18.5 C
Brasília
quinta-feira, 6 fevereiro, 2025

Lula seguirá prisioneiro do semipresidencialismo, o poder real de fato

 Foto Agência Senado

César Fonseca

2025 deverá repetir 2024 quanto à afirmação do Congresso como palco do semipresidencialismo, inconstitucional, que se impôs ao presidencialismo constitucional.

Poder de fato x Poder de direito.

A Constituição será a grande derrotada, mais uma vez, como vem acontecendo desde o golpe neoliberal parlamentar e jurídico de 2016 que derrubou a presidenta Dilma por impeachment sem razões reais para caracterizá-lo.

E o presidente Lula terá que continuar suando a camisa para sustentar sua governabilidade abastardada pelo neoparlamentarismo, dominado por maioria conservadora congressual, amplamente vencedora, em 2024, das eleições municipais.

O novo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre(UB-AP), arregaçou as mangas para a briga que se desenha: quer supremacia para emendas parlamentares, freadas pelo Supremo Tribunal Federal por atentar contra regras constitucionais.

São com elas que o semipresidencialismo inconstitucional exercitará seu poder sobre o presidencialismo, subjugando-o, graças à maioria de direita e ultradireita que o estará apoiando.

Essa maioria já se movimentou, para pressionar Alcolumbre a defender, no seu discurso de posse, o que considerou necessidade de pacificação política.

Traduzindo em miúdos, isso quer dizer que o bolsonarismo, tanto no Senado, como na Câmara, força a barra em favor da anistia para o ex-presidente Bolsonaro, pupilo do presidente Trump, que o quer candidato, novamente, em 2026.

O titular da Casa Branca quer a dobradinha Bolsonaro(Brasil)-Miley(Argentina), para continuar esmagando a democracia na América Latina, com o porrete da Doutrina Monroe.

O apoio do titular da Casa Branca apressa ou não decisão do judiciário em mandar prender o líder dos bolsonaristas?

O Procurador Geral, pelo que se ouve, está com seu relatório pronto para solicitar ao STF abertura do inquérito contra Bolsonaro.

O próprio Bolsonaro diz que já escuta a batida da PF na sua porta para levá-lo ao xadrez.

Essa é a avaliação técnica.

Mas, e a avaliação política?

O estrondo político que representará a prisão do ex-presidente favorece ou não sua candidatura remota, a depender de pressões da direita e ultradireita interna e internacional, especialmente, da Casa Branca?

O fato é que o apelo de Alcolumbre, em seu discurso, pela pacificação política tem destino claro: a anistia para Bolsonaro.

Não terá destino certo a indicação do senador Bolsonaro na CCJ, no Senado, onde, provavelmente, o pedido de anistia será encaminhado pelos bolsonaristas para ser encaminhado ao plenário em forma de pedido de anistia?

LULA DEPENDERÁ DO SUCESSO NA ECONOMIA

As circunstâncias políticas, por sua vez, irão evoluir no ritmo do sucesso ou insucesso da política econômica do presidente Lula.

No comando de um ajuste econômico neoliberal, cercado pelos especuladores da Faria Lima, que pressiona o BC a trabalhar para eles, o titular do Planalto, em sua primeira entrevista do ano, disse que 2025 é o ano da colheita: aumento da oferta do emprego, combate à inflação, queda dos juros, alavancagem de investimentos etc.

Se tudo correr positivamente a comunicação do governo vai deitar e rolar.

Porém, se isso não acontecer, a oposição vai cair de pau.

Os parlamentares oposicionistas, independente disso, querem a garantia de alocação das suas milionárias emendas parlamentares, para faturarem o triunfo sobre elas junto às suas bases.

É o que lhes interessa, como deixou claro o ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL), que, antes de desocupar o cargo, aproveitou para criticar o presidente Lula.

Demarcou ou não seu campo de luta, de oposição a Lula, ou pode mudar de posição, se o presidente o convocar para o Ministério, em reforma que se cogita à vista?

O substituto de Lira, deputado Hugo Motta, estará ou não comprometido com os mesmos objetivos do antecessor, que são aqueles com os quais Alcolumbre prioriza, ou abrirá flexibilizações nas negociações com o Planalto?

A sucessão presidencial é o horizonte de todos.

Lula é o candidato da situação, simplesmente, porque não há outro que se habilite para substituí-lo na disputa, com chances.

Já a oposição, igualmente, não sabe quem lançará, enquanto persistir o impasse quanto ao futuro de Bolsonaro, se a cadeia ou se a candidatura, a partir de uma anistia, decidida pela maioria que dispõe de ampla maioria no parlamento, para concretizar essa possibilidade.

DISPUTA EM CENA

As candidaturas da oposição já se apresentam, como a do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, enquanto a do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, ainda, se mostra como uma sombra, realmente, assustadora, por representar a mistura de violência e entreguismo do patrimônio nacional, de forma acelerada.

O fato é que ambos não têm autonomia própria e representam, por isso mesmo, risco aos quais eles lançam suas pretensões, por serem marinheiros de primeira viagem ao Planalto, em 2026.

Somam ou dividem suas bases de direita e ultradireita, sendo que ambos precisarão do apoio amplo, especialmente, do agronegócio, base de sustentação atual da economia, que, por sua vez, depende das ações políticas de Lula.

A esquerda liberal petista espera ataques externos, por parte de Trump, e internos, por parte dos bolsonaristas, mas qualquer agressão maior a Lula pode ser estopim que venha favorecer a reeleição lulista.

Afinal, se Lula se lançar, não terá opositor ao seu nome das suas bases, compostas pela frente que formou para ganhar em 2022, enquanto o mesmo não acontece com os adversários, que estão, por ora, totalmente divididos e desalinhados na disputa.

A esquerda radical, dentro do PT, por sua vez, alimenta expectativa de que qualquer ataque mais forte ao presidente se transforme em triunfo, especialmente, de vir do novo presidente americano, o que contribuiria para jogar Lula nos braços da China e o levaria a um discurso mais forte contra o imperialismo americano, especialmente, se Trump decidir radicalizar contra os BRICS, como promete.

Como o Brasil estará na presidência dos BRICS, em 2025, será inevitável o confronto político entre Brasil x Estados Unidos, produzindo consequências globais, no campo político e econômico, especialmente, na América Latina, com reflexos internos decisivos.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS