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sábado, 16 novembro, 2024

Estudo da Rand Corporation apela a mudança de regime em Moscou

Bruce K. Gagnon [*]

Imagine como Moscou se terá sentido ao ler pela primeira vez este estudo da Rand Corporation. Quando examinamos os acontecimentos atuais, podemos notar a ligação direta com os pontos do estudo listados abaixo. Quer se trate da expansão militar EUA-OTAN até às fronteiras russas ou dos esforços de Washington para matar o gasoduto Nordstream 2 da Rússia para a Alemanha – é evidente que existe um método por detrás da loucura EUA-OTAN. Se estivesse sentado no lugar da Rússia, como reagiria a estas propostas abaixo – muitas das quais foram ou estão agora a ser implementadas?

OS CONSELHOS DA RAND:

  • Apesar destas vulnerabilidades e ansiedades, a Rússia continua a ser um país poderoso que ainda consegue ser um competidor dos EUA em domínios chave. Reconhecendo que algum nível de competição com a Rússia é inevitável, os investigadores RAND conduziram uma avaliação qualitativa de “opções que impõem custos” que poderiam desequilibrar e sobrecarregar (overextended) excessivamente a Rússia. Tais opções de imposição de custos poderiam colocar novos fardos à Rússia, de preferência mais pesados do que os que seriam impostos aos Estados Unidos pela prossecução dessas opções.
  • Aumentar a capacidade da Europa de importar gás de outros fornecedores que não a Rússia poderia tensionar economicamente a Rússia e proteger a Europa contra uma coerção energética russa. A Europa avança lentamente nesta direção, construindo instalações de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL).
  • Encorajar a emigração da Rússia de mão-de-obra qualificada e de jovens bem educados tem poucos custos ou riscos e poderia ajudar os Estados Unidos e outros países receptores e prejudicar a Rússia, mas quaisquer efeitos – tanto positivos para os países receptores como negativos para a Rússia – seriam difíceis de notar, exceto durante um período muito longo. Esta opção tem também uma baixa probabilidade de tensionar a Rússia.
  • A concessão de ajuda letal à Ucrânia exploraria o maior ponto de vulnerabilidade externa da Rússia. Mas qualquer aumento no armamento militar dos EUA e no aconselhamento à Ucrânia teria de ser cuidadosamente calibrado para aumentar os custos para a Rússia manter os seus compromissos atuais sem provocar um conflito muito mais vasto no qual a Rússia, por razões de proximidade, teria vantagens significativas.
  • A deterioração da imagem da Rússia no estrangeiro concentrar-se-ia na diminuição da posição e influência da Rússia, diminuindo assim as pretensões do regime de restituir a Rússia à sua antiga glória.
  • Eventos militares dos EUA na Europa.
  • Reposicionar bombardeiros dentro de uma gama de alvos estratégicos russos chave tem uma elevada probabilidade de sucesso e certamente chamaria a atenção de Moscou e aumentaria as ansiedades russas; os custos e riscos desta opção são baixos desde que os bombardeiros estejam baseados fora do alcance da maioria dos mísseis de cruzeiro de teatro e de terra da Rússia.
  • A instalação de armas nucleares tácticas adicionais em locais na Europa e na Ásia poderia aumentar a ansiedade da Rússia o suficiente para aumentar significativamente os investimentos nas suas defesas aéreas.
  • Há também formas de conseguir que a Rússia se estenda em competição estratégica. Em termos de benefícios, tais desenvolvimentos explorariam o medo demonstrado por Moscou das capacidades e doutrinas da potência aérea dos EUA. O desenvolvimento de novos bombardeiros de baixa observação de longo alcance, ou simplesmente a adição significativa de tipos já disponíveis ou programados (B-2s e B-21s) seria preocupante para Moscou , tal como o desenvolvimento de aviões de ataque autónomos ou pilotados à distância e a sua produção em grande número.
  • O aumento da postura e presença da força naval dos EUA e aliados nas áreas operacionais da Rússia poderia forçar a Rússia a aumentar os seus investimentos navais, desviando investimentos de áreas potencialmente mais perigosas.
  • Agressão ao Donbass.
  • O aumento dos esforços de I&D naval concentrar-se-ia no desenvolvimento de novas armas que permitissem aos submarinos dos EUA ameaçar um conjunto mais vasto de alvos ou aumentar a sua capacidade de ameaçar os submarinos de mísseis balísticos nucleares russos (SSBN), o que poderia impor custos de guerra antissubmarino à Rússia.
  • O controle da acumulação [bélica] no Mar Negro implicaria a instalação reforçada de anti-acessos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a negação de área sobre o Mar Negro – talvez sob a forma de mísseis anti-navio de longo alcance, baseados em terra – para aumentar os custos de defesa das bases russas na Crimeia e reduzir o benefício para a Rússia de ter tomado esta área.
  • Um aumento geral das capacidades das forças terrestres da OTAN Europa – incluindo a eliminação das lacunas de prontidão dos membros europeus da OTAN e o aumento do número de forças dos EUA estacionadas em locais tradicionais na Europa Ocidental – teria riscos limitados.
  • Investimentos incrementais em novas tecnologias para conter as defesas aéreas russas e aumentar o poder de fogo de longo alcance dos EUA poderiam melhorar significativamente a defesa e a dissuasão, ao mesmo tempo que obrigariam ao aumento do investimento russo em contra-medidas.

Vídeo: O embaixador de Obama na Ucrânia fez uma viagem à base de treino EUA-NATO na Ucrânia ocidental (onde predominam os nazis). As Forças Especiais dos EUA são rotacionadas para a base a partir de Ft. Carson, Colorado, a fim de treinar o Exército do regime de Kiev. Muitos dos nazis foram trazidos para esta “nova unidade militar”. Mais de 27 milhões de pessoas na antiga União Soviética morreram durante a invasão de Hitler durante a II Guerra Mundial. Imagine como os russos hoje se sentem quando vêem os EUA a armar, treinar e dirigir forças nazis para atacar os cidadãos russos-étnicos que vivem na região de Donbass na Ucrânia, mesmo ao lado da fronteira russa.

  • Mesmo que o Exército [dos EUA] não estivesse diretamente envolvido em tensionar a Rússia, desempenharia um papel fundamental na mitigação de um possível revés. Todas as opções para tensionar a Rússia implicam algum risco. Em consequência, o reforço da postura de dissuasão dos EUA na Europa e o aumento das capacidades militares estado-unidenses (por exemplo, um Javelin melhorado ou sistemas de proteção cativa para veículos do Exército) poderá ter de andar de mãos dadas com qualquer movimento para tensionar a Rússia, como meio de proteção contra a possibilidade de as tensões com a Rússia escalarem até ao conflito.
  • As opções mais promissoras para “tensionar a Rússia” são aquelas que abordam diretamente as suas vulnerabilidades, ansiedades, e pontos fortes, explorando áreas de fraqueza enquanto minam as atuais vantagens da Rússia. A este respeito, a maior vulnerabilidade da Rússia, em qualquer competição com os Estados Unidos, é a sua economia, a qual é comparativamente pequena e altamente dependente das exportações de energia.
  • A maior parte das opções discutidas, incluindo aquelas listadas aqui, são de certo modo escalatórias, e muito provavelmente provocariam alguma contra escalada russa. Assim, para além dos riscos específicos associados a cada opção, existe um risco adicional associado a uma competição geralmente intensificada com um adversário com armas nucleares a considerar. Isto significa que cada opção deve ser deliberadamente planeada e cuidadosamente calibrada para alcançar o efeito desejado. Finalmente, embora a Rússia suporte o custo desta competição acrescida menos facilmente do que os Estados Unidos, ambos os lados terão de desviar recursos nacionais de outros propósitos.

13/fevereiro/2022

[*] Coordenador do Global Network Against Weapons and Nuclear Power in Space

O original encontra-se em space4peace.blogspot.com/2022/02/rand-corporation-study-calls-for-regime.html

Este artigo encontra-se em resistir.info

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