Créditos da foto: Ministerio del Interior
Uma multidão de argentinos lotou a Praça de Maio para despedir-se da presidenta Cristina Fernández Kirchner, que à meia-noite de quarta-feira (9) terminou sua gestão executiva depois de oito anos divididos em dois mandatos.
Sozinha sobre um simples palanque em frente à Casa Rosada, parada de costas para o Palácio Presidencial e diante do gigantesco público, pronunciou o último discurso de sua Presidência.
“Queridos compatriotas, quero dizer-lhes que eu também os escutei, os escuto e os vou escutar sempre”, afirmou perante mais de 700 mil pessoas que a acompanharam na Praça de Maio.
Depois de agradecer pelo apoio, Cristina expressou: “A maior coisa que dei ao povo é o empoderamento popular”.
Em suas palavras, enviou uma mensagem ao novo governo de Maurício Macri, um representante da direita portenha. “Espero uma Argentina sem censuras, nem repressão, uma Argentina mais livre que nunca”, expressou.
“Para industrializar um país precisa-se do investimento social e do apoio da classe operária trabalhadora”, disse Fernández, depois de referir-se a uma das ações amparadas por seu Governo para consolidar a economia do país.
Nesse sentido, assegurou que nenhum outro Governo da Argentina tinha se preocupado tanto com a saúde, educação, avanço tecnológico, igualdade e inclusão social do que as administrações dirigidas pelo falecido presidente Néstor Kirchner e por ela.
Sua última gestão na Casa Rosada colocou uma escultura em homenagem a Kirchner na Galeria dos Bustos. O presidente da Bolívia, Evo Morales, esteve ali para acompanhar o tributo.
Em breves palavras nessa atividade, Cristina Fernández declarou que, apesar de Néstor ter assumido o Governo (em 2003) com a menor quantidade de votos de toda a história, “construiu uma nova Argentina a partir de suas convicções, coragem, decisão e visão estratégica”.
Terminam 12 anos de um projeto popular nacional que lançou o país a patamares superiores, ainda que ressentidos opositores queiram negar, ocultar ou desacreditar isso.
Hoje a Argentina tem maior prestígio internacional, possui uma indústria mais sólida, direitos civis e humanos consolidados, substanciais avanços em múltiplas frentes, exemplares programas de saúde como o de vacinação nacional e avanços tecnológicos em campos como o nuclear e satelital.
O país chega hoje, no entanto, dividido à mudança de mandato. Por Macri votaram 51 por cento do eleitorado; enquanto 49 por cento votaram no candidato da Frente para a Vitória, Daniel Scioli, em 22 de novembro.
A direita chega assim ao poder pela primeira vez na Argentina pelo voto nas urnas e não pelo reinar das armas nos sangrentos golpes militares.
Macri tem contra si um grande desafio, em particular governar um povo que se acostumou nos últimos tempos a fazer valer seus direitos e liberdades democráticas.
A divisão expressada no voto teve muito a ver com a intensa campanha midiática nos últimos quatro anos, em especial nos dois mais recentes, destinada a induzir ao ódio, rejeição e até desprezo pelo projeto popular e sua líder Cristina Kirchner. E foi efetiva na maioria da população.
No entanto, hoje, 18 dias após as eleições, alguns argentinos que votaram em Macri, já admitem que provavelmente cometeram um erro.
Fonte: Prensa Latina