Foto: Bernardino Avi
Helena Iono – Direto de Buenos Aires
Antes de tudo, vamos aos últimos fatos que precedem o cenário explosivo na Província (Estado) de Jujuy, no norte argentino. Nos últimos 15 dias, iniciaram-se manifestações massivas de professores e funcionários municipais, reivindicando aumento de salário (dos menores do país). O governador atual, Gerardo Morales (UCR – União Cívica Radical), mal reeleito recentemente, acionou uma Convenção constituinte para impor uma reforma constitucional (provincial), alterando a Constituição Nacional, pondo fim a artigos que asseguram os direitos à manifestação e ao protesto social, violando as leis do Direito Internacional, além de interferir no direito à propriedade da terra ancestral e o acesso aos recursos naturais dos povos originários. Assim, as manifestações ampliaram o leque das reivindicações e o volume dos participantes.
Os povos originários humildes, camponeses, pequenos comerciantes e ambulantes, desceram das montanhas e das suas comunidades, uniram-se aos trabalhadores da saúde, e movimentos sociais, apoiando a luta dos professores, contra a reforma constitucional para defender direitos democráticos e humanos conquistados no fim da ditadura, o direito à terra e a melhores condições de vida. Foram dias de manifestações gigantescas que encontraram como primeira resposta do governo de Moráles, em Purmamarca, uma repressão massiva no sábado passado deixando cerca de 27 presos (mulheres, dirigentes políticos, jornalistas, turistas), várias vítimas de violência, dos quais, dois perderam um olho, como nos dias nefastos da repressão do ex-presidente, Piñera, no Chile. Simbólico e cruel: cegar para quê? Para não ver o crime dos opressores e a injustiça?
Mas, o protesto social não parou, ampliou-se no dia 20 de junho, rumo a San Salvador de Jujuy, com mais de 22 cortes de estrada organizados (com liberações alternadas ao trânsito). Apesar de dúbias promessas do governador a mudar dois artigos relativos aos povos originários, alegando haver consultado 70 comunidades (quando o total são 400), a tal reforma não lhes garante a titularidade das terras ancestrais, ameaça o despejo e não elimina a criminalização do direito à manifestação popular. Em pleno feriado nacional, antecipando o horário pré-estabelecido, aprovou-se a Reforma Constitucional, anunciada em apenas 29 dias, sem consulta popular, votada a portas fechadas, na Assembleia provincial, pela maioria dos constituintes afins a Morales, com exceção da esquerda, e apoio da direita peronista do Partido Justicialista.
Foto- Mariana Maman