse de parcela ou deste Estado norte-americano?
A resposta está numa ciência pouco conhecida e ainda menos estudada, a cratologia, o estudo do poder.
George Burdeau (1905-1988), cientista político francês e professor de direito público, tem em suas obras, sendo a mais célebre o “Traité de Science Politique” cuja terceira edição, revista e aumentada, foi publicada, em 1980, pela Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence (Paris), reflexões sobre o Poder, como fundamento da Ciência do Direito. Vamos nos valer desta contribuição, transcrevendo em tradução livre, trechos do “Tratado”.
Diz Burdeau que “os homens sempre procuraram uma organização onde poder e força estivessem contidos no direito”, quando pensamos que é o poder que define o direito e este valida a força, seja qual for sua natureza.
O gênio Darcy Ribeiro, em sua esquemática evolução da sociedade humana (DR, “Configurações Histórico-Culturais dos Povos Americanos”, Global Editora, SP, 2016), demonstra que a organização das horda nômades surge de uma liderança, que formará as tribos e aldeias. Podemos concluir que a política é a origem do poder, mas este poder usará a política para definir sua organização.
Voltemos a Burdeau, “a vida política, por inteiro, se articula em torno de um complexo de elementos materiais e espirituais, que é o Poder Político”. Temos, então, que a materialidade que emana da liderança, como retratada por Darcy Ribeiro, recebe o reforço de imaterial força, que conduz, de algum modo, os homens.
O filme sobre Genghis Kahn, de Sergey Bodrov (2009), apresenta uma sequência significativa desta força imaterial. Mostra os mongóis como temerosos das tempestades, Genghis Kahn havia superado esta superstição e impõe a seus guerreiros lutarem durante a tempestade que ocorre no início da batalha contra as forças mais numerosas do opositor e, assim, o vence. Temos aí, um caso da imaterialidade ou elemento espiritual, como em Burdeau.
Quando um grupamento humano se une pela força imaterial, que será a fonte do poder, este será exercido pelo que assume ser o representante desta força, deste Deus, entre os homens. Em articulação com outra força, o elemento material, como em tribos primitivas (caciques e pajés) e reis da Idade Média, ou isoladamente, no Estado do Vaticano.
Nos estados modernos, o poder se faz presente por representantes. É parte da farsa democrática, como Meyssan aponta em sua análise. Este poder é quase sempre o econômico, daí termos plutocracias, até mesmo, como nos Estados Unidos da América (EUA), definidas numa Constituição que, por isso mesmo, sobrevive com pouco mais de duas dezenas de emendas há mais de duzentos anos.
Mas dentro do poder econômico existem disputas como os financistas, os industrialistas, os produtores agrários, minerais e prestadores de serviços. A inteligência dos “pais fundadores” estadunidenses foi garantir que não saísse do poder econômico, porém sem especificar qual.
O que víamos no início deste século foi uma transformação no poder, da área produtiva para área rentista dentro do modelo capitalista. E o poder ficou ainda mais distante e protegido do povo como nunca antes na história.
Podemos arriscar que os gestores de ativos são a parte mais visível do poder atual, e que este tem controle quase absoluto da comunicação, especializada e de massa.
Como se situa o 11 de setembro neste ambiente?
O sistema financeiro retomou o poder com as desregulações da década de 1980, e consolidou num decálogo, o Consenso de Washington (novembro de 1989), os princípios que todos países deveriam adotar. E durante todo restante do século promoveu crises para transferir recursos e poder (privatizações) para as finanças. Esta ação fez com que o poder financeiro se dispersasse entre as antigas realezas europeias, os ricos empresários e as rentáveis fontes marginais das drogas, contrabandos e ilícitos de toda ordem.
Os EUA atuavam e atuam com a guerra, por ser a maior potência bélica do planeta, e viram, nas fontes marginais de riqueza, uma ameaça ao poder e, ainda pior, no próprio território estadunidense. Precisavam produzir a situação de pânico, ameaça à integridade de cada um e à existência da sociedade democrática, como se entendia, e confirmada por centenas de milhões de pessoas em todos países, por toda Terra.
A Guerra ao Terror já estava planejada e logo partiu contra o Afeganistão. O presidente George W. Bush não era, provavelmente, a parcela do Estado envolvida no 11 de setembro. Tanto que, em suas primeiras manifestações, tratava da “Cruzada contra o Terror” e contra o “Eixo do Mal”, expressões mais de apelo conservador religioso do que belicista.
Em nossa avaliação, se havia alguém da cúpula do Estado envolvida deve ter sido Richard (Dick) Cheney. Tanto que foi um dos proponentes da Operação “Liberdade do Iraque”, aprovou a tortura como “técnica avançada de interrogatório”, chamou a discutível interferência russa na eleição presidencial nos EUA, em 2016, como “ato de guerra”.
E, havia um subproduto nada desdenhável nesta ênfase da guerra, a apropriação de reservas de petróleo em territórios árabes e/ou islâmicos. Lembrar que, como Secretário de Defesa, Cheney supervisionou a operação “Tempestade no Deserto”, envolvendo o Iraque e o Kuwait.
Assim a farsa do 11 de setembro fica desnudada, apenas mais um modo de apropriação de riqueza, que a banca, o sistema financeiro apátrida, vem promovendo desde a última década do século passado, tanto no Brasil como em boa parte do mundo euro-estadunidense e suas colônias, que caíram no conto da democracia, do neoliberalismo, da globalização, das igrejas neopentecostais e torcem pela Ucrânia (infeliz agente da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN) na guerra estúpida, como todas as guerras, que obriga a Federação Russa empreender na defesa de seu território.
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